Aracruz Celulose não é mais certificada da Forest Council
- Detalhes
- Categoria: Noticias
A viagem da liderança Tupinikim Paulo de Oliveira e do cacique Guarani, Werá Kwaray à Europa, já começa a dar resultados no Brasil. Depois de deporem no Tribunal Permanente dos Povos, na Áustria, e se encontrarem com representantes da Forest Stewardship Conuncil (FSC), a Aracruz Celulose solicitou o cancelamento da certificação das florestas de sua Unidade Guaíba (UG), no Rio Grande do Sul, ao dar entrada em sua revalidação.
O certificado deveria expirar em 2006, mas ao pedir a renovação do selo naquele
estado, a Aracruz Celulose tomou conhecimento de preocupações por parte de
entidades ligadas ao FSC, devido à disputa de terras que integram a Unidade
Barra do Riacho, com comunidades indígenas do Espírito Santo.
A informação, que também está no site da transnacional, é da liderança Tupinikim
Paulo de Oliveira, que considera o cancelamento da empresa como um
reconhecimento da certificadora sobre o uso das terras indígenas no Estado.
"A Aracruz se antecipou porque o próprio FSC acabaria cassando esse certificado.
Eles deram o anel para não perderem os dedos. Agora as empresas lá fora sabem
como a Aracruz age, ela não vai conseguir enganar todo mundo sempre",
ressaltou.
O site da Aracruz Celulose informa que a transnacional considera as
manifestações por algumas partes interessadas ao FSC e que pelo fato do
processo de solução da disputa pelas terras no Espírito Santo ainda estar em
andamento, decidiu voluntariamente solicitar o cancelamento dessa certificação.
Os índios avaliam que a reação do FSC é um reflexo dos depoimentos dados pelos
índios a compradoras de celulose da transnacional e no próprio Tribunal.
Segundo os índios, lá foram relatados os maus tratos, o uso ilegal de terras
indígenas pela empresa, a ação violenta da Polícia Federal com uso de
dependências e funcionários da empresa para destruir as aldeias de Córrego
D'Ouro e Olho D'Água, que estão na área indígena que ainda está em poder da
empresa.
"Se ela abriu mão não foi à toa, com certeza é um reflexo da nossa ida à Europa,
onde não tivemos papas nas línguas. Lá contamos tudo o que a empresa faz aqui",
disse o líder indígena.
Na ocasião, os índios se encontraram com o diretor executivo do Conselho de
Manejo Florestal FSC, Heiko Liedeker. Ele ouviu declarações dos índios que
descreveram como a Aracruz, na década de 70, derrubou a mata atlântica e depois
a queimou levando ao desaparecimento de animais e alimentos na região.
Os índios explicaram também que a Fundação Nacional do Índio (Funai) havia
redigido uma série de relatórios (o mais recente publicado no começo deste
ano), que reconheciam os direitos dos povos indígenas às suas terras no
Espírito Santo, explicando assim a autodemarcação em maio de 2005.
Paulo Tupinikim descreveu ainda a forma com que a polícia tinha quebrado seu
braço durante o despejo em janeiro de 2006, e como foi preso na Casa de
Hóspedes da Aracruz Celulose.
Na ocasião, Liedeker lembrou que a Aracruz apenas tinha certificado por uma
unidade no Rio Grande do Sul e não havia nenhuma certificação sobre suas
plantações do Espírito Santo.
As plantações da transnacional no Estado estão em terras que pertencem aos povos
indígenas Tupinikim e Guarani. Estas plantações secam córregos e cursos de água.
De acordo com as regras do FSC, para ser elegível para um certificado do FSC, as
companhias devem "demonstrar um compromisso no longo prazo com os Princípios e
Critérios do FSC'. Isso inclui reconhecer e respeitar os "direitos legais e
consuetudinários dos povos indígenas para possuir, usar e manejar suas terras,
territórios e recursos". Desde que começou a operar no Espírito Santo em finais
da década de 60, a Aracruz viola esse princípio.
Por Século Diário. Vitória, ES. 08/06/2006 11/06/2006 às 18:33
Fonte: Centro de Mídia Independente