Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

 

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Alagoas, em parceria com a Paróquia Nossa Senhora Mãe do Povo, realizou, nos últimos dias 12 e 13 de novembro, a 29ª Romaria da Terra e das Águas, com o tema Terra Mãe. Mais de mil romeiros e romeiras estiveram presentes celebrando a fé e a Terra, a nossa casa comum. Confira abaixo o texto de um dos educadores da CPT, João Paulo Medeiros, sobre a Romaria.

Quem é esse povo que marcha na escuridão?

A lua cheia ilumina o canavial. Os pés em marcha que batem o chão suspendem o silêncio da madrugada. Já são duas da manhã do dia 13 de novembro, e centenas de trabalhadores caminham naquela 29ª Romaria da Terra e das Águas do Estado de Alagoas. Os/as romeiros ocupam as veredas do latifúndio, estreitas veias por onde escoam toneladas de cana e seu doce bem amargo.

Andar pela Zona da Mata no Nordeste é fazer um retorno imagético ao século XVII, os imensos canaviais e os boias-frias que o povoam com seus facões em trabalho ritmado nos transportam ao Brasil colônia, um passado de opressão que ainda se faz presente. Alagoas, em especial, vive um regime semi-feudal. A sua economia gira em torno da cana-de-açúcar - 90% da produção agrícola 2010/IBGE. É o estado com a maior concentração fundiária do país (GINI 0,871), considerado o mais violento, além de ser o segundo mais pobre, perdendo apenas para o Maranhão. Há um histórico cruel: multidão de gente sem terra, os povos desterritorializados, ameaças, mortes, expulsões, violências, trabalho escravo.

É esperançoso que mesmo em momentos de incerteza e dor o povo continue em luta. Crise política, ética, desmonte do Estado. Ao que parece, uma nova sociedade só poderá vir dos de baixo, da periferia, em marcha. A história se faz em travessia - e muitas vezes na escuridão. Foi em Alagoas que um dia surgiu o Quilombo dos Palmares e seus milhares de guerreiros e guerreiras. Como disse certa vez o Subcomandante Marcos, “a liberdade é como a manhã: alguns a esperam dormindo, porém alguns acordam e caminham na noite para alcança-la.

Para os romeiros e romeiras de um novo mundo, talvez, a escuridão não represente o medo, mas o mistério, o silêncio da escuta. Ou até mesmo o momento que antecede ao clarão do dia, e clareou. São cinco da manhã quando começam a chegar no Assentamento Jubileu, ponto de chegada da romaria. Já faz quase cinco horas desde que saímos da Igreja nossa senhora Mãe de Deus, na cidade de São Miguel dos Milagres.

Que esse povo que marcha em meio a escuridão nos anime na caminhada, um “povo que fez seu Palmares, que ainda fará Palmares de novo 
-Palmares, Palmares, Palmares do Povo”



* João Paulo Medeiros é educador popular na Comissão Pastoral da Terra/PE e militante do MIRE (mística e revolução)

 

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