Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Somos sete mil jovens de todos os estados brasileiros reunidos em nosso 3º Acampamento Nacional. Somos juventude da classe trabalhadora. Somos do campo e da cidade. Somos jovens das periferias, somos estudantes das escolas e das universidades, somos trabalhadoras e trabalhadores e nos reconhecemos na pele explorada do nosso povo. Somos mulheres e homens, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, indígenas, quilombolas, negras e negros e carregamos na nossa história a marca da exploração e da opressão. Somos a juventude herdeira da luta do povo brasileiro e afirmamos nosso compromisso com a construção do Projeto Popular para o Brasil. Somos a juventude solidária com a luta dos povos por todo o mundo. Somos a juventude que não baixa a cabeça para ninguém e que luta incansavelmente contra mais um golpe na nossa história. Somos a juventude que encontra na sua rebeldia a força do nosso povo.

 

Em nossos quatro anos de história ousamos lutar de todas as maneiras possíveis e por todos os cantos do país contra aqueles que violentam e exploram o povo. Ousamos lutar escrachando os torturadores da Ditadura. Ousamos lutar devolvendo para a Rede Globo a merda que ela nos joga todos os dias. Ousamos lutar por outra forma de fazer política na construção do plebiscito por uma Constituinte do Sistema Político. Ousamos lutar quando escrachamos os golpistas e levantamos a bandeira do Fora Temer! Ousamos lutar quando pedimos a prisão de Eduardo Cunha.

Mas, especialmente, ousamos lutar quando construímos um movimento nacional enraizado nos mais diversos territórios e nos propusemos a defender um projeto de vida para a juventude brasileira. Nosso 3º Acampamento Nacional é fruto de intensa construção coletiva, que acontece cotidianamente em nossos encontros de células, em nossas atividades de formação e nos incansáveis momentos de luta que canaliza a rebeldia da juventude para a conquista do poder pelo povo. Acreditamos que o povo deve estar no poder, pois é o povo que produz, com seu suor, toda a riqueza de nossa nação e deve decidir com soberania sobre os rumos do país. Isso só será possível quando destruirmos o sistema capitalista e a sua face mais dura, o imperialismo

Há pouco mais de uma semana se consumou um golpe parlamentar que retirou do governo federal a presidenta Dilma Rousseff, eleita de forma soberana por mais de 54 milhões de brasileiros. Um golpe contra a democracia e o povo, articulado pelo imperialismo estadunidense, pelas forças neoliberais, por setores do judiciário, pelo grande empresariado nacional e que tem a Rede Globo como principal porta voz.

Aqueles que exploram o povo usam o golpe para tentar restaurar o neoliberalismo no país, num movimento que se repete por toda América Latina. Querem aumentar seus lucros, retirando direitos da classe trabalhadora, privatizando e terceirizando tudo que for possível. Destruindo o meio ambiente e a soberania nacional, criminalizam todos que se levantam contra eles e disseminam morte e violência contra o povo. Para eles a nossa vida não tem valor, como não tem valor a democracia. O golpe rasgou a Constituição de 1988.

A juventude brasileira experimentou, nos últimos 14 anos, diversas conquistas sociais que possibilitaram o sonho, a esperança e o desejo de mais mudança. Somos uma geração de jovens que aprendeu a não baixar a cabeça para as injustiças e a ter orgulho de ser quem é, orgulho de vir de onde veio. Acreditar no potencial transformador da juventude é acreditar na força do povo do qual somos parte. Defender este povo é seguir em luta e não aceitar o golpe e os retrocessos.

A política não pode ser a arte do possível, reproduzindo privilégios e desigualdades, pautada em indivíduos e não em coletivos. Reinventar a política é fazer o extraordinário cotidiano, compartilhando sonhos e coletivamente os tornando possíveis. Temos o desafio de construir um novo ciclo na esquerda brasileira que supere a conciliação de classes e coloque o projeto popular na ordem do dia.

Sabemos que isso só será possível com muita unidade entre todos que lutam e resistem, porque o que nos separa é muito menor do que o que nos une. Assim, somos construtores da Frente Brasil Popular, um espaço de articulação da luta contra o golpe.

Temos consciência da nossa grande responsabilidade. Estamos vivendo momentos decisivos da nossa história e nos colocamos ativamente na construção e disputa dos rumos de nosso país. Queremos construir junto a toda juventude brasileira um novo ciclo de lutas para enfrentar as forças neoliberais. Nossa ousadia e nossa criatividade são motores para nossa ação. Não nos deixaremos esmagar e não baixaremos a cabeça. Seguiremos lutando pela democracia popular: o povo no poder.

Coletivamente, nos comprometemos:

- Com a construção cotidiana do Levante Popular da Juventude como um movimento popular de massas nacional e que contenha toda a diversidade do povo brasileiro. Nos desafiamos a organizar cada vez mais jovens para a construção de um projeto de país, melhorando sempre nossa capacidade de atuar. Intensificando o trabalho de base, a formação política e a divisão de tarefas, voltadas para a luta.

- Com a construção de um Programa Popular para a Juventude, que organize os dilemas que enfrentamos em nossas vidas, apontando caminhos coletivos para superá-los. Construir esse programa é entender com profundidade os problemas que vivemos e articular as diferentes violências que nos atingem. Esse programa deve ser como uma arma nas mãos da juventude para construção de força social para transformar nosso país.

- Com a construção da unidade das forças populares e o enraizamento da Frente Brasil Popular em todos os estados, como um importante espaço de reorganização da esquerda brasileira. Apenas a unidade entre milhões de brasileiros será capaz de construir um projeto popular para o Brasil.

- Em lutar com todas nossas forças contra a retirada de direitos. Queremos mais educação, mais cultura, mais saúde e mais trabalho digno para nosso povo, e sabemos que isso deverá ser arrancado por nós em luta, estreitando laços com a classe trabalhadora organizada, contribuindo na organização popular, num processo que culmine na construção da Greve Geral no Brasil.

- Com a luta pela democracia no Brasil, denunciando o golpe e seus artífices, defendendo a soberania popular, reivindicando eleições diretas para reestabelecer a democracia. Sobretudo sabemos que a realização uma Constituinte Ampla, Geral e Soberana é o caminho para avançar na democratização da sociedade e do Estado brasileiro, assegurando as transformações estruturais que nosso povo tanto precisa.

Seguimos o caminho dos povos de todo mundo que lutam por libertação. Não temos tempo para ter medo, e nos fazemos movimento em coletivo. Nossa rebeldia é construída pela indignação frente a tudo que oprime e silencia. Nossa rebeldia é construída com nosso canto, com nossas cores e com nossa alegria.


Nossa rebeldia é o povo no poder!

3º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, 8 de setembro de 2016, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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