Começou nesta segunda-feira (21), no Centro de Treinamento Educacional (CTI), em Luziânia, Goiás, o 2° Encontro de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (Enera). Até a próxima sexta-feira (25), o evento reunirá cerca de 1500 educadoras e educadores de todo o país para debater o atual momento da educação pública brasileira.
A mesa de abertura contou com a participação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, o secretário nacional de Juventude, Gabriel Medina, e a presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Maria Lúcia Falcón.
Outras autoridades como a embaixadora da Venezuela no Brasil, Maria Urdaneta, e o conselheiro político da embaixada de Cuba no Brasil, Rafael Hidalgo, também estiveram presentes.
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Passados 18 anos da primeira edição que aconteceu em 1997, o 2° Enera se consolida como um espaço de articulação entre os trabalhadores da educação na disputa de um projeto de educação que garanta a formação dos sujeitos nas diferentes dimensões humanas, numa perspectiva de libertação e transformação.
Para Edgar Kolling, da coordenação nacional do setor de Educação do MST, vivemos num período de crise em que o capital precisa pensar novas formas de se reproduzir, e uma destas formas é o avanço cada vez maior sobre a educação.
“Elegemos um programa de governo, e na prática estamos vivenciando outro; a luta de classes se acirrou. O atual ajuste financeiro diminuiu ainda mais os recursos para educação, para a saúde, para o transporte. Em suma, diminuiu ainda mais a qualidade de vida do povo brasileiro. Esses mesmos ajustes, por outro lado, não diminuíram o custo para os capitalistas que dominam o projeto financeiro. Infelizmente, aqui no Brasil, é sempre o trabalhador quem sangra”, ressaltou Edgar.
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Já o Ministro do MDA, Patrus Ananias, reiterou a importância de se pensar na educação do campo de forma a atender as suas demandas e particularidades.
“Encontros como esse são fundamentais para pensarmos a educação brasileira e a função da terra. O Enera se transformou num espaço solidário, de cooperativismo e de construção de uma sociedade nova, livre do egocentrismo. O conhecimento compartilhado é um caminho fundamental para que tenhamos pessoas cada vez mais autônomas, conscientes e emancipadas, que sejam talhadas nas conquistas sociais e coletivas”, salientou.
Ananias também reafirmou o compromisso assumido pela presidente Dilma Rousseff de assentar, até o final de seu mandato, as 170 mil famílias que hoje vivem debaixo da lona preta em todo o país.
“Mantemos o compromisso de até o final do governo Dilma tirar debaixo da lona todas as famílias que hoje lutam por terra no Brasil. Essa é uma de nossas prioridades”, afirmou o Ministro.
Já ministro da educação, Renato Janine, criticou o fechamento massivo das escolas no campo, e se comprometeu a criar acordos e portarias que fortaleçam a lógica educacional do campo.
“Não podemos admitir que esse número de escolas sejam fechadas sem que existam estudos preliminares que indiquem o impacto que isso causa nas comunidades do campo. Comprometo-me a criar grupos de estudo e apoio para que essa lógica seja quebrada”, afirmou.
João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, ressaltou a ofensiva do capital sobre a educação.
“O Estado brasileiro fez uma opção pelo modelo empresarial de educação. A lógica que opera hoje na educação é a lógica do custo benefício e da produtividade”, afirmou.
Ainda para Stedile, o Enera faz parte de uma construção coletiva de libertação do povo que cada vez mais está submetida a uma lógica mercantilizada ditada por grandes grupos financeiros.
“Só o conhecimento liberta derradeiramente as pessoas, o povo tem que controlar o seu território e sua educação. Dentro disso, estão a Reforma Agrária e a educação no campo que não é tema somente dos camponeses e, sim, de todo o povo”, disse.
Perspectivas
O 1° Enera se constituiu num espaço de apresentação pública das experiências formativas e educativas do MST, e também um espaço de reivindicação e luta pelo acesso ao direito de estudar no campo em condições dignas. Também trabalhou uma proposta educacional que considerasse a especificidade, diversidade e a perspectiva de projeto defendido por estes sujeitos.
Passado quase 20 anos desta primeira experiência, os desafios continuam neste 2° Enera, mas num contexto ainda mais complexo, de avanço e hegemonia do agronegócio, disputando os territórios materiais e imateriais com os sujeitos que vivem e reproduzem a vida no campo.
O segundo encontro está colocado neste contexto de avanço da disputa do capital também pela educação pública do nosso país.
Trata-se também de um momento de acirramento da luta de classes, em que o grande desafio é construir unidade em torno de uma educação pública e popular, e de um projeto de país que supere o atual estágio de desigualdade.