“Igreja e mineração – em defesa da vida e dos territórios” é o título do livro lançado nesta segunda-feira, 17, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Rede Latino-Americana Iglesias y Minería. A publicação aborda, a partir de artigos e testemunhos, a realidade de comunidades, pastorais, dioceses e movimentos sociais que atuam na defesa da vida e do território frente os efeitos da mineração.
(Fonte: CNBB)
Dois eventos marcaram o lançamento do livro. Em Manaus (AM), durante reunião do Comitê Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), que compõe a rede Iglesias y Minería, o arcebispo de Huancayo, no Peru, e presidente do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), dom Pedro Barreto Jimeno, apresentou a publicação. Em Brasília, o texto foi divulgado pelo bispo de Ipameri (GO) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB, dom Guilherme Werlang.
Mobilização
O livro “Igreja e Mineração – em defesa da vida e dos territórios” é fruto de uma trajetória de mobilizações, inclusive de encontros promovido pela Rede Iglesias y Minería com participação da CNBB. O último, realizado em Brasília, no mês de dezembro de 2014, reafirmou o acompanhamento dos impactos da atividade mineradora “de forma fiel ao Evangelho e articulada com ‘os povos de nossa América Latina que se sentem ameaçados e condenados à destruição de seus meios de vida e à negação de um futuro possível, em aberta contradição e tensão deste projeto de vida proclamado pela visão cristã deste mundo’”. O evento teve a participação de representantes de 13 países e do Conselho Latino-americano de Igrejas (Clai).
Outra atividade que envolve a mobilização aconteceu em julho deste ano, quando o Pontifício Conselho de Justiça e Paz do Vaticano recebeu as comunidades atingidas pela mineração. A partir da reflexão do tema “Unidos a Deus escutamos um grito”, representantes de 18 países de quatro continentes expressaram a preocupação a respeito da estratégia de aproximação das grandes corporações mineiras nos territórios.
Na ocasião, o papa Francisco afirmou que o setor da mineração é “chamado a fazer uma mudança radical de paradigma para melhorar a situação em muitos países”. O bispo de Roma acentuou que os governos, empresários, investidores, trabalhadores podem contribuir para esta transformação. “Todas essas pessoas são chamadas a adotar um comportamento inspirado no fato de que nós formamos uma única família humana, ‘que tudo está inter-relacionado, e que o genuíno cuidado de nossa própria vida e de nossa relação com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros’”, disse Francisco recordando a encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum.
O debate acerca da temática, que culminou na publicação, é articulado por meio da rede Iglesias y Minería, com comunidades de base comprometidas na defesa de territórios; pastores e bispos empenhados nas causas de justiça, paz e integridade da criação na América Latina; e teólogos e biblistas que oferecem elementos para a reflexão e a mística da rede.
O livro
O texto, publicado pelas Edições CNBB, contém experiências a partir da realidade brasileira. Ele aponta experiências de resistência, articulação e busca de soluções para a sociedade, visando a justiça, a inclusão e a sustentabilidade.
Um dos organizadores da publicação, o padre Dário Bossi, missionário comboniano que atua em Açailândia (MA) e compõe grupos ligados às causas ambientais, como a Rede Iglesias y Minería, cita exemplos de histórias apresentadas ao leitor. “Narra a resistência das comunidades do Ceará frente à mineração de urânio; a organização das comunidades da Bahia, através da CPT, ameaçadas pela mineração e fosfato; a espiritualidade e a utopia da comunidade de Piquiá de Baixo, no Maranhão, buscando vida frente à poluição siderúrgica; a situação dos povos indígenas no confronto com os interesses das grandes mineradoras; as questões urbanas e a situação dos acampamentos no sul fluminense, frente à poluição da mineração”, enumera.
O livro ainda traz uma contextualização socioeconômica da mineração e reflexões bíblico-teológicas e pastorais.
Manaus
No contexto das atividades do Comitê Executivo da Repam, reunido em Manaus até o dia 22 deste mês, dom Pedro Barreto, afirma que a atividade mineradora deve ter “respeito irrestrito às comunidades indígenas e, sobretudo, à dignidade da pessoa humana e igualmente o cuidado do ambiente natural”.
A encíclica do papa Francisco é considerada pelo bispo “estremecedora”. O texto da Laudato Si’ e a articulação da Repam, podem, segundo dom Barreto, ajudar a “responder ao desafio de uma mineração irresponsável e de um extrativismo irracional”.
Sobre a realidade das comunidades, o bispo revela os testemunhos de comunidades que ocupam territórios há gerações e, de repente, se veem forçadas a migrarem a lugares que geram ruptura cultural. “Isso a Igreja não pode aceitar!”, enfatiza.
Dom Pedro Barreto também saudou a Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB pela iniciativa da publicação, considerada uma “prova muito significativa para chegar às populações afetadas pela mineração irresponsável”.
Ele considera a publicação um avanço eclesial para uma “resposta global a um problema global, em um sistema que privilegia o lucro em detrimento da dignidade da pessoa humana”. “Neste sentido a Igreja tem uma resposta muito precisa e teremos que unir esforço por meio da Repam”, concluiu.