Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

As ruas do Centro do Recife foram ocupadas ontem (20) por trabalhadores e trabalhadoras rurais, das três regiões do estado, durante a realização do 5º Grito da Terra Pernambuco. Os mais de seis mil participantes saíram em caminhada da sede da Fetape, em direção ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo. O objetivo era ouvir as respostas do Estado para a pauta entregue desde o dia 27 de abril. A recepção fria, com policiamento e grades de ferro em frente ao prédio e a ausência do governador Paulo Câmara, que estava em uma reunião em Brasília, juntamente com outros gestores do Nordeste, mostraram a pouca atenção dispensada pela atual gestão às reivindicações do campo.

Uma comissão formada por dirigentes da Fetape e representantes da ASA Pernambuco, MST, CPT, CUT Pernambuco e CTB foi recebida pelo chefe da Casa Civil, Antônio Figueira e pelos secretários da Agricultura e Reforma Agrária (SARA), Nilton Mota, da Agricultura Familiar, José Cláudio da Silva, da Defesa Social, Alessandro Carvalho, e da Saúde, José Hiran Costa Júnior. Na oportunidade, eles entregaram um documento contendo respostas à pauta (ver ao final da matéria).

A curto prazo, o governo garantiu 20 ônibus para que a delegação de Pernambuco possa participar da Marcha das Margaridas, que acontece em Brasília, em agosto deste ano. “Além disso, existe o indicativo de um plano de segurança para o campo, que a nossa proposta é que seja o Pacto pela Vida Rural; além da abertura de diálogo sobre as mudanças do Chapéu de Palha e da construção conjunta dos Planos de Reestruturação Socioprodutiva da Zona da Mata e de Convivência com o Semiárido. A gente espera que isso se traduza em ações concretas”, avaliou o presidente da Fetape, Doriel Barros.

Ele afirmou, ainda, que, caso o estado não implemente tudo o que assumiu, não haverá cerimônia, por parte do Movimento Sindical Rural, em colocar para os trabalhadores que o governo falhou no compromisso com eles. “Mas, a princípio, saímos animados, tanto com a participação da nossa gente nessa mobilização, como também com os indicativos apontados pelo Governo do Estado. Agora, é cobrar e verificar se avançaremos nas políticas, tanto para o Semiárido quanto para a Zona da Mata”, concluiu Doriel.


O secretário Nilton Mota parabenizou o conteúdo da pauta. “Construída com qualidade, o documento dialoga justamente com o que a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do estado vem desenhando; como também com as políticas públicas que ocorrem em parceria com o Governo Federal. Pernambuco, na verdade, está construindo e vivenciando um momento de aperfeiçoamento dos programas que foram implementados e nada mais justo que a gente possa ter a participação dos movimentos sociais nessa construção. Que neste ano de 2015, a gente possa fazer esses avanços”.

Na caminhada do 5º Grito da Terra Pernambuco, os trabalhadores e trabalhadoras foram divididos por alas, envolvendo os símbolos do trabalho no campo, uma homenagem ao deputado Manoel Santos (que faleceu no mês de abril), e o fortalecimento da Marcha das Margaridas, da terceira idade e da juventude rural. Panfletos com as principais reivindicações das populações do meio rural, além de mudas e sementes crioulas foram distribuídos durante o percurso, contando com uma boa receptividade dos transeuntes, motoristas e de quem estava passando nos ônibus. Num momento da caminhada, em plena av. Conde da Boa Vista, foi lido um Manifesto, em defesa da democracia e da reforma política, entre outras pautas, que foi aprovado pelos milhares de agricultores e assalariados rurais presentes.

 

Todos/as na luta

“A gente veio mostrar que nós, assalariados rurais e agricultores familiares, também precisamos estar unidos. Nós não podemos arcar com as consequências pelas medidas que estão sendo tomadas pelo Congresso Brasileiro. A estrutura do nosso país depende do povo do campo. Então, não podemos ficar alheios a isso. Temos que gritar e mostrar que defendemos o nosso país, as nossas tradições e as nossas raízes, que estão firmadas no campo”, avaliou a diretora de Política Salarial do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais de Petrolina, localizada no Sertão, Simone Paim.

Para a jovem diretora de política Agrícola e Agrária e coordenadora da Juventude Rural do Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais do município de Saloá, localizado no Agreste, Maria Roseane Ferreira dos Santos, o momento do Grito da Terra é de reivindicar direitos. “Exigimos respostas para tudo o que a gente apresentou na nossa pauta. Queremos melhorias para nós, jovens do campo, pois é lá, onde queremos permanecer”.

“O governo promete, mas, infelizmente, não cumpre. Mais uma vez, estamos aqui, para ver se a gente conquista os nossos direitos, principalmente, os trabalhadores do campo, que são muito sofridos e não têm a assistência que devem ter; o salário digno que devem ter. Isso tudo é de competência dos governos”, avaliou o agricultor Manoel Domingos da Silva, 62 anos, do município de Escada, na Zona da Mata.

O 5º Grito da Terra Pernambuco na opinião dos parceiros
“A pauta do Movimento Sindical Rural de Pernambuco para o Semiárido é também a pauta da Articulação do Semiárido, porque reivindica o direito das mulheres trabalhadoras rurais, o direito à terra, ao crédito, às sementes crioulas; um Plano de Convivência com o Semiárido para o Estado de Pernambuco. Então, nessa perspectiva, estamos juntos nessa que é uma luta de todos e todas que atuam e vivem no campo” – Alexandre Pires, coordenador da Articulação Semiárido/PE (Asa Pernambuco).

“É imprescindível os trabalhadores se unirem e se organizarem para mostrar a força que têm. Sobretudo diante de uma situação política e econômica tão difícil. Do governo não podemos esperar nada, mas do povo se espera tudo. Como? Se unindo, se organizando, na partilha, na solidariedade, nos Sindicatos, na Associação, na Cooperativa, nas feiras, fortalecendo a reforma agrária e agricultura família.” – padre Thiago Torbhy, representante da Comissão Pastoral da Terra.

“É a primeira vez que nós estamos no Grito da Terra Pernambuco juntos. A ideia é ir construindo uma unidade de todas as organizações que fazem o dia a dia da luta pela reforma agrária e da luta camponesa. Vamos ter uma unidade na ação, mas vamos ter também uma unidade no processo de reivindicação e de negociação. Isso demonstra um estágio mais avançado da luta do povo do campo. Nós passamos por vários momentos, mas só a união daqueles que lutam é capaz de reverter este momento difícil pelo qual o povo do campo está passando.” - Jaime Amorim, coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),

“Esse Grito teve uma unidade muito importante do conjunto da classe trabalhadora, das organizações que atuam no campo em defesa dos agricultores familiares, dos trabalhadores assalariados. Essa unidade das organizações permite uma maior força e intervenção. Estamos nas ruas para reivindicar uma pauta que atenda às demandas desse conjunto dos trabalhadores e que, há anos, vem sendo negociada. É preciso que haja celeridade por parte do Governo do Estado, no sentido das respostas.” – Carlos Veras - presidente da Central Única dos Trabalhadores.

“A CTB não pode estar de fora de um ato onde os Sindicatos se organizam, onde os trabalhadores estão organizados. Precisamos estar junto aos trabalhadores para defender seus interesses.” - José Rodrigues da Silva, presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB).

Fonte: site Fetape.

 

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