Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Foi realizado neste último fim de semana o I Encontro de comunidades Tradicionais do município de Itacuruba, localizado no sertão pernambucano. Estiveram presentes cerca de 40 pessoa das comunidades quilombolas Negros do Gilú e Poço dos Cavalos e o povo indígena Pankará, além de representantes de organizações sociais como a CPT e o CIMI. As comunidades decidiram se organizar para enfrentar de forma unificada os impactos sofridos por projetos de desenvolvimento implementados pelo Estado Brasileiro na região. As famílias reivindicam principalmente a garantia da demarcação dos seus território. As comunidades foram atingidas pela construção da barragem de Itaparica na década de 80, o que obrigou a refundação da cidade em outro lugar da caatinga. Além disso, as famílias também  são diretamente atingidas com o conjunto de impactos sofridos no Rio São Francisco, incluindo a transposição do Velho Chico.

 

As principais pautas apresentadas pela comunidade são: a luta pela reforma agrária; a demarcação das terras tradicionais; e a posição veemente contra grandes empreendimentos que possam afetar as comunidades da região. De acordo com o CIMI, os traumas das remoções motivadas pela Barragem de Itaparica ainda são latentes, tanto que em tempos de mais seca, quando a cidade em ruínas emerge na água rasa, muitos ex-moradores e moradoras cogitam voltar para esta Atlântida inundada, mas não esquecida.

 

(Fonte: CPT, com informações do CIMI)

 

Veja abaixo, na íntegra, a carta final do Encontro:

1º ENCONTRO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DE ITACURUBA: INDÍGENAS E QUILOMBOLAS 

Nós, comunidade quilombola Negros do Gilú, comunidade quilombola Poço dos Cavalos e o povo indígena Pankará, reunidos na Aldeia Pankará Serrote dos Campos, em Itacuruba, Pernambuco, constatamos: Que nossas comunidades vêm sofrendo violações de direitos dos mais diversos tipos, ao longo de nossa história, resultado da ganância das empresas e pela inoperância do Estado brasileiro. Foi assim com a construção da Barragem de Itaparica, quando perdemos parte dos nossos territórios, e está sendo com a lentidão da FUNAI e do INCRA, que além de tudo fica jogando povo contra povo para justificar sua lentidão. Atualmente estamos nos sentindo ameaçados com possibilidade de construção de uma usina nuclear em nosso Município que vai impossibilitar mais uma vez nosso direito territorial. 

Reafirmamos a necessidade de demarcar e defender os nossos territórios como forma de garantir as culturas e as vidas das comunidades tradicionais indígenas e quilombola, como também a realização da Reforma Agrária. Sem nossos territórios, perdemos nossa cultura, nossa história e nosso direito de ser indígena e quilombola! Para o Estado brasileiro garantir os direitos das comunidades quilombolas e dos povos indígenas, e em especial no município de Itacuruba – PE, tem que primeiro demarcar nossos territórios, conforme está garantido na Constituição Federal de 1988 e na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

 Assumimos o fortalecimento da organização das nossas comunidades e a luta conjunta pela demarcação e garantia dos territórios tradicionais das comunidades indígenas e quilombola. Assumimos o compromisso com cada parente de caminharmos de forma conjunta, organizados e unidos por um projeto de vida que garanta a vida digna, o cuidado com a Mãe Natureza, o respeito aos saberes dos mais velhos e à nossa história neste país. Queremos nos juntar ao Papa Francisco quando afirmou, no encontro Mundial dos Movimentos Populares, que “Nenhum sem teto sem casa, nenhum camponês sem-terra, nenhum trabalhador sem direitos”, completando que, NENHUMA COMUNIDADE TRADICIONAL SEM TERRITÓRIO!!!

 

Itacuruba, 8 de novembro de 2014.

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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