Durante toda a manhã desta segunda-feira, 24/03, cerca de 400 crianças, jovens e adultos, todos camponeses e camponesas, transformaram a via pública em frente à Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco em uma verdadeira sala de aula. Em pleno asfalto: carteiras, cadeiras, quadros, giz. As centenas de crianças presentes, segurando cartazes, faixas e entoando canções, reivindicavam o direito à educação do campo e denunciavam a extrema situação de precariedade em que se encontram as escolas rurais.
A mobilização, realizada pelo Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi motivada pelo descaso com que o Governo Estadual vem tratando a Educação do Campo em Pernambuco e a condição de extrema precariedade das escolas, que atinge milhares de crianças, jovens e adultos que vivem no campo em Pernambuco. As organizações denunciam ainda processo extensivo de fechamento de escolas rurais. Segundo mapeamento realizado pelo MST, só em quatro municípios do estado já foram fechadas 31 escolas do campo nos últimos meses (Moreno, Petrolina, Belo Jardim e Santa Maria da Boa Vista). “ Nós reivindicamos que o Governo possa tomar medidas urgentes para reverter o quadro de fechamento das escolas que funcionam no campo. As crianças, os jovens e adultos estão aqui para mostrar que querem continuar estudando no campo”, enfatizou Rubineuza Leandro, do MST.
O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDS) publicou em Outubro de 2011, que 23% da população do campo é analfabeta. O descaso do Governo com a educação do campo, aliado ao fechamento de escolas rurais em diversos municípios agrava ainda mais o quadro, que tem sido considerado sintomático pelos movimentos sociais. Sob determinada conjuntura, as crianças, jovens e adultos se deslocam para os centros urbanos ou abandonam os estudos. Enquanto fecham escolas para a população do campo, seguem os investimentos para formação técnica voltada para aumentar mão de obra para atender a industria e os grandes empreendimentos que invadem o espaço agrário. “As condições de ensino e de funcionamento das escolas são precaríssimas. Os alunos e professores relatam situações inacreditáveis. Todo esse descaso com a educação do campo mostra a concepção que o Governo tem, que é a de que o campo tem que estar cada vez mais esvaziado de camponeses e camponesas.”, afirmou Plácido Júnior, da CPT.
Só no período da tarde, uma comissão formada pelas organizações sociais do campo pode ser recebida pelo Secretário de Educação do Estado, José Ricardo Wanderley. Na ocasião, representante das organizações entregaram uma pauta de reivindicações e cobraram respostas da Secretaria com relação às demandas reivindicadas. Com relação ao fechamento das escolas rurais, a Secretaria se comprometeu a reunir os municípios, com o envolvimento da AMUPE e UNDIME, para averiguar e mediar a reversão do quadro. Com relação às denúncias de péssimas condições de funcionamento das escolas, a Secretaria respondeu que está em andamento algumas medidas para amenizar as condições de precariedade. O MST informou que, caso não haja nenhum avanço na pauta até o próximo mês, novos protestos de cobranças serão realizados.
Policiais militares respondem com spray de pimenta à mobilização dos Sem Terrinhas
A mobilização realizada com a participação de centenas de crianças na manhã desta segunda-feira foi pacífica até o momento em que Policiais Militares deram provas de abuso de poder e interviram de forma violenta na manifestação. Os P.Ms dispararam armas não letais, como spray de pimenta contra um grupo de camponeses e camponesas que faziam a segurança dos Sem terrinhas. Diversas pessoas foram atingidas e socorridas no local pelos demais participantes. A ação violenta da Polícia Militar em um protesto pacífico, composto por sua maioria de crianças e jovens, gerou revolta entre os que presenciaram o ato. O caso foi imediatamente denunciado aos então representantes do Governo presentes no local: o Secretários da Educação, José Ricardo Wanderley, e o Secretário executivo da agricultura famíliar José Claudio da Silva.
Imagens:
Plácido Júnior/ CPT
Renata Albuquerque/ CPT