Genéricos, muitos de origem chinesa e indiana, já respondem por mais de 60% do mercado brasileiro de defensivos, que no ano passado movimentou US$ 9,7 bilhões
As importações brasileiras de defensivos agrícolas (princípios ativos e produtos intermediários) bateram recorde em 2012. De acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) obtidos pelo Valor, as compras externas cresceram 10% em relação a 2011, para US$ 5,5 bilhões.
Os agrotóxicos são o segundo principal item da conta de importação do setor agropecuário, atrás apenas dos fertilizantes. Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o maior mercado (em receita) para as fabricantes do produto. No ano passado, o volume importado de pesticidas cresceu 25,7%, para 296,81 mil toneladas de ingrediente ativo. Só a importação de inseticidas aumentou em 47,9%, para 79,2 mil toneladas.
Dessa forma, os agrotóxicos importados abocanharam 56,7% do mercado brasileiro, que movimentou US$ 9,7 bilhões em 2012. Em volume, a fatia dos estrangeiros é ainda maior - no ano passado, alcançou 85,6% das 346,58 mil toneladas de ingredientes ativos vendidos no país. Segundo o Sindag, as importações acompanham a expansão do mercado brasileiro - no ano passado, as vendas cresceram 14,4%, na esteira do avanço da soja e da escalada nos preços das commodities. Procuradas, Syngenta, Bayer, DuPont e Basf (empresas líderes do segmento) não comentaram o assunto. Já a Monsanto afirma que fabrica no país 100% do herbicida glifosato que comercializa no mercado interno.
A tendência a importar defensivos acentuou-se nos últimos anos. Em 2008, os desembarques de defensivos somavam US$ 2,8 bilhões, ou 245,6 mil toneladas de princípio ativo, que correspondiam a pouco mais de 39% do faturamento e 78% do volume comercializado naquele ano. Em relação a 2011, a participação dos importados no volume total cresceu 17 pontos percentuais, embora a fatia na receita tenha recuado 2,2 pontos. Essa contradição é explicada pelo aumento das compras de produtos genéricos, mais baratos, da Índia e, sobretudo, da China.
De acordo com o Sindag, os genéricos responderam por 60,7% da receita do setor no ano passado, ante apenas 43% em 2011. Ou seja, a participação dos produtos protegidos por patentes - e importados principalmente de Estados Unidos, Inglaterra e Suíça - cedeu de quase 57% para 39,2%. Em 2012, as importações de ingredientes ativos chineses cresceram 41%, para 68,3 mil toneladas. Com isso, o país asiático superou os Estados Unidos e se tornou o maior fornecedor do insumo para o Brasil. Sua participação no mercado doméstico cresceu de 20,4% para 23%, em volume, segundo o Sindag.
Já o volume importado da Índia mais do que dobrou no ano passado, para 18,8 mil toneladas. Com isso, o país superou Israel e assumiu a quinta posição no ranking, sendo responsável por 5,65% do ingrediente ativo manipulado no Brasil - logo atrás da Suíça, com 6,2%, e da Inglaterra, com 7%. Embora o Brasil seja o segundo maior mercado para defensivos em todo o mundo, o país tem um papel praticamente irrelevante na produção, pesquisa e desenvolvimento de produtos. De acordo com o Sindag, o país produz localmente apenas 10% dos cerca de 300 ativos químicos usados nas lavouras.
O maior entrave para se expandir a produção doméstica, dizem os representantes da entidade, são os custos de produção, proporcionalmente mais altos que os chineses. De acordo com o Sindag, o piso salarial para os empregados dessa indústria no Brasil gira em torno de US$ 550, ante apenas US$ 50 na China. O país asiático possui ainda vantagens impressionantes de escala: no ano passado, produziu mais de 3,5 milhões de toneladas de agrotóxicos, segundo o Instituto para o Controle de Agroquímicos da China, ligado ao governo. No Brasil, a produção não chegou a 50 mil toneladas, de acordo com o Sindag.
"Desde o fim de 2004, quando foram aprovadas as novas regras para o registro de genéricos, os empresários foram para o lugar onde tem o preço mais baixo, o maior volume de produto e número de fabricantes. A China é um grande mercado consumidor e exporta para todo o mundo", afirma Flávio Hirata, consultor da Allier Brasil, especializada em registro de agrotóxicos.
Fonte: Valor Econômico