Munidas de bandeiras, instrumentos de trabalho e palavras de ordem, cerca de 350 mulheres camponesas de Pernambuco e da Paraíba, ligadas à CPT e ao MST, ocuparam a Usina Maravilha, localizada no município de Goiana, zona da mata norte de Pernambuco. A ação aconteceu na manhã desta sexta-feira, dia 8 de março e fez parte da jornada nacional de luta das mulheres sem terra.
A Usina ocupada pelas camponesas pertence ao mesmo grupo econômico da Cruangi, que possui um largo histórico de não cumprimento da função social da Terra. Em 2009, a Cruangi foi flagrada pelo Grupo Móvel de Trabalho escravo, mantendo 252 trabalhadores rurais em regime de escravidão, dentre eles, 27 menores de idade. Ao longo de 2012, a Cruangi foi novamente notícia em todo o estado ao paralisar suas atividades por acumular dívida trabalhista milionária e demitir cerca de três mil funcionários sem indenização e com salários atrasados. No fim de fevereiro, foi anunciada a desapropriação de parte das Terras do Grupo, feita pelo Governo do Estado no montante de R$ 25 milhões, para servir de área à construção da Fábrica da FIAT, em Goiana/PE.
O principal objetivo da mobilização foi cobrar do Governo a desapropriação de todas as Terras do Grupo Maravilha/Cruangi para fins de Reforma Agrária. “Se pode desapropriar para a Fiat por que não pode desapropriar para a Reforma Agrária?", indagou a integrante da direção estadual do MST, Maria Sueli da Silva. “O governo só trabalha para o rico, doa terra para multinacional. Passei nove anos sob a lona lutando por um pedaço de terra, mas para a Fiat foi rapidinho”, disse Marilena Ferreira, ligada à CPT.
Após a ocupação da Usina, as trabalhadoras seguiram em marcha pela BR 101 até o centro da cidade de Goiana e por onde passavam, as mulheres eram aplaudidas pelos moradores dos Engenhos e da área urbana. As mobilizações foram encerradas em frente à Prefeitura do município após uma comissão de mulheres se reunir com prefeito da cidade Fred Gadelha. Na ocasião, elas reivindicaram mais articulação entre o município e o Governo para pressionar a desapropriação de terras da região. A jornada nacional de luta das mulheres camponesas sem terra acontece em todo o país na semana do dia 8 de março e tem como lema: “Mulheres Sem Terra na luta contra o capital e pela soberania dos povos”.
Retrocessos históricos na pauta da Reforma Agrária
No ano que se encerrou, o Brasil assistiu a Reforma Agrária atingir um de seus piores indicadores em décadas. Em um país onde existem cerca de 200 mil trabalhadores e trabalhadoras em luta pela terra, o Governo Brasileiro desapropriou apenas 31 novas áreas, totalizando somente 72 mil hectares, segundo informações do próprio Incra. Neste mesmo ano, somente 23 mil famílias foram assentadas em 117 assentamentos criados a partir de processos muitos antigos. Índices tão baixos só foram atingidos na década de 90, com o Governo de Fernando Collor.
Imagens: Plácido Júnior/CPT
Outras informações:
Renata Albuquerque
Setor de comunicação da CPT NE II
Fone: (81) 9663-2716