Por Ana Helena Tavares – do “Quem tem medo da democracia?“
Bispo emérito de Goiás, fundador e por seis anos presidente da Comissão Pastoral da Terra, fundador do Conselho Indigenista Missionário, com 90 anos de “uma vida a serviço da humanidade” (registrada em livro), D. Tomás Balduíno encontra momentos de sossego no Convento São Judas, onde mora em Goiânia, porém não desistiu de procurar a agitação dos movimentos sociais.
O anel de tucum
Goianenses relataram que não é difícil ver o bispo participar de manifestações importantes em sua cidade e Brasil afora. O “Quem tem medo da democracia?”, que o entrevistou com exclusividade dentro do Convento, não tem dúvidas deste vigor para a luta ao lado do povo. O uso do anel de tucum, feito de uma Palmeira nativa da Amazônia, simbolizando o compromisso com os oprimidos, não nos deixa mentir.
Na entrevista, D. Tomás definiu a mídia como “cão de guarda” do neoliberalismo. E falou, claro, de Igreja Católica, frisando o quanto ela é “comprometida com o poder”. Louvou os avanços do último Concílio, mas lamentou o “duro golpe” que a Teologia da Libertação levou no papado de João Paulo II. Golpe este que teria vindo a pedido do então presidente dos EUA Ronald Reagan.
Não acredita em novo golpe de Estado aqui, mas falou sobre o golpe no Paraguai e lembrou que “a sociedade civil gestou o golpe de 64”, garantindo que ele “foi dado, para quebrar a espinha dorsal dos trabalhadores rurais”, pelo temor que havia na época de que “o comunismo entrasse através do campo”. Segundo ele, hoje ainda temos um “modelo militar” de reforma agrária. “Uma reforma que controla a reforma”.
O bispo denunciou o genocídio de indígenas pela ditadura e o uso deles pelos militares: “chegavam a colocar farda nos coitadinhos para servir de espiões e informantes.”. D. Tomás chamou a luta armada de “luta defensiva” – “defendiam a população” – e considera essa Comissão da Verdade “pífia e medrosa”.
“Porque é para fazer relato” Para ele, “junto com o relatório deveria estar a indicação da punição.”
“O confrontamento com o passado é fundamental para animar a resistência no presente. A necessidade de uma ação concreta para a condenação dos culpados é uma forma de fazer crescer a nossa democracia. E aí se não chegar às últimas consequências com relação aos facínoras da ditadura, não temos democracia, não temos Estado de direito. Isso é necessário como o ar que se respira, como o oxigênio.”, enfatizou.
Ao final, D. Tomás respondeu a pergunta-título deste site, incluindo aí o Judiciário e “muita hierarquia da Igreja Católica”. E fez um convite aos jovens para buscarem uma felicidade que “não embarca no consumismo e na vaidade do progresso.” “O reino é a semente menorzinha e pouquinho de fermento… Daí cresce.”, concluiu.
“Uma igreja comprometida com o poder”
“A participação (da igreja no golpe) foi conhecida através de uma declaração em que a cúpula da Igreja Católica agradecia a Deus pelo fato de ter havido ‘uma revolução sem derramamento de sangue e afastando o perigo comunista’. Analisando isso, é normal… Porque foi sempre uma igreja comprometida com o poder.”
“E, como (a igreja) é uma força, o poder também procurava essa igreja. Procurava apoio nela e dava apoio também. Essa é a conjuntura que a gente pode analisar e os cardeais do Rio e de SP (respectivamente, D. Jaime de Barros Câmara e D. Agnelo Rossi) foram os que puxaram a declaração.”
“Na igreja, sempre há um dissenso com relação a certas posições radicais e sem consulta ao episcopado. Mas houve uma reação salutar: o Vaticano II, que abriu a igreja para o mundo. E aqui na América Latina houve uma abertura para os pobres. Quer dizer, estamos no extremo oposto do golpe militar.”
“Quebrar a espinha dos trabalhadores rurais”
“Golpe este que, segundo declaração de José de Sousa Martins, estudioso dos assuntos da terra, foi dado não unicamente, mas, sobretudo, para quebrar a espinha dorsal das organizações de trabalhadores rurais. E isso envolvia naturalmente agentes de pastorais. Agentes das comunidades de base (CEBs).”
“Através desses agentes, começou a sentir-se o peso da repressão. Então, a igreja foi majoritariamente contra a vigilância, contra toda a forma de cerceamento do trabalho do pessoal da base.”
E o comunismo viria através do campo…
“Os militares tinham conhecimento, por exemplo, das ligas camponesas. Tinham conhecimento dos conflitos aqui em Goiás, em Trombas e Formoso. E demonstravam o temor de que, através do campo, através das organizações de trabalhadores rurais, entraria o comunismo internacional. Essa era a análise deles. A gente acha que é uma análise induzida pela influência dos Estados Unidos. Pode ser…”
“Mas nós também já tínhamos organizações concretas, das ligas camponesas e da irradiação disso para diversas partes do país. A incidência disso aqui em Trombas e Formoso… Com gente muito organizada, gente que analisava a situação, que fazia estudos e que lutava. Que lutava na base no sentido da defesa da terra contra a injustiça do latifúndio, que era apoiado pelos militares.”
“Uma reforma que controla a reforma”
“Os militares não deixaram de lado a reforma agrária. Eles propuseram uma que é a que prevalece aí. Uma reforma que controla a própria reforma. E o que é uma reforma agrária sob controle? É aquela ditada pelos organismos do Estado: INCRA, ministérios… No sentido de transformar os trabalhadores rurais em pequenos proprietários. Esse é o modelo militar da reforma agrária que prevalece.”
“Porque é prático, né… O pessoal reivindica aquela terra, às vezes ocupa… Vai o INCRA e se entende com o judiciário, com os pretensos donos da terra e acaba, então, dividindo em quinhões. Aquilo é sorteado e cada família recebe um quinhão.”
“Depois, às vezes, ainda tem algum apoio de construção de estradas, de posto de saúde, escolas… Mais ou menos… Mas o fundamental é aquilo e deixar que a família se vire… O Estatuto da Terra, que até hoje é referência, vai muito nessa linha…”
Agronegócio: “apoio oficial e elogio da mídia”
“O golpe (de 64) não foi só apoiado pelo empresariado e pelas elites, ele foi gestado.” Mas, hoje, “a sociedade já aceitou a reforma agrária. Essa que tem aí. Quando houve o massacre de Eldorado dos Carajás, aquilo chocou tanto que foi feita uma pesquisa e 82% da sociedade se disse a favor da reforma agrária. Aí foi quando o FHC foi obrigado a criar um ministério. Na época, o ministro (Raul) Jungmann nos confessou a um grupo de bispos: ‘Eu sou ministro de 19 cadáveres’. Isso foi um momento extra.”
“A mídia e o empresariado nunca foram a favor de reforma agrária nenhuma. Por eles, não haveria atendimento às reivindicações dos trabalhadores rurais. Essa é a verdade. E, com o avanço do agronegócio, do hidronegócio, que têm todo apoio oficial e todo o elogio da mídia, a gente está dentro de uma correlação de forças desigual.”
O marxismo ajuda a “desentranhar a sociedade de hoje”
“No tempo da guerra fria, era o perigo comunista… Isso estava na mente dos EUA, que sempre dominaram a política, os meios de comunicação, e foi injetado aqui muito fortemente. Era uma luta de polos. Polarização: de um lado o capitalismo, que chamam liberalismo, do outro o comunismo. Com o tempo, a coisa foi mudando…”.
“Mas, há dois níveis de reposta (a pergunta foi sobre a relação entre comunismo e cristianismo). Primeiro, a visão comum na igreja. Entre os cristãos, há um receio com relação ao comunismo. Ainda há aquela ideia de “comer criancinha”, de perseguir a igreja, de ateísmo… Isso aí é um sentimento geral, arraigado, virou cultura.”
“Agora, outra coisa é isso visto pelos teólogos, pelos pastoralistas, por bispos católicos e evangélicos, sobretudo das religiões tradicionais: luterano, anglicano, metodista… Porque a linha pentecostal é completamente diferente. Já a Teologia da Libertação não vê o marxismo como um bicho papão, não um mal, mas um instrumento científico. E aí você o adota com liberdade de cientista.”
“Não é um dogma, embora alguns tenham isso como dogma. Mas para nós da Teologia da Libertação é útil na análise da realidade, com profundidade. Favorece a desentranhar a sociedade de hoje e trazer à tona os seus problemas e suas vinculações políticas e econômicas. Porque a partir daí você faz uma reflexão teológica.”
Teologia da Libertação
“O pessoal diz que a Teologia da Libertação usa necessariamente a teoria marxista. Não é verdade. A gente tem muita liberdade e eu acho até – o que é um pouco o parecer do Gustavo Gutierrez, criador da Teologia da Libertação – que é uma forma de ajudar o próprio marxismo a entender bem a caminhada da realidade. Não caindo no radicalismo, mas tendo uma visão mais ampla da sociedade de hoje.”
“Citando Gustavo Gutierrez: ‘Chegou para mim a notícia de que a Teologia da Libertação morreu, mas não me convidaram para o enterro.’ Eu também não fui convidado e acho que ninguém foi. O certo é que ela sofreu um duro golpe no papado de João Paulo II. No sentido de limpar a Teologia nos seminários. 99,9% do poder dentro da igreja está nas mão do papa.”
“É próprio da Igreja Católica. E João Paulo II tinha uma estratégia… Ele pegou a base… Houve visitação de todos os seminários no mundo inteiro. Eu tinha um pequeno seminário na Diocese de Goiás. Foi lá um visitador. Na outra ponta estrategista, há a nomeação dos bispos.”
João Paulo II começou a nomear bispos, arcebispos e cardeais conservadores. “Houve um caso flagrante. D. Hélder fez toda uma caminhada, participada pelo povo. Chegou o sucessor e arrasou tudo. Na cara dele. E houve mais. Dizem que num encontro com o Reagan no Alasca, encontro que ficou histórico, houve uma troca de apoios. O papa pediu apoio para a Polônia, que estava precisando, e Reagan da parte dele pediu que o papa segurasse a Teologia da Libertação. E a proposta foi cumprida”.
“Agora o que garante que ela vive são alguns padres e religiosos. Há grupos, muitos nas CEBs, que estão numa linha libertadora, embora minoritária. E também há a força do laicado. Eles até podem ser proibidos de ter uma cadeira numa universidade católica por algum recado que venha de cima… Mas não pode acontecer com eles o que aconteceu com Leonardo Boff, que foi condenado a um obsequioso silêncio.”
Abaixo, assistam a um vídeo com a 1ª parte da entrevista e, em seguida, confiram a continuação da transcrição da íntegra.
“Essa Comissão da Verdade é pífia!”
Perguntado se deveria haver punição aos torturadores da ditadura, D. Tomás não hesitou: “É lógico que deve punir! São criminosos! Cometeram crimes hediondos e isso pesa na história do nosso país. Agora, a reação dos que chamam de “revanchismo” é coisa velha… Isso vem de longe…”
“Eles continuam batendo nessa tecla porque surtiu efeito. Veja o caso da Argentina… Lá deve também ter havido reação, devem ter falado em “revanchismo”, mas tem general-presidente na cadeia. O lógico é isso. Pela lei. Pela justiça. Não pelo processo de vingança, mas de distribuir a justiça segundo os seus critérios mais limpos.”
“Aqui em nosso país começou a se levantar uma reação com relação a isso no governo Lula, mas meio medonha dos militares… Nós vimos a dificuldade do Vanucchi (ex-ministro dos direitos humanos) de levar adiante o processo… Foi afastado…”
“A Comissão da Verdade dá uma certa satisfação à sociedade, mas fica muito aquém do que deveria ser… Por que fica aquém? Porque é uma Comissão de relato. De fazer relatório e mandar aquele pacote… Para quem? Talvez para a presidente…Eu acho que junto com o relatório deveria estar a indicação da punição.”
“E aí, através da presença de juristas integrando a própria Comissão oficial, já declarar e publicar isso e mandar para quem de direito. Não cabe à Comissão executar. Mas cabe julgar e não só levantar os fatos, como é a missão dela.”
“Então, é pífia. É muito medrosa, concede muito à pressão militarista em nosso país. Um poder que está aí como ameaça: ‘Toma cuidado que a gente pode voltar o cano do fuzil para vocês. ’ E já houve esse problema de cassarem o judiciário e deputados… É o poder militarista. A verdadeira Comissão seria uma primeira quebra desse poder, com todas as consequências.”
“O confrontamento com passado anima a resistência no presente”
“Eu concordo inteiramente com a palavra de D. Paulo (Evaristo Arns) quando diz que ‘Um povo que não pode ou não quer se confrontar com seu passado histórico está fadado a repeti-lo’. O confrontamento com o passado é fundamental para animar a resistência no presente.”
“E digo mais: a necessidade de uma ação concreta no sentido da condenação dos culpados que ainda estão vivos é uma forma de fazer crescer a nossa democracia. Uma democracia verdadeira enfrenta com a participação de todos os problemas do passado e do presente que têm a ver com a sociedade como um todo.”
“E aí se não chegar às últimas consequências com relação aos facínoras da ditadura, não temos democracia, não temos Estado de direito. Isso é necessário como o ar que se respira, como o oxigênio.”
Ditadura: “o maior pecado”
“Sempre a sociedade teve pecados, falhas, crimes… O maior deles foi a ditadura. Esse é que é o problema: não dá para generalizar. Os militares é que pressionaram para fazer isso (para investigar de 46 a 88) e, inclusive, para investigar ‘a outra parte’ dos chamados ‘subversivos’. Isso é pressão deles”.
“Então, já começa com essa mancha, com essa tara, sei lá… O certo seria pinçar a ditadura e trabalhar apenas neste período. Sobretudo, porque é um período recente, de ontem… Temos direito e poder para isso, afinal o país é uma democracia.”.
Luta armada: “uma luta defensiva”
Para Dom Tomás, os militantes de esquerda “não eram bandidos, não queriam apenas se saciar de sangue. O objetivo deles era honrar a pátria. Sonhavam com isso desde antes do surgimento da luta armada. Houve assaltos a bancos e tal, mas era um objetivo justo. Era uma luta defensiva. Defender o nosso patrimônio. Defendiam a população. Ofereciam tratamentos de diversos tipos. Até tratamento dentário.”
“E ainda tem os índios que foram massacrados pelos militares. Chegavam a colocar farda nos coitadinhos para servir de espiões e informantes para a repressão, porque conheciam bem a floresta.”.
Genocídios de indígenas
“A Comissão da Verdade dá a impressão de que a ditadura foi só contra os opositores políticos. Houve crime de genocídio contra os povos indígenas, porque ali no lugar deles se queria fazer uma hidrelétrica. Falo do caso específico da (usina) Balbina.”
“Eu tenho um colega que foi missionário jesuíta, do Conselho Indigenista Missionário, do qual participei, e ele tem toda uma proposta de levantar as chacinas contra os povos indígenas durante a ditadura. Todas em vista de alimentar o latifúndio e os empresários. Até chegaram a dizer que ‘os índios estavam cansados de ser índios’. Pois é… Tirar da terra, mudar da terra, é matar o índio.”
“No Paraguai houve golpe”
O QTMD? pediu a D. Tomás Balduíno que definisse se o que houve no Paraguai foi ou não golpe e se há possibilidade de ocorrer algo parecido aqui. Enfático, respondeu: “No Paraguai, foi golpe! É o parecer comum de políticos, sociólogos, pastoralistas (Lugo era bispo…). O partido Colorado (dos militares paraguaios) tentou por anos construir um país a serviço de uma minoria.”
“Foi um golpe porque ele (Lugo) tentou desconstruir aquilo que o partido Colorado fez. O pessoal se assustou… Lugo tem seus defeitos, mas o pecado maior que atribuem a ele é o de ter mexido neste ninho de aproveitamento de um país por um grupo minoritário, pela elite crioula. Não pagam imposto de renda pessoal. Ou seja, trabalharam o país de modo a se enriquecerem…”
“A recusa do imposto libera a arraia miúda, mas libera, sobretudo, quem detém um capital extraordinário. O golpe foi, então, contra essa possibilidade. E eles estão muito atentos para que não volte a ameaça à formação desse núcleo de dinheiro a partir da exploração de um país como um todo.”
D. Tomás não vê chance de novo golpe aqui
“O Congresso que nós temos dispensa qualquer perspectiva de golpe. Teria perspectiva se houvesse uma Constituinte popular – uma utopia que não se realizou porque Sarney fez uma Constituinte congressual. Os deputados e senadores é que foram os vogais, legislando em causa própria.”
“Foi chamada de “cidadã” pelo Ulysses Guimarães… Está bem… Mas aqui precisava ter uma na linha das aspirações populares para, aí sim, haver chance de golpe. E seria um golpe com toda a armadura militar.”
“Ela (a nossa Constituição) tem coisas boas, mas é estruturalmente viciada. Mantém a mesma estrutura de poder no Brasil. O Judiciário intocável… Deputados imunes. Essa imunidade… E na presidência da República, então, nem se fala…”
“Mas tem uma base de legislação indígena respeitável. Só não é cumprida. Ela vem sendo, pouco a pouco, anulada pelo Judiciário e por medidas provisórias. Por exemplo, a portaria 303 do AGU (Advocacia-Geral da União) destrói toda a possibilidade de articulação dos povos indígenas no sentido de manter suas terras. Está com repercussão internacional. Tomara que deem em cima do Brasil…”.
Mídia: “um cão de guarda”
“Os processos de expulsão do Brasil sofridos por D. Pedro Casaldáliga a gente publicava no Estadão, que tinha receitas culinárias no lugar das partes censuradas. Agora, de um modo geral, durante e posteriormente à ditadura, a mídia caminhou junto do sistema neoliberal, do sistema de concentração de renda, concentração de poder, de exclusão, e vigilante quanto a todas as possibilidades de alteração.”
“A mídia faz um pouco o papel de cão de guarda, como a bancada ruralista. É um cão de guarda para não deixar passar nada em favor da reforma agrária. E consegue. Acho que a mídia aqui ficou muito na defensiva desse patrimônio econômico, capitalista, elitista, concentracionista, segregacionista e cruel. A mídia envolveu-se muito nisso e hoje a vejo por esse prisma, porque está ligada ao grande capital internacional. Essa é a verdade.”
“Há alternativas, mesmo que mirins, mas não estão dentro da igreja. Só temos periódicos de sacristia, tudo muito clerical. Mas nenhum como, por exemplo, o Brasil de Fato, que mostra a produção do MST. E eu participei da formação de 52 juristas em Goiás, provenientes das terras, filhos de lavradores identificados como sem-terra.”
A vaia à Dilma
“Dilma não se destaca pelo lado da luta pelo Brasil que nós queremos. Pelo contrário, quando era ministra das Minas e Energia, ela não dava a mínima para os movimentos sociais. Uma ministra dos grandes negócios. Mineração, Vale…”
“Antes de ser presidente, ela deu um testemunho que nos deixou a todos com um pé atrás. Num Congresso de trabalhadores rurais em Brasília, ainda como ministra, ela foi vaiada do início ao fim. Eu não posso dizer o teor do discurso, porque eu entrei e saí, mas era a respeito da política oficial sobre a terra. Era uma plateia composta pelo MST, pessoal que já vinha sofrendo.”
“Como presidente, não faz diferença quanto ao governo anterior. As alianças são com os mesmos partidos indesejáveis. Ocupando postos-chave de acordo com os aliados. Isso não mudou. Agora, a gente reconhece que tem uma aceitação popular, uma cotação boa a nível nacional. Essa investida da Polícia Federal contra corruptos e corruptores tem valido para ela um intento favorável. Acho que pode ser reeleita.”.
Quem tem medo da democracia?
“Quem tem rabo-preso. Aqueles que montam sua estrutura sociopolítica e, sobretudo, econômica na corrupção. E é perigoso enfrentar isso… É morte certa. Têm medo da democracia os militares envolvidos com a repressão. Não são todos, mas as exceções são poucas.”
“Para mim, tem medo da democracia o próprio Congresso, que está muito satisfeito com a estrutura que está aí e que é antidemocrática. A maioria que está lá representa uma mínima minoria da sociedade. Isso é profundamente antidemocrático. Esse pessoal tem medo de mudar essa estrutura. Porque muitos fazem da política um ramo de negócio. A gente vê governador, por exemplo, que como candidato tinha um carrinho… De repente, depois de alguns anos de governo, se torna referência em termos de riqueza. Eu vi governador aqui que era funcionário público e se tornou o maior fazendeiro do Estado (Goiás).”
“O judiciário tem medo da democracia. E tem razão, porque é capaz de achar leis que favorecem o status quo, os arrazoados mais perfeitos… São máquinas de produzir saber. Se um dia a democracia chegar ali, o resto é ‘ficha’, é fácil”.
“Muita hierarquia da igreja tem medo da democracia. Eu estou falando do Estado, tenho que falar da Igreja. Usa-se a palavra ‘comunhão’, mas é ambígua…”
Recado aos jovens
D. Tomás orienta os jovens a seguirem os ensinamentos de “Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Hélio Bicudo, Fábio Konder Comparato, D. Pedro (Casaldáliga), D. Paulo (Evaristo Arns). São homens da esperança. O que mantém esse pessoal em pé é acreditar no próximo, no outro, na outra… A gente acredita.”
“Acho que têm essa força, essa semente, e isso se liga com a palavra de Jesus. O reino é a semente menorzinha e pouquinho de fermento… Daí cresce. É por aí que vem a solução: é de baixo para cima, é de dentro para fora. E vou mais longe: as quebradeiras de coco, e, sobretudo, os índios na América Latina estão levantando o bem viver.”
“Nós todos queremos essa felicidade para a gente e para os demais. E ela está numa linha nova, que não embarca no consumismo, produção pela produção, vaidade do progresso a qualquer preço, como Belo Monte, Santo Antonio, Jirau, Tapajós.”