Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Com quase 80% da populações vivendo em cidades, a América Latina e o Caribe têm como maior desafio neste início de século reduzir a desigualdade social. O relatório Estado das cidades da América Latina e do Caribe – 2012, do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), aponta a região como a mais urbanizada e desigual do mundo.

O estudo, pioneiro, traça o panorama do desenvolvimento latino-americano e escancara as grandes deficiências que persistem no processo de urbanização. Ao mesmo tempo, indica que os países dispõem dos requisitos para alcançar um desenvolvimento urbano sustentável, nas próximas décadas, e deixar no passado as mazelas da pobreza. O Brasil, apesar do avanço na distribuição de renda nos últimos anos, aparece como o quarto país mais desigual, atrás apenas de Guatemala, Honduras e Colômbia.

O texto aponta que, em geral, o deslocamento dos latino-americanos do campo para o meio urbano tem sido positivo e "desperta grandes esperanças", mas ainda reserva "amargas desilusões". Segundo o estudo, muitas cidades da região têm passado por uma transformação "traumática e às vezes violenta, por sua celeridade, marcada pela deterioração de seus entornos e, sobretudo, por uma profunda desigualdade social". "As cidades da região apresentam os maiores índices de desigualdade do planeta.

 

Ela é grande e séria, mas a boa notícia é que está se reduzindo, e rapidamente", disse ontem o representante da ONU-Habitat para a América Latina, Erik Vittrup. Em entrevista coletiva, no Rio, ele destacou que alguns países geram preocupação. "A má notícia é que algumas economias importantes ainda se encontram em uma situação na qual a iniquidade continua subindo. Por isso, estamos fazendo um esforço, em particular no caso da Colômbia e de outros, para discutir o tema e tentar diminuir esses índices."

Rumo ao equilíbrio

Embora sejam hoje a região mais urbanizada do mundo, a América Latina e o Caribe exibem a densidade populacional mais baixa. Europa, Estados Unidos, Índia e Paquistão têm uma distribuição populacional mais equilibrada. Além disso, nesse cenário, o crescimento demográfico e a urbanização nos países latinos aparecem no relatório como processos que perderam força nos últimos anos. E, apesar do grande êxodo rural no passado, a evolução atual das cidades tende a limitar-se ao crescimento natural, o que se verifica desde os anos 1960. A partir dessa época, a população regional vinha aumentando em média 2,75% por ano. Atualmente, estima-se em 1,15% uma taxa que, de acordo com o relatório, se aproxima da mundial.

A concentração nos centros urbanos se fez acompanhar pela convergência da renda. Segundo Vittrup, cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) tem sido gerado nas cidades, o que contribui para a redução do desemprego e da pobreza urbana. "É um bom sinal", apontou. O estudo reconhece que os países da América Latina e Caribe conseguiram avanços consideráveis na luta contra a pobreza, nos últimos 10 anos. A proporção de população urbana pobre foi reduzida, mas em números absolutos as cifras seguem muito altas. Aproximadamente 124 milhões de moradores das cidades vivem na pobreza, o que corresponde a um quarto dos pobres na América Latina.

Do ponto de vista econômico, a região vem saindo de um longo período de dívidas aumentando em espiral e os países "parecem estar mais preparados para resistir às crises mundiais". De acordo com o estudo, por trás disso estão economias que assumem um papel cada vez mais importante no contexto local e global.

"Bônus demográfico"

Esse e outros fatores apontam para um cenário favorável. O relatório destaca que as nações latino-americanas se beneficiam de um "bônus demográfico": a população ativa ainda é proporcionalmente maior que a do passado e supera amplamente a de crianças e de idosos. "É uma situação privilegiada, que não durará mais do que 30 anos e oferece a oportunidade de realizar grandes inversões e preparar os países para desafios futuros", diz o texto. "Existem condições para uma nova transição urbana, com qualidade de vida, igualdade e sustentabilidade."

Em geral, diminuiu a proporção de habitantes das favelas. Mesmo assim, são 111 milhões de pessoas na região, cifra maior que a de 20 anos atrás. Além disso, metade da população urbana latino-americana — um contingente de 222 milhões — reside em cidades com menos de 500 mil habitantes. Segundo a ONU, o progresso no acesso à água, ao saneamento e a outros serviços tem tornado mais atraentes as cidades de porte médio. Mas cerca de 14% desse total (65 milhões) vivem nas megacidades, que, de acordo com o estudo, veem seu peso relativo diminuir em detrimento das cidades menores.

 

Fonte: Por Renata Tranches/ Correio Braziliense

 

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