O dia 22 de março, Dia Mundial da Água, foi celebrado pelos povos indígenas com manifestações pela defesa deste bem natural. Para eles, a água é sagrada, é um ser vivo que precisa ser cuidado para que no presente e no futuro sua abundância seja garantida. Mas o ‘sangue que impulsiona a vida na Mãe Terra’ não está recebendo o mesmo tratamento por parte dos governos e empresários, que a contaminam e mercantilizam condenando populações a morrerem de sede.
Por isso, os povos indígenas da América Latina repudiam o fato de a água ser considerada hoje um objeto de compra e venda, o "ouro azul dos novos tempos”, que já está sendo disputado tanto quanto foram o "ouro amarelo” e o "ouro negro”.
A prova do desrespeito a este bem natural essencial à vida são os vários projetos hidrelétricos e de mineração que contaminam e desperdiçam a água e ainda secam lagoas e se instalam em cabeceiras de bacias.
Na Bolívia, o acúmulo de terras nas mãos de poucos faz com que a maioria não tenha acesso à água. Na Colômbia, locais sagrados são invadidos por consequência do conflito armado e das atividades extrativas. No Peru, grande parte dos conflitos internos é pela defesa da água. Um exemplo é o projeto Conga, em Cajamarca, que pode se apoderar de cinco lagoas e o projeto Cerro Condorhuain, em Ancash, onde a mineradora Barrick Gold tem uma concessão que afetará 84 olhos d’água.
No Equador, a luta pela água também acontece dia após dia. Nesta quinta-feira, chegou a Quito, após 14 dias de caminhada, a Marcha Plurinacional pela Água, pela vida e pela dignidade dos povos, protagonizada por povos indígenas e movimentos sociais equatorianos. Neste país, 1% dos proprietários controla 63% da água para irrigação. Além disso, terras tradicionais estão sendo ocupadas por megaprojetos de infraestrutura que utilizam fontes se água essenciais para a vida e o trabalho.
Problemas como estes impulsionaram os manifestantes a caminhar por 14 dias percorrendo comunidades indígenas e pequenas cidades deixando uma mensagem de luta e defesa dos bens naturais. O encerramento da marcha aconteceu hoje às 14h, após o fim da Festa da Democracia, mobilização do governo que aconteceu até as 11h. Medidas de segurança foram tomadas para que as manifestações não se encontrassem nas ruas e praças da capital. As Polícias Metropolitana e Nacional foram convocadas para garantir a segurança dos ativistas.
Durante a marcha, povos indígenas e defensores do meio ambiente enfrentaram inúmeras críticas. Setores do governo promoveram campanhas para deslegitimar a manifestação e alguns tentaram usar a marcha para promover suas candidaturas políticas.
Apesar disso, os dias de manifestação foram pacíficos e outras centenas mostram solidariedade aos manifestantes e às suas demandas que são: a plena vigência da Constituição e o cancelamento de leis e normas ilegais; a proibição da mineração em grande escala; o cancelamento da Lei Mineira por ser inconstitucional; a anulação do contrato de exploração mineira assinado em 5 de março pelo governo e a empresa ECSA Ecuacorriente; a não ampliação da fronteira petroleira; respeito à autodeterminação dos povos livres (em isolamento voluntário); o cumprimento das medidas cautelares ditadas pela Comissão Internacional de Direitos Humanos e a suspensão imediata da construção do projeto Poleoducto Pascuales – Cuenca.
No Peru, o povo também se manifestou pela defesa da água. Pela manhã, um fórum com a participação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), Federação Nacional de Trabalhadores da Água Potável e Esgoto do Peru (Fentap), grêmios agrários, entre outros, debateu a necessidade urgente de políticas públicas para preservar o acesso á água com vistas à situação de escassez que pode acontecer no futuro.
A celebração do Dia Mundial da Água terminou às 15 horas na Praça San Martín, após concentração na Praça 2 de Maio para exigir o reconhecimento da água como direito humano e a intangibilidade das cabeceiras de bacia.
O Dia Internacional da Água foi instituído em 22 de dezembro de 1992 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Em 28 de julho de 2010, no 64º Período de Sessões da Assembleia Geral da ONU a água potável e o saneamento básico foram reconhecidos como um direito humano. Apesar disso, milhares de pessoas ainda sofrem desnutrição e morrem pela falta de acesso à água.
Fonte: Adital Noticias