Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Na madrugada desta quarta-feira, dia 30, a Polícia Militar da Paraíba montou uma operação de guerra para despejar cerca de 100 famílias indígenas da etnia Tabajara, na região de Mucatu, município de Alhandra, litoral Sul da Paraíba. Os Tabajaras, que já são reconhecidos enquanto povo indígena pela Funai, estavam acampados em um dos assentamentos da Grande Mucatu, desde o último dia 9 de novembro para reivindicar a demarcação de aproximadamente 1.000 hectares de terra entre os municípios de Conde, Alhandra e Pitimbu. O mandado de reintegração de posse foi concedido pelo Juíz Joás de Brito Pereira Filho à Empresa de Cerâmicas Elizabeth, que comprou parte das terras reivindicadas pelos indígenas para instalar uma fábrica de cimento no local.

 O contingente utilizado para realizar o despejo e reprimir os indígenas foi de 200 homens da Polícia Militar, com a Tropa de Choque, Canil e cavalaria, incluindo integrantes da Guarda Nacional. Às 2hrs da manhã os policiais surpreenderam as famílias, cercaram toda a área e bloquearam todos os caminhos que dão acesso a região de Mucatu, local onde se encontravam os indígenas. As famílias denunciam que durante todo o despejo, a Polícia Militar recebeu o suporte de funcionários da Empresa Elizabeth, que chegou a deslocar para o local um ônibus com alimentos para o efetivo policial. Durante o despejo também, o deputado Estadual Frei Anastácio, que vem acompanhando o caso, foi perseguido, abordado e imobilizado por três Policiais Militares, quando tentava se aproximar do local onde encontravam-se as famílias.

 De acordo com Tânia Souza, da Comissão Pastoral da Terra, o clima foi de muita tensão e o aparato policial para reprimir as famílias indígenas se assemelhou a uma verdadeira operação de guerra. Para Tânia, mais uma vez os povos do campo, sejam trabalhadores rurais sem terra, indígenas ou quilombolas, são brutalmente criminalizados e reprimidos pelo Estado.

Neste momento, os indígenas encontram-se nas áreas de assentamento da Grande Mucatu, acolhidos pelos agricultores e agricultoras que desde o início da ocupação prestaram solidariedade à luta dos Tabajaras. O caso já foi informado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, à Funai nacional e ao Ministério Público Federal e os indígenas aguardam uma decisão do Governo sobre a demarcação de seu território.

 

Entenda o caso:

  Cerca de 150 índios da etnia Tabajara realizaram no dia 9 de novembro a ação de retomada de suas terras na região do litoral sul do estado da Paraíba. Os indígenas reivindicam a demarcação de aproximadamente mil hectares de terra entre os municípios de Conde, Alhandra e Pitimbu, que hoje estão ocupados em sua maioria pelo Grupo João Santos, pelo monocultivo de cana-de-açúcar da Destilaria Tabú e por assentamentos, além de ser uma área que sofre intenso assédio de empresas privadas. Como a Empresa Elizabeth.

 Os indígenas se instalaram permanentemente em um dos lotes do assentamento da Grande Mucatu que foi adquirido recentemente pela Empresa, através do apoio da prefeitura de Alhandra, para a instalação de uma fábrica de cimento. No dia da ocupação, o Cacique da etnia Tabajara, Edinaldo dos Santos Silva, ressaltou que enquanto a terra estiver nas mãos dos assentados cumprirá a sua função social, mas que no momento em que passa para o capital privado, tem que ser recuperada para eles.

 O Cacique afirma que o território é dos Tabajaras, onde viveram e foram enterrados os seus antepassados, e que outros povos indígenas deverão se somar à luta de retomadas de seus territórios a partir dessa ação. Edinaldo concluiu afirmando que, com esta retomada, quer impedir a instalação da fábrica e também agilizar o processo de reconhecimento de seu território pela presidência da República.

 

Uma parte da História

A etnia Tabajara possui uma história de sucessivas migrações, devido a constantes conflitos de terras desde o período colonial. Na época da fundação da Paraíba, a etnia Tabajara, então formada por aproximadamente 5 mil indígenas, ocupavam o litoral do Estado, onde fundaram as aldeias de Alhanda e Taquara. Hoje, são 750 indígenas da etnia que resistem a situação de extermínio a qual foram e são submetidos os povos indígenas na região e no país.

 Os Tabajaras, a partir de 2006, tendo como alavanca uma “profecia” contada pelos seus anciões, iniciaram o processo de organização para retomada de seu território. A Etnia já foi reconhecida pela FUNAI e o processo de reconhecimento de seu território encontra-se em Brasília.

 O Cacique Edinaldo lembrou que a ação dos poderosos não cortaram as raízes indígenas: “arrancaram nossas folhas, quebraram nossas galhos, cortaram nosso tronco, mas esqueceram nossas raízes”. Ele argumenta que estão acampados justamente em busca das raízes da terra que era deles no passado, para que em um futuro próximo o povo Tabajara tenha vida com dignidade.

 

Outras informações:

Comissão Pastoral da Terra – Regional NE II

Tânia Souza

Fone: (83) 9985.2496

Renata Albuquerque

Fone: (81) 9663.2716

 

Setor de Comunicação da CPT NE II

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Rua Esperanto, 490, Ilha do Leite, CEP: 50070-390 – RECIFE – PE

Fone: (81) 3231-4445 E-mail: cpt@cptne2.org.br