Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

As famílias já denunciaram o caso ao Ministério Público de Pernambuco e agora reivindicam uma audiência com a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do Estado. O Governo segue o projeto de construção da barragem Serro Azul a todo vapor e ignora as mais de 1.200 famílias de camponeses e camponesas que vivem no local que será atingido pela Obra.

 “Para onde vamos? São 50 e tantos anos em cima daquelas terras”. Seu José Ferreira, trabalhador rural de 55 anos, vive desde que nasceu no Engenho Verde, localizado no município de Palmares, Mata Sul de Pernambuco. A pergunta do agricultor é a mesma de outras 1.200 famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais que vivem nos Engenhos Verde, Firmeza e Aliança, localizados em Palmares, e no assentamento Serra dos Quilombos, localizado entre os municípios de Bonito e Catende. Todas essas famílias serão expulsas das terras onde vivem para dar lugar à construção da Barragem de Contenção de Serro Azul.

A obra será a maior das cinco barragens anunciadas pelo Governador Eduardo Campos no início de maio, após as fortes chuvas que atingiram a região da Mata Sul: envolverá uma área de mais de 1.600 hectares no entorno do Rio Una, entre os municípios de Palmares, Bonito e Catende e poderá acumular 380 milhões de metros cúbicos de água. A barragem também será a mais cara: de acordo com dados divulgados pelo Governo Estadual, a obra está orçada em R$ 480 milhões, custo que será dividido 50% entre o Governo Federal e Estadual.

A notícia das obras espalha-se todos os dias, através das Rádios, nos municípios da região. Mas, as 1.200 famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais que serão atingidas estão sendo literalmente ignoradas pelo Governo de Pernambuco. Apesar dos anúncios na imprensa de que as agricultoras e agricultores atingidos pela obra seriam ouvidos, a maioria das famílias afirmam que em nenhum momento foram procuradas pelos órgãos do Governo Estadual. “A gente não recebeu nenhuma informação sobre essa barragem. Não fomos procurados e ouvidos por ninguém. Não sabemos de nada”, denuncia Seu Ferreira. O trabalhador rural Antônio Gomes da Silva, de 69 anos, que há 45 vive no Engenho Verde, também reforça a denuncia de Seu Ferreira: “a gente só ouve pelo Rádio de que vai ter essa barragem o mais rápido possível, mas ninguém chegou pra ouvir a gente”.

 “A gente vive da terra, do fruto que a terra dá, se tiram a gente de lá e colocam em outro lugar que não tem condições de a gente viver de plantar, como vai ser?” indaga Seu Antônio Gomes. Todas as famílias dos Engenhos e do assentamento que serão impactadas pela obra não tem outra forma de vida que não seja através da agricultura camponesa. “É daquela terra que produzem os alimentos que consomem e que comercializam, gerando renda para as famílias. Muitas famílias estão de mãos atadas, poque não sabem o que vai acontecer amanhã, quando serão expulsas e nem para onde vão”, informou a Irmã Marisa Ribeiro, ligada à Comissão Pastoral da Terra. O assentamento Serra dos Quilombos é do Incra e os moradores dos Engenhos são todos posseiros. “Há famílias que vivem ali há mais de 60 anos e muitas não possuem o título da terra”, ressaltou a Irmã.

Os trabalhadores e trabalhadoras ressaltam ainda que o descaso com as famílias é tão grande que no início do processo, ainda em abril, uma reunião chegou a ser realizada no Casarão do Engenho Verde para tratar sobre o tema. O problema é que a reunião aconteceu com a presença do Secretário de Recursos Hídricos e Energéticos, João Bosco, o Prefeito de Palmares, José Bartolomeu, além de vereadores, secretários e outras autoridades políticas da região, sem que a comunidade soubesse de nada. “Fizeram uma reunião no nosso Engenho e não fomos avisados. Quando a gente viu foi só os carros chegando. Mas fomos ver o que era. Vamos ser os prejudicados e ainda fomos chamados de enxiridos”, informou Seu Antônio Gomes.

 Para agravar a situação, o Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP) chegou a anunciar ainda no dia 27 de julho, que a Empresa responsável pela obra, a Techne Engenheiros Consultores Ltda, havia finalizado o Relatório Técnico Preliminar da barragem Serro Azul. “Todos esses fatos demonstram que a obra segue a todo vapor e com o Estado passando por cima das 1.200 famílias de camponeses que encontram-se no local”, ressaltou Geovane Leão.

O caso já foi denunciado ao Ministério Público de Pernambuco no início do mês, quando uma comissão de trabalhadores e trabalhadoras que vivem no Engenho Verde foi recebida pelo Promotor Agrário Dr. Edson Guerra. Agora, as famílias seguem mobilizadas e reivindicam a realização de uma Audiência com a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagens do Engenho Verde, uma das áreas que será atingida pelas obras da Barragem de Contenção de Serro Azul. O Engenho também é conhecido por ser um local onde há diversas atividades turisticas e onde encontra-se o Casarão onde nasceu o poeta e escritor Hermilo Borba Filho.  

Foto: Carmelo Fioraso/CPT

 

Comunidade - Engenho Verde

Foto: Carmelo Fioraso/CPT

 

 

 


 

Casarão onde nasceu o poeta e escritor hermilo Borba Filho

Foto: Marisa Amaral/CPT

 

 

 

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