Os dados que explicitam a violência contra camponeses e camponesas estão no Caderno Conflitos no Campo Brasil 2010, lançado pela CPT na última semana.
O Nordeste é a região com o maior número de casos de conflitos no campo no país. De acordo com o levantamento feito pela CPT, os conflitos na região representam 43,7% de todos os conflitos registrados no Brasil em 2010, seguido da região Norte com 36,7%. O aumento com relação ao ano de 2009, chega a representar mais de 37%. A violência contra camponeses e camponesas no Nordeste se expressa também no aumento dos assassinatos: em 2009, foram registrados 4 assassinatos, em 2010, esse número sobe para 12.
Ainda que tenha sido registrada uma diminuição do número de ocupações de terra em 2010, os conflitos no campo só aumentaram no Nordeste. Grande parte dos casos registrados envolvem as comunidades tradicionais e posseiros na luta pela permanência na terra onde sempre viveram. De acordo com Carlos Lima, da coordenação regional da CPT NE II, essa característica dos conflitos no campo é reflexo do avanço cada vez maior do capital em áreas que são tradicionalmente ocupadas por camponeses e camponesas. A região Nordeste tem sido o palco de inúmeros investimentos governamentais para o avanço de grandes obras e projetos nos últimos anos. A transposição do Rio São Francisco, a transnordestina, projetos de mineração, o monocultivo da cana e Suape são alguns dos exemplos de grandes projetos que avançam a qualquer custo sobre os territórios camponeses e o meio ambiente. “São centenas de comunidades camponesas que estão sendo ameaçadas pelo capital. Mas elas resistem para continuar existindo”. Os dados da violência sofrida contra posseiros e comunidades tradicionais representam também o avanço contra a riqueza de biodiversidade e diversidade cultural do país. À medida em que avança a violência contra as comunidades camponesas, avança também a destruição e devastação do meio ambiente, até então protegido por essas comunidades.
Para Tania Souza, também da coordenação regional da CPT NE II, não há perspectivas de diminuição destes conflitos. “Com a opção do governo em não atender a demanda história pela Reforma agrária, com o incentivo cada vez maior ao avanço do agronegócio e a implementação de uma politica de desenvolvimento que históricamente degrada o meio ambiente e expulsa o povo do campo para as periferias da cidades, a tendência será sempre a de conflito” ressalta.
Caderno - Conflitos no Campo Brasil - A CPT tem consciência que os dados registrados não representa a totalidade dos conflitos ocorridos em todo o país. As centenas de pessoas ligadas à CPT espalhadas pelo Brasil consideram que o lançamento do livro representa um momento importante na luta pela terra e pelos direitos humanos no país e que a sociedade precisa saber o que acontece com as populações injustiçadas do campo. O latifúndio precisa ser punido e o Poder judiciário precisa estar a altura do povo brasileiro. O Estado precisa ser presente no campo. Onde tem conflito de terra, tem vida e resistência das comunidades camponesas: resistência ao modelo do agronegócio, dominante no Brasil.
A publicação, que está na sua 26ª edição, faz anualmente uma análise dos conflitos e dos fatos que marcaram a luta pela terra, pela vida e a preservação do meio ambiente no Brasil. O livro é dividido em temáticas como: conflitos por terra, pela água, conflitos trabalhistas, violência contra a pessoa e a posse. Para cada um dos temas tratados, o livro traz um artigo que faz a leitura geral dos dados, além de análises comparativas com os anos anteriores. No livro, estão disponíveis também notas e documentos publicados pela CPT durante todo o ano de 2010.
Para ler na íntegra o relatório Conflitos no Campo Brasil 2010, clique aqui.
Outras informações:
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Fone: (81) 3231.4445 / (81) 9663.2716
Setor de comunicação da CPT NE II