Várias centenas de pessoas participaram ontem da Missa “de corpo presente” e do sepultamento do Padre José Comblin, que faleceu domingo passado, aos 88 anos. Aconteceu no Santuário de Padre Ibiapina, em Santa Fé, município de Arara (PB). Estavam presentes representantes das comunidades de base, trabalhadores e trabalhadoras rurais, missionários e missionárias do Nordeste, religiosas das comunidades inseridas no meio popular, agentes pastorais, padres e bispos da região.
No meio de muita oração, emoção e gratidão, foi lembrada a trajetória da vida do padre e sua grande fidelidade à missão e aos pobres. Veio da Bélgica para ensinar na diocese de Campinas (SP), viveu muitos anos em Recife e em João Pessoa nos tempos de dom Helder Câmara e dom José Maria Pires. Deixou uma vasta obra de escritos de teologia, de espiritualidade e de análise sócio-política; é proclamado pelo povo cristão grande mestre, verdadeiro Doutor e Padre da Igreja de Jesus.
Viveu e atuou neste último ano de sua vida nos longínquos sertões da Bahia, diocese de Barra, imitando assim o Padre-Mestre Ibiapina que na época deixou Recife para embrenhar-se pelos lugares mais remotos dos sertões nordestinos para evangelizar e prestar assistência aos mais pobres. Inspirou e realizou muitos cursos de formação missionária para animadores e animadoras das comunidades do campo e das periferias populares que incluíam análise da realidade vivida na região, espiritualidade do evangelho, formação humana e teológica.
Comblin tinha o dom de fazer a gente pensar. Como grande místico nos introduzia na radicalidade evangélica e na opção pelos pobres e se opunha com firmeza às ditaduras (do Brasil e do Chile, onde viveu alguns anos). Tecia críticas fortes à Igreja pela sua mediocridade e aliança com os poderosos. Pessoalmente tive o privilégio de conviver e conversar muito com ele; todo ano me convidava a colaborar nos cursos de formação aqui na Paraíba.
Durante a celebração foram apresentados vários depoimentos de pessoas que viveram e conheceram o padre Comblin; foram lidas as preciosas mensagens de dom José Maria Pires, de dom Pedro Casaldáliga e de muitos outros. O corpo dele foi enterrado perto do túmulo do Padre Ibiapina e das Beatas do Nordeste. O caixão estava coberto com a bandeira-símbolo da CPT, sinal do amor que Comblin tinha para o povo do campo (a CPT foi destacada várias vezes durante a grande celebração).
Neste último tempo, sentindo que chegava a hora de entrar definitivamente no Reino, despojou-se de tudo, doou tudo o que tinha. A vasta biblioteca que tinha foi entregue à Universidade Católica de Recife.
Cristão, sacerdote, teólogo, missionário, doutor da Igreja Povo de Deus, mestre e padre espiritual de todos nós que o conhecemos tão de perto, padre Zé descanse em Paz!
Pe. Hermínio Canova - CPT
Paraíba - Santa Fé, 30 de Março de 2011