Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

DISPUTA FUNDIÁRIA

A chegada de novas indústrias ao Porto de Suape está obrigando o governo de Pernambuco a acelerar os processos de desapropriação de áreas dentro do complexo. Pelo menos 500 processos de reintegração de posse tramitam na Justiça para garantir a implantação dos empreendimentos. A pressa em começar as obras de terraplenagem tem feito com que empresas e a própria diretoria de Suape iniciem as obras antes de indenizar os posseiros. Os moradores do Engenho Serraria denunciam que a empresa Suape iniciou a derrubada das benfeitorias dos sítios da comunidade antes de elaborar os laudos e calcular os valores.

Jornal co Commercio, publicado em 08.02.2011Adriana Guarda


“Eles chegam sem perguntar de quem são as fruteiras e saem derrubando tudo. Colocaram no chão mais de 180 pés de caju que tinha aqui no meu sítio”, diz o agricultor José Valério de Souza, de 69 anos. Morador de Serraria há 20 anos, ele avalia que o crescimento de Suape não é positivo para os agricultores familiares da região. “Esse desenvolvimento de Suape não tem nada de bom pra gente. Não temos estudo e já estamos com idade. Que empresa vai nos contratar”, questiona, fazendo uma reclamação comum aos demais posseiros da região.

O presidente da Associação dos Pequenos Agricultores do Engenho Serraria e Adjacências, José Luiz dos Santos, diz que a área que está sendo terraplenada por Suape vai abrigar o polo de PET do complexo, integrado por empresas de pré-forma (estágio da garrafa PET antes de ser sobrada). A Brasalpla é uma das empresas do cluster que se instalaram na vizinhança. “Nessa área onde as máquinas estão terraplenando (veja foto) será implantada a Cristal PET”, afirma o agricultor, lembrando que 58 famílias de agricultores vivem em Serraria há várias gerações. No ano passado, os representantes da associação participaram de reunião com o governador Eduardo Campos e ele se comprometeu a suspender os processos de reintegração de posse.

“Quando avisamos à diretoria de Suape que denunciamos o problema à imprensa, eles vieram medir os sítios para calcular os valores das indenizações. Mas a verdade é que as pessoas já foram prejudicadas porque perderam suas fruteiras”, reclama José Luiz.

No mês passado, a reportagem do JC flagrou a Itapoama Mineração derrubando benfeitorias dos posseiros sem pagar indenização e a diretoria de Suape afirmou que se tratava de um problema do governo anterior (Jarbas Vasconcelos/Mendonça Filho), que vendeu as terras à empresa sem desapropriar. A Justiça mandou suspender a derrubada. Agora, é a própria estatal que inicia a terraplenagem da área sem negociar com os posseiros.

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