Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A caminhada que tomou conta das ruas de Campina Grande marcou a abertura da V Festa da Semente da Paixão na última sexta-feira (19/3). A paixão por esse inestimável patrimônio genético é celebrada no estado desde 2004 a partir de iniciativas das organizações que integram a Articulação do Semiárido Paraibano.

A marcha foi aberta por uma ala vestida de preto para simbolizar o luto pela contaminação crescente dos alimentos por agrotóxicos e transgênicos. Nela, os marchantes mostraram para a população da cidade produtos transgênicos encontrados nos supermercados e embalagens de venenos usados nas plantações.

26 de março de 2010

Da AS-PTA

A ala foi seguida por lideranças locais, que de um carro de som explicavam para a população o motivo da festa e as preocupações acerca das ameaças ao crescimento da agroecologia, como as políticas públicas de distribuição de sementes, que estimulam o uso de uma única variedade de milho, a contaminação pelo milho transgênico e seus impactos sobre a saúde e a distribuição pelo governo estadual de um agrotóxico da Bayer para controle da mosca-negra-do-citros. Este produto, à base de imidacloprido, encabeça a lista dos responsáveis pela síndrome do colapso das colmeias.

A passeata foi completada por delegações compostas por guardiões da biodiversidade do Litoral, Agreste, Pólo da Borborema, Cariri, Seridó, Curimataú, Médio e Alto Sertão e dos Assentamentos da Reforma Agrária.

Chegando de volta ao Parque do Povo, realizou-se um ato público regado a depoimentos, música e poesia. O ato teve início com uma purificação simbólica dos produtos transgênicos e contaminados, que deram lugar a alimentos agroecológicos que foram partilhados com os participantes. No Parque, os participantes ainda visitaram a feira de comercialização solidária e as barracas de saberes e sabores. Além da troca de sementes, que permite a ampliação do trabalho dos guardiões, muitos agricultores levaram suas sementes à barraca onde estavam sendo feitos testes rápidos de detecção de transgênicos. A preocupação dos agricultores é saber se suas sementes de milho foram contaminadas. O zonemanento agrícola deste ano indica para a Paraíba 196 cultivares de milho, destas, 39 transgênicas.

Foram testadas sementes de diferentes regiões do estado e também do Rio Grande do Norte e de Pernambuco, mas para a satisfação de todos, nenhum caso de contaminação foi identificado. Assim como já vem sendo realizado nas feiras de sementes do Paraná, os agricultores cujas sementes foram testadas receberam um certificado e assinaram uma declaração comprometendo-se a não cultivar as sementes geneticamente modificadas e seguir promovendo a conservação das sementes crioulas.

Mais de 220 bancos de sementes comunitários formam uma rede na Paraíba, que mobiliza os agricultores e suas organizações em torno da conservação de sementes de variedades locais resgatadas pelas próprias comunidades. Além de recuperar a agrobiodiversidade local, os bancos de sementes permitem reduzir a dependência de governos e empresas.

Em tempos que anunciam que teremos cada vez mais que aprender a lidar com a instabilidade climática, o trabalho desses guardiões da biodiversidade, chamado no jargão técnico de conservação in situ, reveste-se de importância estratégica para a qual a maior parte do sistema de ensino, pesquisa, crédito e extensão rural ainda não despertou. Sabe-se que uma espécie que seguiu sendo cultivada ano após ano apresentará diferenças genéticas em relação às plantas da mesma variedade conservadas na câmara fria de um banco de germoplasma por alguns anos. É justamente o processo que gera essa variação que garante um ajuste continuado ao ambiente e a suas alterações, e é ele quem guarda a chave para o desenvolvimento de espécies e sistemas agrícolas adaptados a um clima cambiante. Não se nega o papel de reservatório estratégico e de inventário que as coleções de germoplasmas chamadas de ex situ desempenham. Mas, por outro lado, é passada a hora de se abrir mão da busca enganadora por soluções milagrosas para o clima.

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Rua Esperanto, 490, Ilha do Leite, CEP: 50070-390 – RECIFE – PE

Fone: (81) 3231-4445 E-mail: cpt@cptne2.org.br