Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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Nós, mulheres campesinas, ribeirinhas, extrativistas, indígenas, quilombolas e sem terra, neste mês de Março – em que comemoramos os 100 anos da criação do Dia de Luta das Mulheres Trabalhadoras - denunciamos a extrema gravidade da situação do campo brasileiro. Não nos subordinaremos a este modelo capitalista e patriarcal de sociedade, concentrador de poder, de terras e de riquezas. Estamos mobilizadas para enfrentar a crise política, econômica, social e ambiental, criada pelas elites que controlam o Estado brasileiro: o capital financeiro internacional e as empresas transnacionais.
Por isso, denunciamos:

O AGRO E O HIDRONEGÓCIO SÃO INSUSTENTÁVEIS: os monocultivos, com destaque para a cana, soja e eucalipto, causam um forte desequilíbrio ambiental, sérios problemas sociais, gerando graves consequências para a humanidade, através do uso intensivo de venenos. É um modelo que se apropria e domina a água, a terra, as fontes de energia, os minérios, as sementes e toda biodiversidade. Exerce controle das sementes, através dos transgênicos, que provocam o aumento de doenças, especialmente em mulheres e crianças. Avança sobre os recursos naturais, com a ganância de aumentar seus lucros sobre as florestas, na Amazônia e no que resta do Cerrado, da Mata Atlântica, do bioma pampa e do semi-árido nordestino.

SUPEREXPLORAÇÃO DO TRABALHO: os grandes lucros deste modelo são obtidos através de baixos salários, precarização, ameaça constante de desemprego e condições semelhantes de trabalho escravo. É esta superexploração do trabalho que permite que a mercadoria fruto deste modelo seja uma das mais baratas e competitivas do mundo.

FINANCIAMENTO DO ESTADO : este modelo é beneficiado através de investimento público que tira dos pobres em forma de impostos e passa os recursos para os ricos. Sem esses recursos, o governo não consegue investir em educação, emprego, saúde, direitos previdenciários, habitação e reforma agrária. É o modelo mais rentável para os capitalistas, e o mais dependente dos investimentos públicos. Por gerar divisas em dólar, o governo e o Estado lhe dão total amparo. Em especial, em linhas de crédito: o agronegócio recebe mais de 65 bilhões de reais por ano dos bancos públicos. E com isenção dos impostos de exportação. Exportar apenas matéria prima não desenvolve o país, nem distribui renda a todos e todas.

ALIANÇA CRIMINOSA : há uma aliança entre os capitalistas e os grandes proprietários de terra com as empresas transnacionais que controlam o fornecimento dos insumos industriais -adubos, fertilizantes, venenos e máquinas- e o preço e o mercado de cada produto.

CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA LUTA: nos últimos tempos, o Estado tem utilizado todo aparato policial, o Poder Judiciário e a mídia para defender as empresas, o agronegócio e a propriedade privada e criminalizar as lutas sociais. A criação da CPI do MST é a prova de que querem acabar com o direito constitucional de fazer luta. Exigimos que o governo tenha coragem de pautar uma CPI para as empresas do agronegócio e que o governo tenha também a CORAGEM de implantar o nosso Projeto de Reforma Agrária, uma dívida histórica com os trabalhadores, num país cuja herança é de cinco séculos de latifúndio! Reafirmamos a luta como única saída para as transformações sociais! E nós temos direito de lutar!

Estamos mobilizadas para defender a agroecologia, a biodiversidade, a agricultura camponesa cooperada, a produção de alimentos saudáveis, a Reforma Agrária, os direitos previdenciários, a saúde e educação gratuita e de qualidade para todos. Para defender a terra, a água, as sementes, a energia e o petróleo como bens da natureza a serviço dos seres humanos.

Por um mundo sem violência contra as mulheres - nossa luta também é pelo fim de toda forma de violência cometida contra as mulheres. A violência está alicerçada no machismo, no modelo de sociedade patriarcal e capitalista, que nos coloca como mercadorias e objetos, e outras formas de mercantilização do nosso corpo, além da exploração da nossa força de trabalho não remunerada.

Temos o direito de decidir sobre os rumos de nossas vidas e de nossa sexualidade. A violência contra a mulher precisa acabar no nosso país e devemos construir uma sociedade onde todos e todas tenham o direito de viver com dignidade. E para isso, convocamos todo o povo brasileiro a ir à luta, e a nos unir para construir um novo projeto de desenvolvimento, que beneficie o povo brasileiro e que seja alicerçado por novos valores e novas relações sociais.

Seguiremos lutando e organizando as mulheres, os homens, a juventude trabalhadora, as crianças, para defender os nossos direitos de viver no Brasil justo, igualitário, soberano e sem violência contra as mulheres!

VIVA OS 100 ANOS DO 8 DE MARÇO: DIA INTERNACIONAL DE LUTA DAS MULHERES TRABALHADORAS!

VIA CAMPESINA BRASIL – MARÇO 2010

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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