Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Pequenos agricultores de Alagoas fizeram protestos essa semana contra a cobrança de dívidas antigas. Muitos estão ameaçados de perder as propriedades.

Seu José Vicente tem 74 anos e mora na zona rural de Craíbas, município do agreste de Alagoas. Ele conta que em 1996, tomou um empréstimo de R$ 34.800 mil num banco federal através do Fundo de Financiamento do Nordeste, o FNE. O dinheiro foi investido na propriedade de 35 hectares.

O agricultor comprou 16 vacas, um touro, fez um cercado, plantou capim e palma para o gado. Mas por causa dos sucessivos períodos de estiagem, perdeu tudo. O prazo final para o pagamento da dívida venceu há quase dois anos.

Foi por causa de situações como a de seu José Vicente que outros pequenos agricultores de alagoas decidiram nesta semana, bloquear duas ruas no centro de Arapiraca. A manifestação foi organizada pelo movimento dos agricultores endividados do Nordeste. Com correntes e cadeados, eles fecharam as portas das agências do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste.

Os produtores acamparam na rua e fizeram vígilia na porta dos bancos. Eles alegam que não têm condição de pagar o que devem, apesar das rodadas de negociações. É o caso de José Santana. Ele deve cerca de R$ 13 mil aos dois bancos.

“Estou devendo cada dia mais. Eu quero pagar os juros que eu possa pagar. O que eles querem hoje eu não tenho”, fala José Roberto Santana, agricultor.

Em Alagoas, de acordo com o movimento, 60 mil pequenos agricultores devem aos bancos. Alguns produtores rurais podem até perder as terras em leilão por causa das dívidas.

Cleonice Nunes, agricultora, é um exemplo. Em 1994, a agricultora pegou um empréstimo de R$ 4 mil para investir no cultivo do fumo, mas perdeu a lavoura. Hoje, a dívida já ultrapassa os R$ 100 mil.

“As nossas terras já foram visitadas pelo oficial de justiça. Estamos com o prazo pra vender no dia 31 de março e sabemos que vai para leilão”, conta Cleonice.

Setenta por cento das dívidas dos agricultores alagoanos foram contraídas por meio de linhas de crédito do Pronaf, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. As manifestações duraram quatro dias. Na quinta-feira, os produtores decidiram acabar o protesto.

Depois de cantar o Hino Nacional e fazer orações, eles retiraram as correntes e os cadeados dos bancos. Num gesto simbólico, passaram as correntes no pescoço e nas mãos para chamar a atenção para o problema.

Em Brasília, nós procuramos o Governo Federal. Em Brasília, quem está cuidando da dívida dos agricultores é o Ministério da Fazenda que no início do ano encaminhou aos bancos um pedido de informações sobre a situação atual do endividamento. O governo estima dos cerca de 300 mil contratos firmados antes de 2001 só na região Nordeste, a maior parte esteja inadimplente mesmo depois da renegociação.

O governo quer saber quanto são os vendedores e o tamanho dessa inadimplência. O secretário adjunto d e política econômica do Ministério da Fazenda Gilson Bittencourt não quis conceder entrevista. Mas garantiu que está atendo as manifestações dos agricultores e que só depois de receber as informações dos bancos vai decidir se adotará novas medidas.

O secretário de Agricultura de Alagoas, Jorge Dantas, está tentando promover um encontro o governador Teotônio Vilela com representantes dos bancos, para discutir a situação.

ProgramaGlobo Rural, 28/02/2010.

 

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