A lógica apresentada por dirigentes do MST é que descapitalização de empresas do agronegócio favorece a aquisição de terras pelo governo para o assentamento de sem-terra.
Para eles, a rápida expansão territorial de companhias de celulose e de usinas foi interrompida pela escassez do crédito ou mesmo por prejuízos com investimentos de risco no mercado financeiro.
O otimismo com oportunidade trazida pela crise encontra o seu paralelo no desencanto com o governo Lula, um aliado histórico dos sem-terra. Para dirigentes do movimento, falta de crédito ao agronegócio facilita a aquisição de terras para assentamentos
Tema dominou discussões do primeiro dia do encontro em comemoração aos 25 anos do MST; militantes também criticaram Lula
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SARANDI (RS)
"O Lula perdeu a chance de fazer um grande programa de reforma agrária, ampla, massiva, de desapropriação e expropriação das fazendas que não cumprem a função. Lula fez a opção pelo agronegócio", disse Marina dos Santos, da direção nacional do movimento.
O dissabor mais recente veio esta semana e repercutiu no encontro nacional. Foi o anúncio da injeção de R$ 2,4 bilhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para ajudar a Votorantim Papel e Celulose a comprar parte da Aracruz Celulose. O custo total da fusão é estimado em R$ 2,7 bilhões.
"Com a quebra da Aracruz, só aqui no RS ficaram disponíveis mais de 176 mil hectares, porque a empresa parou de adquirir novas áreas para plantar pínus e eucalipto. Agora o governo vem e injeta o dinheiro ao invés de fazer reforma agrária?", afirmou Cedenir de Oliveira, outro integrante da direção nacional do MST.
Com 1.300 delegados de 24 Estados, segundo a organização, o encontro nacional ocorre no assentamento criado na antiga fazenda Annoni, local onde o MST realizou sua primeira invasão, em outubro de 1984, nove meses após sua fundação.
O MST não permitiu o acesso dos jornalistas às plenárias de ontem. Uma barreira formada por militantes abordava quem chegava por uma estrada de terra e repórteres eram barrados na entrada do assentamento, onde aconteciam entrevistas com líderes do movimento.
Equipes da Brigada Militar ficam nos cruzamentos que dão acesso ao lugar para evitar invasões à fazendas próximas.
Folha de São Paulo, 22/01/2009