"A política do governo sempre será influenciada quando se aproxima um período de eleições", afirma o presidente do Incra, Rolf Hackbart. Com isso ele explica o aumento vertiginoso no número de autorizações de desapropriações no início de 2008. O Governo precisará somente de algumas semanas para desapropriar mais hectares de terra do que durante todo o ano passado.
*Por Fernando Arias/UBV América Latina
O presidente Luis Inácio Lula da Silva vem recebendo duras críticas dos movimentos sociais, que o acusam de estar priorizando os interesses das empresas transnacionais e a expansão das monoculturas para a produção de agrocombustíveis em detrimento de uma política de apoio e fortalecimento da agricultura camponesa. Exemplo disso é que em 2007 foram desapropriados apenas 204.500 hectares de terra. O pior ano em desapropriações desde o início do primeiro mandato do Governo Lula.
Um dos motivos para o tão baixo desempenho do ano passado, de acordo com o próprio Presidente do Incra, Rolf Hackbart, foram os investimentos feitos na produção agroindustrial (agrocombustíveis, soja, papel-celulose). “Nos vários estados, os preços da terra aumentaram muito e isso tem uma ligação com o avanço das monoculturas”, afirmou Hackbart.
O paradoxo é que, somente nos primeiros meses deste ano, o governo já assinou decretos que aprovam a desapropriação de 107.000 hectares de terra improdutiva.
Hackbart afirmou que "dentro de duas semanas o governo estará desapropriando 242.191 hectares de terra improdutiva, alcançando com isso maiores números na distribuição de terra do que durante a totalidade do ano passado".
Qual é a explicação para essa mudança repentina da política do governo?
O mais provável é a de que o presidente Lula não quer arriscar perder o apoio dos eleitores nos movimentos sociais que lutam pela reforma agrária.
“A política do governo sempre será influenciada quando se aproxima um período de eleições”, confirma Rolf Hackbart, referindo-se às eleições municipais de Outubro como um dos motivos que influenciou o acrescimento repentino nos números de desapropriações.
A súbita mudança de política referente à Reforma Agrária mostra a ambigüidade da política econômica do governo Lula, que por um lado incentiva a expansão da monocultura, a produção de agrocombustíveis e as empresas transnacionais, e do outro, devido ao peso político que possuem hoje na sociedade brasileira, tenta ser "amigo" dos movimentos sociais.