Fonte: Agência Carta Maior
André Barrocal
BRASÍLIA – Às vésperas de 2007, os fazendeiros começaram a dar sinais de que pretendem pedir socorro ao governo mais uma vez este ano e reivindicar a renegociação de dívidas antigas e recentes. O motivo seria uma suposta falta de caixa para honrar prestações de empréstimos que vencem em 2007. Nesta sexta-feira (05), contudo, o governo deixou claro que não está disposto a rever contratos dos ruralistas, depois de ter refinanciado R$ 20 bilhões em débitos no ano passado. Um novo acordo, só em caso de uma improvável crise.
O recado foi dado pelo ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, numa entrevista coletiva em que ele fez um balanço sobre as exportações rurais no primeiro governo Lula e falou sobre as perspectivas do setor. Segundo o ministro, os fazendeiros terão dinheiro suficiente para pagar dívidas este ano, pois os preços dos produtos estão subindo, e o clima favorável afasta a hipótese de a safra quebrar.
Só com o comércio exterior, Guedes Pinto estima que os ruralistas ganharão de US$ 5 bilhões a US$ 7,5 bilhões a mais do que em 2006, em função do crescimento esperado de 10% a 15% nas exportações do setor. No ano passado, as vendas do chamado agronegócio para o exterior foram recordes: US$ 49,4 bilhões.
“Neste ano, teremos, sem dúvida, um acréscimo de renda do produtor. Não há justificativa para renegociação generalizada de dívidas”, disse Guedes Pinto. “Se houver algum sinistro, claro que o governo não ficará insensível e fará uma revisão de dívidas, mas será caso a caso. Mas em condições normais, não há necessidade.”
Em dezembro, durante um almoço de fim de ano com jornalistas, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) admitiu que 2007 será melhor para o setor, com a recuperação dos preços e da renda dos ruralistas. Mas disse também que as conseqüências da crise de 2005 e 2006 ainda não foram superadas. Por isso, o setor seria obrigado a pedir mais prazo para saldar empréstimos.
“Em 2007, teremos uma crise de liquidez. O problema do endividamento ainda não foi resolvido. Vamos chorar novamente que estamos devendo. Mas não é nada novo, é a crônica de uma morte anunciada”, afirmara, na época, o presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo.
Exportações recordes e o ‘boom’ do álcool As exportações do agronegócio dobraram entre dezembro de 2002 e 2006, saltando de US$ 24,8 bilhões para US$ 49,4 bilhões. A variação é menor que a registrada pelo conjunto de todos os tipos de produtos exportados pelo Brasil (máquinas, carros, petróleo), que subiram quase 130%. Segundo o ministro da Agricultura, a diferença se deve ao fato de que o setor agrícola já tem um peso grande nas vendas externas (36%). Ou seja, a base de comparação seria grande.
A exemplo do que ocorreu com as exportações de maneira geral, no setor agrícola também foi importante para o avanço das exportações, a ampliação da lista de países compradores. Em 2006, a agricultura nacional tinha clientes em 212 países. “Apesar da forte crise do setor nos últimos dois anos, tivemos um desempenho extremamente positivo nos últimos quatro anos”, disse Guedes Pinto. O Brasil diversificou muito suas exportações. E essa é uma tendência cada vez maior.”
Dentre os principais produtos exportados, o que mais se destacou nos últimos quatro anos foi o chamado complexo sucroalcooleiro (açúcar e álcool), em decorrência da explosão de consumo do álcool combustível ao redor do mundo. As vendas externas do segmento subiram 243%, totalizando US$ 7,8 bilhões no ano passado.
“O mercado mundial de álcool tende a crescer, e o Brasil é o destaque nas exportações”, disse o ministro da Agricultura. A CNA, contudo, é mais cautelosa. “O ‘boom’ do etanol também está acontecendo nos Estados Unidos, e a produção deles é maior do que a nossa”, afirmou Ricardo Cotta, superintendente técnico da entidade.
Depois do segmento sucroalcooleiro, o segundo maior aumento de exportação entre 2002 e 2006 foi do segmento “carnes”, de 170%, para US$ 8,6 bilhões no ano passado. As vendas externas do complexo soja (grão e óleo) cresceram só 55% em quatro anos, mas continuaram líderes no setor rural. Fecharam 2006 em US$ 9,3 bilhões, alta de 55% desde o fim de 2002.