Depois de nove anos de luta, os trabalhadores rurais do antigo Complexo do Engenho Prado conseguiram a efetiva imissão de posse dessas terras. Porém, a situação de repressão contra os assentamentos continua.
Severino Francisco de Melo, Rolielsom Francisco Tavares, Valdomiro Antonio da Silva, Jebesom José Ferreira e João Carlos dos Santos estavam construindo casas no assentamento quando, por volta das 14h.30, os policiais chegaram no local. Desde aquela manhã, os assentados haviam notado a presença de viaturas policiais rondando a região. Ao chegar, os policiais ordenaram que os agricultores sentassem no chão, de costas para a local onde fariam uma busca. Depois de cerca de 10 minutos, um policial avisou que havia encontrado um revólver calibre 38 em um local próximo de onde os agricultores trabalhavam.
Nesse momento, o delegado ordenou que os trabalhadores deitassem no chão, com a cabeça para baixo, e assim foram algemados. Um deles, Severino de Melo, foi obrigado a tirar a roupa e foi levado sozinho para uma das viaturas. Enquanto isso, os policiais ameaçavam os assentados, aos gritos, para que confessassem a propriedade da arma e começaram a espancar Rolielsom com tapas no rosto. Os espancamentos duraram cerca de 20 minutos, até que sua boca começou a sangrar.
Os assentados não responderam às acusações e os policiais os colocaram nas viaturas e se dirigiram para a cidade de Araçoiaba, onde mora a mãe de Rolielsom. Chegando lá, os policiais fizeram uma busca na casa, mesmo sem apresentar mandado judicial. Como não encontraram nada, novamente começaram a espancar Rolielsom, com tapas e socos. Ele foi obrigado a se ajoelhar, enquanto os policiais pressionavam suas costas em direção ao chão. Por duas vezes, os policiais cobriram a cabeça de Rolielsom com um saco plástico, ameaçando sufocá-lo.
Mesmo sob tortura, os policiais não conseguiram as confissões dos assentados. Por volta das 17h., novamente se deslocaram para o assentamento, desta vez em direção a casa de Severino de Melo, onde estavam sua irmã e sua esposa, que está grávida de cinco meses. Chegando lá, os policiais ameaçaram as mulheres e iniciaram uma busca na casa, sem mandado judicial. Voltaram com outras armas e acusaram as duas mulheres, que começaram a chorar.
Depois disso, um dos policiais se dirigiu para a casa de um outro assentado, José Paulo, que também foi preso. Nesse momento já era noite e os seis trabalhadores foram levados para a delegacia do GOTE no Recife.
Os advogados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) tentaram por várias horas localizar os agricultores presos. Somente por volta das 21h., conseguiram se comunicar por telefone com o delegado João Gaspar, que disse aos advogados que estava com os presos no município de Araçoiaba, a cerca de 65km do Recife. Os advogados suspeitaram que o delegado estaria mentindo e se dirigiram para a delegacia do GOTE no Recife, onde realmente os trabalhadores se encontravam. Porém, ao chegar à delegacia, os advogados Dominici Mororó, Daniel Viegas e Fernando Prioste, foram impedidos de ver os trabalhadores detidos.
Somente depois de cerca de meia hora, Dominici Mororó conseguiu entrar e constatou que o delegado havia pressionado os trabalhadores, mediante tortura (espancamento e choques), a acusarem-se mutuamente de ser proprietários das armas apreendidas. Os advogados protestaram porque o delegado fazia uma acareação, induzindo os trabalhadores Severino e Rolielsom a acusar um ao outro, na presença de outro preso (Valdomiro) a quem tratava como “testemunha”. Em resposta ao protesto dos advogados, o delegado respondeu, “A delegacia é minha, eu faço as coisas do jeito que quiser” e expulsou os advogados da delegacia, obstruindo seu acesso aos depoimentos dos trabalhadores.
Os seis trabalhadores passaram a noite presos. No dia 19 pela manhã, três trabalhadores foram libertados. Ainda encontram-se detidos Severino, Rolielsom e José Paulo.
Recife, 19 de setembro de 2007
Comissão Pastoral da Terra e Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Informações:
Comissão Pastoral da Terra, Tel: 81-32314445
Dominici Mororó (CPT) Tel: 81-99939412
Daniel Viegas (CPT) Tel: 81-88074700
Fernando Prioste (Terra de Direitos) Tel: 81-96491630