Trabalhador Sem Terra é assassinado em Goiás
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Na noite da última segunda-feira, dia 27, o integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Sinval Alves Siqueira, de 53 anos, morreu após levar um tiro na perna esquerda no pré-assentamento Sílvio Rodrigues, no município de Alto Paraíso, em Goiás. Ao sair de sua casa após ouvir barulhos no quintal, Siqueira foi surpreendido por dois homens não identificados. Um deles disparou o tiro que acertou a veia aorta do lavrador. Os familiares acreditam que a morte tenha sido planejada por pessoas que há décadas ocupam irregularmente a área. Há tempo os trabalhadores vinham sofrendo ameaças. Os trabalhadores exigem a rápida apuração do caso por parte da Polícia e temem que uma tragédia possa se repetir no local.
Histórico
A área em questão possui cerca de 5 mil hectares, é comprovadamente devoluta e vinha sendo ocupada irregularmente pela entidade religiosa Movimento da Fraternidade. As terras eram de propriedade da Delegacia de Agricultura de Goiás, e há 20 anos foram transferidas através de comodato para o grupo - que batizou o local de Cidade da Fraternidade. O comodato venceu em dezembro de 2003. A área deveria, portanto, ser devolvida ao estado de Goiás - o que não aconteceu. Naquele mês, cerca de 120 famílias sem-terra ocuparam parte do terreno.
No mesmo ano, a Justiça concedeu imissão de posse destinando a área para fins de reforma agrária. Por inoperância do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), as 121 famílias sem-terra até hoje não foram assentadas. O terreno figurou, inclusive, na relação de Projetos de Assentamento de 2005 do governo federal. A não-efetivação do assentamento fez com que os "fraternistas", como são chamados, continuassem ameaçando as famílias que conquistaram o direito de viver ali.
O Incra considerou, então, despejar o grupo que ocupa irregularmente a área, mas o MST interveio - levando em consideração o trabalho filantrópico realizado por integrantes da instituição na escola pública que existe no local. Desta forma, propôs que o grupo religioso tivesse apenas uma redução da sua área, passando a ocupar 400 hectares dos 2,5 mil atuais, para que os trabalhadores rurais pudessem construir suas casa. A entidade, porém, não concordou: exige pelo menos mil hectares, para assentar pessoas que vivem em outros estados e até fora do país, afirmam os sem-terra.
Os camponeses denunciam ainda que, por trás da disputa pela terra, está a disputa econômica. Cerca de 30% da área está coberta por eucalipto, plantado pela instituição e cuja madeira extraída é a mais lucrativa fonte de renda da instituição - que se diz sem fins lucrativos.