A XIV Assembleia da CPT NE II aconteceu entre os dias 12 e 15 de julho, no Santuário de Santa Fé, localizado no município de Arara, na Paraíba. Sob o tema “Rosto, ação e missão da CPT NE, no século 21, depois do 3º Congresso” a atividade contou com a participação de mais de 100 pessoas, entre trabalhadores e trabalhadoras rurais, representantes de comunidades tradicionais de áreas acompanhadas pela CPT, integrantes das equipes, além de religiosos, professores e representantes de organizações e movimentos sociais. Foi durante a Assembleia que a CPT NE II aprovou e assumiu as linhas prioritárias de ação a serem concretizadas em caráter imprescindível para os próximos anos. As linhas de ações reafirmam o compromisso da CPT em enfrentar o atual modelo de desenvolvimento em curso na região, contra o agro-hidronegócio e de continuar firme na luta pela Reforma Agrária e na defesa dos biomas e das comunidades atingidas pelos grandes projetos (as linhas prioritárias da CPT NE II definidas na Assembleia seguem a baixo).
As definições foram fruto de debates, entre trabalhadores e agentes, que pretenderam identificar as mudanças mais significativas que ocorreram no campo nos últimos anos, além de reflexões sobre o papel da organização e dos camponeses e camponesas frente a essas mudanças. Para contribuir com as análises de conjuntura, a partir das realidades apresentadas por cada região, estiveram presentes os assessores Claudio Ubirtan, geógrafo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e o integrante da CPT do Amapá, Sandro Gallazzi. Também esteve presente na atividade o membro da coordenação nacional da CPT, Flávio Lazzarin.
A Assembleia elegeu, também, a nova coordenação regional da CPT para o próximo triênio. Foram eleitos Antonio Cleide, da equipe de Cajazeiras, Tânia Maria de Sousa, de João Pessoa e Carlos Lima, de Alagoas. Ao final da atividade, os participantes leram e aprovaram a carta da XIV Assembleia Regional, que foi elaborada a partir dos debates feito entre os trabalhadores e agentes.
- Apoiar a Luta pela terra e pela Reforma agrária para construção de territórios camponeses e para vida dos diferentes biomas;
- Fortalecer as práticas de solidariedade e partilha na construção de “comunidades” sustentáveis, superando os vícios de muitas organizações e associações, fortalecendo o seu protagonismo na busca de políticas públicas para o campo.
- Visibilizar a Agroecologia como modo de vida, potencializando e intercambiando as experiências das famílias camponesas;
Propiciar uma formação processual baseada na lógica do “Bem Viver”, nas tradições culturais e outros valores do campesinato. Que esta formação fortaleça a educação do campo e considere as questões de gênero, geração, raça e etnia.
- Construir com a juventude, a articulação, organização e formação que favoreça a permanência na terra;
- Continuar denunciando e enfrentando o modelo capitalista (hidro-agronegócio) no campo que destrói a “Vida”;
CARTA DA XIV ASSEMBLEIA REGIONAL DA CPT NORDESTE
“Ouça os clamores da Terra
Dos seus povos a aflição
Vamos nós, a CPT
Fazendo a nossa missão
Bendito seja o Cristo
O Deus Pai da salvação”
João Muniz - Paraíba
No espaço do Santuário de Padre Ibiapina, em Santa Fé , Arara – PB, estamos realizando mais uma Assembleia da Comissão Pastoral da Terra.
Somos trabalhadores, trabalhadoras e agentes pastorais reunidos nesta Terra Santa, vindos dos quatro estados do nosso Regional – Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte – para celebrar a caminhada, analisar os desafios da realidade que vivemos hoje e para definir novas ações a serem concretizadas nos próximos anos.
Inspirados e inspiradas pela vida missionária deste apóstolo dos Pobres dos sertões nordestinos, reafirmamos o compromisso de manter viva a MEMÓRIA das Lutas e Resistência do Povo do campo, das muitas conquistas sofridas, e por isso mais gratificantes, e lembrar tantas vidas doadas de quem morreu no caminho como Mártires da Terra.
Constatamos com preocupação que o atual MODELO capitalista que predomina no mundo e no nosso país, é capaz de superar qualquer crise, de se reorganizar permanentemente e de penetrar com força nos nossos territórios e regiões, devastando a natureza, sacrificando vidas e deixando para trás populações inteiras. Este modelo é concretizado no avanço das grandes empresas do agronegócio, nas grandes obras de infra-estrutura, nos monocultivos da agro-indústria, na transposição do rio São Francisco e na busca frenética das empresas de mineração que, com o apoio do capital financeiro e recursos públicos, disputam e invadem as terras provocando estragos e ceifando vidas.
Estamos indignados e indignadas com esse tipo de Progresso Econômico e afirmamos nossa decisão de enfrentá-lo com nossa LUTA PELA TERRA e pela REFORMA AGRÁRIA para reconstruir e fortalecer nossos territórios; queremos fortalecer nossa “aliança” com as COMUNIDADES do campo que resistem com suas tradições culturais e práticas agroecológicas e que cuidam da MÃE TERRA, para que ela continue gerando vida e ser espaço de felicidade e de Bem Viver para os povos do campo.
Firmes como as “Baraúnas das Araras” (Arara – PB) e na fidelidade ao Deus dos Pobres e aos Pobres da Terra e a fidelidade a terra que é Mãe de todos nós, fazemos a todos e a todas que nos acompanham o apelo a aderir, no próximo mês de setembro, ao Plebiscito pelo Limite da Propriedade da Terra, como novo instrumento para garantir a Soberania Territorial e Alimentar em nosso país.
Temos paciência histórica porque sabemos que “a força dos fracos é o tempo lento”, mas temos a certeza que o nosso horizonte de “um novo Céu e uma nova Terra” está sendo construído neste tempo pelas experiências de Luta e de Vida dos Pobres.
“Chegue o tempo em que serão destruídos os que destroem a Terra”
(Bíblia, apocalipse 11, 18)
Os participantes da XIV Assembleia Regional da CPT Nordeste
Santa Fé, Arara - PB
15 de julho de 2010