“A riqueza de uma nação não se mede por critérios quantitativos, mas pelo bem-estar do seu povo” (Papa Pio XII)
Somos gente do campo vinda do sertão, da mata, agreste e litoral, convocados pela Comissão Pastoral da Terra de Alagoas para participar da 21ª Assembleia Estadual e aprofundar o tema “Campesinato: Cooperação e Solidariedade”.
Vivemos em um estado tomado pelo monocultivo da cana de açúcar que explora os canavieiros, concentra a terra e impõe o seu modelo excludente à maioria da população alagoana. Somos a resistência campesina e representamos o sinal de esperança no campo. Em nossas mãos calejadas temos 11% da terra, enquanto o agronegócio com sua prática de desmatamento e expulsão das famílias detém 62% voltada exclusivamente para exportação, produzimos 97% do arroz, 92% do feijão, 88% da mandioca; 92% do milho; 60% dos ovos; 100% do horti-fruti e 52% do leite produzido no Estado de Alagoas. Somos um povo de luta e trabalhador!
Mesmo sendo grandes produtores, não contamos com o apoio dos Governos, que dificultam a aquisição dos créditos e não investem na infra-estrutura necessária para os assentamentos. É precária a situação das nossas estradas e isso impossibilita o escoamento da produção, atrapalha na educação das nossas crianças e no acesso aos postos de saúde que muitas vezes ficam a vários quilômetros de distância.
Com a luta em defesa da reforma agrária aprendemos que temos que edificar um projeto popular camponês, independente do processo eleitoral, o nosso compromisso é modificar as estruturas injustas do campo e continuar construindo espaços de aprofundamento do modelo que queremos e no fortalecimento da nossa organização. As eleições têm a sua importância e não iremos ignorar, apesar de que os possíveis palanques a serem montados, nos quais as oligarquias e o coronelato têm lugar de destaque, confundem a população e não apontam para mudanças estruturais.
Assumimos como nossa, a luta das 28 famílias acampadas na fazenda Boa Esperança em Major Isidoro que estão sendo intimidadas pelo deputado federal Benedito de Lira e seu filho, o deputado estadual Arthur Lira, ambos do PP-AL. As ameaças de expulsão são constantes, mas a fazenda encontrava-se abandonada há mais de 10 anos, é devedora do Banco do Nordeste e completamente improdutiva. O mais grave dessa situação é que as famílias entraram no imóvel a pedido do proprietário.
Além disso, a decisão injusta do juiz Ayrton Tenório, titular da vara Agrária, em conceder a reintegração de posse ao proprietário, beneficiou o latifúndio improdutivo e não observou a situação das famílias que estão acampadas há quase dois anos e vivem exclusivamente da roça e da criação de animais. O clima ficou ainda mais tenso no imóvel, e por isso, sentimo-nos chamados para ser solidários com essas famílias e seremos.
Em comunhão com o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC) iremos contribuir com a campanha da fraternidade ecumênica que discute uma economia a serviço da vida, negando o lucro do capital e fortalecendo a economia local e solidária, além da realização de um plebiscito que debaterá e consultará a sociedade a respeito do limite da propriedade da terra, que no caso do Brasil é a segunda mais concentrada do mundo.
Vamos intensificar as realizações das feiras camponesas e fundar a nossa cooperativa, que chamaremos de “Terra Mãe”, para potencializar a nossa produção agroecológica e garantir o fortalecimento da comercialização dos nossos produtos. Também vamos priorizar a formação da juventude e dos nossos militantes com o objetivo de construir a nossa autonomia.
Saímos desta assembleia conscientes que temos que aumentar a nossa cooperação e sermos, ainda mais solidários com as pessoas e com suas lutas. Apoiaremos as iniciativas coletivas e colaboraremos com as organizações que se empenham no mutirão de uma terra sem males.
Barra de São Miguel, 04 de março de 2010.
Carta da 21ª Assembleia da CPT-AL
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