Há muito se fala no resfriamento global. Afinal, é da natureza da Terra reorganizar sua temperatura, como nos ensinou James Lovelock. A Terra passa por alternâncias naturais de sua temperatura e se esperava, para não muito distante, uma nova era do gelo. Afinal, vivemos num intervalo de aproximadamente dez mil anos de aquecimento, já que antes o planeta estava gelado. Quem quiser conhecer as marcas desse fenômeno, vá até o sítio arqueológico da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí. Ali encontrará as marcas da imensa floresta tropical, com sua fauna de grande porte, que cobria o que hoje é a caatinga.
* Roberto Malvezzi (Gogó)
Porém, no dia em que começa a Conferência de Copenhague sobre mudança climática - essa deslanchada pela mão humana -, o vazamento de e-mails de alguns cientistas pôs em dúvida todo arsenal de pesquisas do IPCC, pretendendo retirar sua credibilidade. Por mais ingênuo que seja um ser humano ao ler a mídia – que falta nos faz Paulo Freire! -, é impossível que não desconfiasse dessa vazão em hora tão oportuna.
Imediatamente a ONU se encarregou de dizer que bebe em muitas fontes, que ali estão quase dois mil cientistas, que as marcas do aquecimento global são óbvias. Portanto, ainda que fosse a melhor notícia que a humanidade recebesse nesse momento – que não estaríamos passando por um processo de aquecimento global -, é preciso pôr os pés no chão. Por pior que sejam as conseqüências do fenômeno, é melhor tomar consciência da realidade e tentar fazer o que for possível para o bem da comunidade da vida, particularmente a humana, como do próprio Planeta. Esse sabe defender-se por conta própria, regulando sua própria temperatura. O pior fica para os seres vivos que habitam sua pele.
A esperança em relação à Copenhague diluiu-se bastante. Os donos do mundo não querem tomar decisões sérias que impliquem em mudança nos rumos da civilização humana. Assim, como cegos que guiam cegos, conduzem a humanidade firme, seguramente, em linha reta na direção do abismo.
Entretanto, a multidão dos que querem essa mudança profunda, embora não tenha poder, só faz crescer. É nesses lutadores que se deposita a última esperança. Ou então, como querem os donos dos combustíveis fósseis, esperemos por um coincidente resfriamento global natural, por misericórdia de Gaia.
* Roberto Malvezzi (Gogó) é da Comissão Pastoral da Terra