Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

\"\""Educar não é carregar o povo, mas permitir que ele descubra sua força e construa seu próprio caminho”


Neste ano, em que comemoramos 100 anos de Dom Helder, perguntávamos-nos como gostaria o Dom de ser lembrado por nós. Esse homem tão verdadeiro, tão radicalmente terno, capaz de amar a diversidade e abraçar a adversidade.

* Ana Claudia Pessoa

Um Homem cheio de vontade de aprender e senso de justiça, que só podia mesmo ser um DOM, um presente para esse povo nordestino. Um Homem encontrando-se entre as palafitas e caranguejos, entre os maracatus e cantos marianos, entre pessoas tão diferentes, ouvindo-as e acatando seus conselhos. Não queria seguidores, mas sempre quis compartilhar o que via, sentia, fazia, convocando para a partilha do que não estava na mesa, mas era de todos/as.

Então, nos damos conta de sua Pedagogia, seu rigor e amorosidade, sua profunda crença na vida e no povo. Um educador impulsivo, recorrente, capaz de sonhar e abraçar sonhos possíveis. Assim, vamos perguntando, quem é o educador, educadora? Quem é o professor/a? O que ele professa? Em que ele acredita? Como ensina e como aprende? Quem se forma? Quem ele/ela forma? Elas e eles formam (elas e eles, uma vez que as mulheres são a maioria...).

Olhando este mundo poluído e surdo, globalizando a pressa e o esquecimento, a homogeneidade e o descarte, nos damos conta de como precisamos delas e deles, dos  professores, das professoras!

De como segue incômoda a Pedagogia do Oprimido, e o convite de FREIRE para desnudar a realidade, a pôr-se em dialogo com ela, desnaturalizando o saber, a dor, a opressão, a realidade, em suas tantas relações e formas.

Como precisamos delas e deles... De Dona Moça, com sua reza e seu frevo, sua disciplina e entusiasmo. Presença solidária e firme, mulher mais linda que já conheci; de Gibinha, fazendo arte e cobrando rigor, na escola pública, no sertão do Araripe, com quem muito aprendemos. Aprendemos que mundo e Raimundo é uma rima, não uma solução... e começamos uma invenção.

De Elizabeth Teixeira, professora, lutadora camponesa, com sua práxis dolorosa, mas sempre em marcha, na mesma luta, no mesmo sonho onde tombou seu amor, mas não a impediu de segurar na mão de outros para ler o tempo do silencio e escrever a vida sem perder a direção do caminho.

As Professoras, professores: artistas, guerreiras/os, incômodas/os...

Profetas de que tempo?

Precisamos seguir ouvindo o grito de Ir. Dorothy, grito de sementes que se perdem para o comércio da morte, de leis incapazes e poderes embriagados; Grito da terra, da mata, das águas..., pela boca de alguém que não era deste chão... Grito de quem se fez irmã, dos povos invisíveis, de povos em resistência.

Mulheres e homens feitos de outra matéria, como Vitalino, cuja ética e beleza dão forma até hoje o Alto do Moura; Como Anísio Teixeira e Josué de Castro, com seus olhos atentos aos povos que misturados com a lama, que entranhados nas roças e nos rincões, são gente cavando o direito de viver.

Precisamos seguir transgredindo, ocupando nosso espaço, abrindo passagem para o novo, ainda que isso nos traga dor. Criar possibilidades, ousar a novidade e a pureza de acreditar no ser humano, seguir entrando em cena com Augusto Boal, e a estética do oprimido, construindo o fórum das mudanças possíveis.

Como Makarenko, apostando na coletividade, como Che, estudando, durante a exaustão da Batalha, como os jovens brigadistas Nicaragüenses, do exército popular de alfabetizadores, que durante o ano de 1980, entregaram-se ao dever prazeroso de subir as montanhas, de atravessar o país, construindo Saberes, ressignificando o tempo, construindo novas identidades, identidades em pleno movimento.

Como é necessário recorrer a eles e elas, para (re) encontrar a mística de sermos educadores/as, em um tempo onde o avanço tecnológico, a ampliação da fronteiras de comunicação, não servem para humanizar, mas para condicionar, mercantilizar, mecanizar os homens e mulheres.

Assim, reafirmamos nosso respeito e comemoramos tantos e tantas, com os quais aprendemos a ser o que somos. Aos educadores e educadoras Comprometidos deste país, deste continente, e deste tempo histórico que irmana gente de boa vontade, que não se permite perder o brio e o brilho, nem se prende por fronteiras, culturas ou títulos.

Nossa homenagem especial aos que fazem de suas vidas, de seu trabalho, espaço de encontro e libertação. Porque encontrar-se, é reconhecer-se no espelho, no espaço da vida do outro, e somar com ele, ensaiar, provocar reação, mudar juntos.

Não sabemos muito, mas queremos aprender, aprender mais de perto, com os educadores /as que escolheram estar no campo, nos presídios, nos acampamentos e assentamentos, nos hospitais, nos lixões, nos lugares que nem sempre aprecem nos mapas, nem nos índices de desempenho. Pois entenderam que ensinar exige alma, para superar as distâncias criadas entre o direito e o povo brasileiro.

 

* Ana Claudia Pessoa é do Coletivo de formadores da CPT PE

 

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