Essa semana, a Usina Vitória, localizada no município de Palmares (zona da mata de Pernambuco) foi autuada pelo Ibama por usar madeira ilegal em seu parque industrial. As toras são da mata atlântica, que tem o corte proibido por lei federal. Além da degradação do meio ambiente, a Usina, que pertence ao Prefeito de Palmares, José Bartolomeu de Almeida Melo, conhecido como Beto da Usina, também tem o histórico de manter trabalhadores em condições de Escravidão. Em novembro do ano passado, foram encontrados mais de 240 canavieiros em situação de trabalho escravo.
Casos como esse explicitam que, mesmo que haja a produção, o modelo dos monocultivos não cumpre com a função social, já que explora milhares de trabalhadores e degrada o meio ambiente. Apesar da Constituição Brasileira prevê a desapropriação de terras onde sejam encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo, por exemplo, as usinas continuam sendo acobertadas pelo poder público.Leia a matéria publicada hoje no Jornal do Commercio
Usina autuada por usar madeira ilegal
Usina Vitória abriga serraria que utiliza toras de mata atlântica
Seis meses depois de denunciada pelo Ministério do Trabalho e Emprego por uso de mão de obra escrava, a Usina Vitória, em Palmares, a 120 quilômetros do Recife, na Zona da Mata sul, voltou ontem a ser alvo de uma ação do governo federal. Dessa vez foi o Ibama que autuou a empresa por abrigar no seu parque industrial uma serraria abastecida por madeira ilegal. As toras são de mata atlântica, que tem o corte proibido por lei federal.
“A serraria funciona no pátio da indústria e é abastecida com madeira de árvores de remanescentes florestais da região”, afirma o coordenador de operações do Ibama, Alberto Rodrigues. Segundo ele, a serraria pertence à usina ou é arrendada pela empresa, que pertence a José Bartolomeu de Almeida Melo, conhecido como Beto da Usina, também prefeito de Palmares.
Beto da Usina diz que o Ibama se enganou. “Tem uma serraria lá, mas fica num terreno vizinho. Sou dono da usina, mas a serraria não é minha”, garantiu. Alberto Rodrigues informou que as máquinas e as toras encontradas ontem no local foram recolhidas por integrantes do Exército que acompanharam a segunda etapa da Operação Sucupira, iniciada semana passada.
Na primeira etapa, concluída na última sexta-feira, o Ibama, a Agência Pernambucana de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) e a Polícia Rodoviária Federal fecharam 18 serrarias irregulares. A ação resultou ainda na aplicação de mais de R$ 1 milhão em multas e no recolhimento de máquinas e de cabos encontrados numa fábrica de vassoura. Mais de 300 toras de espécies da mata atlântica foram apreendidas.
A operação se estendeu, segundo Rodrigues, para que os fiscais finalizassem o trabalho e porque o Ibama recebeu novas denúncias. Ontem, seis fiscais atuaram em Gameleira, a 93 quilômetros do Recife, na mesma região, e cinco em Palmares. As empresas autuadas, segundo o Ibama, não têm cadastro técnico federal ou licença ambiental. Além da multa, os donos de serraria responderão por crime ambiental, ficando sujeitos a penas que podem chegar a três anos de prisão.
Na serraria da Usina Vitória, a equipe recolheu 100 toras de sucupira e 17 máquinas. Em Gameleira, os fiscais encontraram outra serraria no fundo de uma residência. No local havia dez toras de árvores nativas e duas máquinas. O material também está sendo retirado.
DEVASTAÇÃO
Os remanescentes de mata atlântica em Pernambuco estão reduzidos a menos de 5% da cobertura original. Essas ilhas de floresta cercadas por cidades ou canaviais formam o Centro Pernambuco, uma área rica em endemismos, ou seja, na ocorrência de espécies exclusivas. O centro abrange ainda as florestas de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O Centro Pernambuco abriga dois terços das espécies de aves e 8% das plantas vasculares da mata atlântica brasileira. Além de reduzido, esse trecho da floresta atlântica é o que apresenta o mais crítico estado de conservação. Cientistas estimam a existência de mais de 2.250 espécies de plantas, 124 de mamíferos, 96 de répteis e anfíbios e 434 de aves na área.Fonte: Jornal do commercio, dia 07 de maio de 2009