Duas imagens de Dom Helder vêm à mente. Numa delas, ele está tangendo o gado do latifundiário que invadiu a terra de posseiros: “Cadê a Reforma Agrária?”, a imagem grita. Na outra imagem, ele está no meio do povo, em um “Cabo Gato” de concentração de campo urbano, da cidade inchada: “Cadê a Reforma Urbana?” é o grito da imagem. Nas duas imagens ele está com o povo, e o encontro com o povo não é “acidente de percurso” do tipo: encontrava com o povo enquanto caminhava para celebrar Crisma numa paróquia ou inaugurar mais uma igreja. Ele estava com o povo, no meio do povo.
É como ele disse certa vez a um político do partido da ditadura que queria porque queria que o Dom subisse no palanque dele. O Dom disse: “meu lugar é no meio do povo. Se supõe que o lugar do político também é no meio do povo. Vamos nos encontrar por lá.” Este Dom tinha jeito com a palavra!
E, como testemunham as duas imagens anteriores, tinha mais jeito ainda com a prática! Ele entendia que não bastava compreender a realidade. Compreendia que a prática era o necessário. Compreensão sem prática é como a fé sem obras. “Não basta falar a verdade: temos que fazer, construir a verdade.” (João 3:21)
É isso que estamos celebrando neste Centenário do Dom: estamos celebrando a força do fazer de uma vida. Estamos celebrando o convite do Dom: sair da semântica do falar para entrar na prática do fazer. Sair da falação para entrar na “fazeção”. Se, porém, insistirem na semântica, que tal esta conjugação:
Viver: eu vivo, tu vives, ele vive, nós vivemos, vós viveis, eles vivem
Helder: eu Heldo, tu Heldes, ele Helde, nós Heldemos, vós Heldeis, eles Heldam!
Pe. Tiago Thorlby – Comissão Pastoral da Terra - Nordeste II