A Rodada Doha de liberalização comercial vai entrar de uma vez em um período de hibernação, de duração incerta.
O comando da OMC (Organização Mundial do Comércio), o âmbito em que se dá a negociação, pensava inicialmente em convocar uma reunião entre os principais atores do comércio global para entre 13 e 15 deste mês, mas já jogou a data para pouco mais adiante (17 a 19). Reunião neste mês não deve ter êxito, ante dificuldade em conversas com EUA
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Ontem e anteontem, no entanto, uma nova avaliação indicou claramente que as chances de êxito dessa reunião seriam reduzidas, ante as dificuldades nas conversas com o governo norte-americano, o atual e o próximo.
Os líderes democratas nas duas Casas do Congresso norte-americano já enviaram carta ao presidente George Walker Bush para dizer que o pacote que está sobre a mesa não agrada ao partido que será governo a partir de 20 de janeiro.
Tampouco agrada plenamente ao governo em funções, que insiste, por exemplo, em que países emergentes se comprometam com o que o jargão da negociação chama de "setoriais" -iniciativa por meio da qual os participantes deverão efetuar cortes tarifários mais profundos para os produtos selecionados para integrar as "setoriais". Não só os Estados Unidos mas o Canadá e o Japão, apoiados por suas respectivas indústrias, desejam certificar-se de que grandes países em desenvolvimento, como o Brasil, a China e a Índia, também façam parte de tal iniciativa, a qual reduziria dramaticamente tarifas industriais para os setores de autopeças, químicos e produtos florestais.
Há ainda dificuldades técnicas em outras áreas, mas o impasse agora é essencialmente político, dado pela peculiar situação da economia mais rica do mundo, em crise e com dois governos, um deles virtualmente paralisado pela proximidade do fim de seu período e outro que já toma iniciativas, mas não tem a caneta para assinar atos ou acordos.
Pascal Lamy, o diretor-geral da OMC, ainda se dispõe a consultar os principais atores (EUA, União Européia, Brasil, Índia e China, Japão e países africanos), mas a Folha obteve a avaliação de que dificilmente a consulta resultará na convocação do encontro.
Coma
Se for assim, Doha pode passar da hibernação para o coma: a mídia internacional vem especulando com a possibilidade de que o próximo chefe do comércio exterior norte-americano seja Xavier Becerra, identificado com o protecionismo e simpático à reivindicação dos sindicatos de que acordos comerciais incluam a chamada cláusula trabalhista (proteção aos direitos dos trabalhadores). Os países emergentes, Brasil inclusive, rejeitam frontalmente tal hipótese, sob a alegação de que se trata de protecionismo disfarçado.
Em meio a impasse, Doha deve ficar paralisada
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