As fontes de energia brasileiras estão em disputa. O alerta, que parece um tanto exagerado, torna-se mais real a partir da análise da destinação das fontes de energia brasileira para a implantação de um projeto que não serve bem ao desenvolvimento interno e sustentável do país.
A análise parte do integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Joceli Andrioli. Ele chega a tal conclusão a partir do exame da diferença entre os conceitos de soberania e segurança energética no Brasil. O tema que já há muito tempo está sendo debatido pelos movimentos sociais no país, é agora exposto em uma entrevista cedida para a Radioagência NP.
Radioagência NP: Qual a diferenciação entre segurança e soberania energética?
Joceli Andrioli: Soberania seria ter os recursos energético que existem hoje no país à serviço do povo brasileiro, e que esse mesmo povo possa decidir qual será a construção do modelo energético do país. Hoje, grande parte dos nossos recursos estão sendo direcionados e utilizados por multinacionais. Mas veja que não estamos falando de falta de recursos, porque isso nós temos sobrando. Agora, quando falamos de segurança energética, é no sentido de que o povo deve ser atendido em primeiro lugar. Hoje existem milhões de pessoas que ainda não possuem luz em casa e, no entanto, nós somos o terceiro país com maior potencial energético no mundo.
RNP: Mas a falta de uma política de soberania energética pode afetar a segurança energética dos menos favorecidos?
J.A: Deve ficar claro que a decisão sobre a implementação de obras no setor energético como um todo, como agora as referentes ao pré-sal, são decisões políticas adotadas por grandes empresas. O Estado se torna o financiador da implementação de uma série de obras que são financiadas com dinheiro do povo brasileiro,fato que vai acarretar na falta de verbas para a resolução de uma série de problemas sociais, mas esse dinheiro vai enriquecer uma série de empreiteiras, com Camargo Correia, Oderbretch, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. As empresas que utilizam esta energia pagam um preço irrisório. Empresas como a americana Alcoa pagam quatro centavos o kilowatt de energia, enquanto a população paga em torno de 60 centavos o kilowatt.
RNP: Fale um pouco sobre as pessoas que são atingidas com as construções destas hidrelétricas que acabam servindo somente para essas empresas.
J.A: Estas populações não são consultadas, muito pelo contrário, elas são obrigadas, muitas vezes com o uso de força policial, a se retirar de seus locais de trabalho, das suas comunidades, perdendo sua cultura e identidade. Há muitas pessoas morrendo. Muitas são vítimas de ataques de milícias contratadas por essas empresas. Há também o problema da violência na construção destas obras, onde é muito grande o grau de prostituição e o número de famílias que migram para outros locais em busca de emprego, e acabam não conseguindo. O fato acaba trazendo problemas estruturais para outras cidades.
RNP: Para finalizar Joceli. Este processo que ocorre há tempos no Brasil está se acentuando agora na Amazônia. Detalhe isso, por favor.
J.A: Sim. Aí há um detalhe fundamental. Hoje 50% do potencial hidro-energético do Brasil se encontra na Amazônia, e as grandes empresas têm todo um plano de dominação do território amazônico por meio de grandes projetos hidrelétricos, casados com hidrovias e que estão relacionados com o escoamento da soja produzida na região e com a mineração. Inclusive a Raposa Serra do Sol, onde há todo esse debate para tentar tirar as terras dos índios, lá está uma das maiores jazidas de nióbio do Brasil. O Brasil possui 98% das reservas mundiais desse minério e boa parte está na Amazônia. O nióbio está sendo usado nos testes da futura energia nuclear. Aquele teste que fizeram na França onde gastaram oito bilhões de dólares para a construção de um reator que visava simular o bigbang, está relacionado com a produção dessa nova energia. O nióbio é o único minério isolante térmico capaz de ser utilizado na produção dessa energia e cujo as jazidas se encontram no Brasil.
De São Pauylo, da Radioagência NP, Juliano Domingues.
Fonte: Radioagencia NP
ENTREVISTA: Segurança Vs Soberania
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