Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

\"\"A recente queda dos preços das matérias-primas alimentares não mudará nada, ao menos de imediato. O número de pessoas que deverão passar fome aumentará em 2008. E ultrapassará um bilhão de indivíduos em 2009, alertou Olivier de Schutter, relator da ONU para o direito à alimentação, nesta segunda-feira, dia 27 de outubro. A reportagem é de Hervé Morin e publicada no Le Monde, 29-10-2008. A tradução é do Cepat. “A crise alimentar não acabou”, preveniu de Schutter. Em setembro, a FAO havia indicado que em 2008 ao menos 925 milhões de pessoas eram atingidas pela fome, contra 848 milhões entre 2003 e 2005. “Mas esses dados fazem referência ao começo do ano. Depois, as estimativas indicam que 44 milhões de pessoas a mais entraram na lista”, precisou de Schutter, que duvida que o número total de um bilhão seja ultrapassado no começo de 2009. Segundo ele, a esperança de atingir os Objetivos do Milênio fixado em 2000 pela ONU – de reduzir pela metade a fome no mundo até 2015 – se distancia.

“Os preços dos alimentos nos mercados internacionais baixaram desde o pico de junho, quando eram 64% superiores ao nível de 2002. Mas em relação aos mercados nacionais ainda estão em níveis historicamente elevados”, disse. Esta situação deixou marcas entre os mais pobres, que tiveram que reduzir seu consumo alimentar.

Poder de compra insuficiente
Para este jurista, o problema não é a produção e a comercialização dos alimentos – a safra de 2008 deverá ser excepcional –, mas o baixo poder de compra das populações dos países em desenvolvimento. Ele teme que o aumento da produção agrícola seja feito em detrimento dos pequenos produtores. “É preciso evitar a qualquer custo, sob o pretexto de aumentar os rendimentos, incrementar a marginalização dos pequenos produtores e reforçar a diferenciação do sistema agrícola em proveito unicamente dos grandes produtores”, insistiu.

Olivier de Schutter considera que os pequenos agricultores, que constituem a metade dos esfomeados do planeta, devem ser protegidos da volatilidade dos preços nos mercados internacionais. Mas também dos riscos induzidos por uma competição injusta com os agricultores dos países desenvolvidos, cuja atividade é “massivamente subvencionada”.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

 

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