Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Para pesquisadores, população mostrou que tem interesse em participar das discussões e que modelo atual do código pode unir produção e conservação

São Paulo - A capacidade dos ruralistas de fazer andar o Código Forestal na Câmara dos Deputados e no Senado foi resultado da opção de praticamente excluir a população urbana do debate. Segundo pesquisadores ligados à SOS Mata Atlântica, a estratégia dos grandes proprietários rurais foi tratar o tema como se fosse limitado a ser somente um embate entre ambientalistas e ruralistas no Congresso Nacional, sem que dissesse respeito a toda a sociedade.

Em debate online promovido pela ONG, nesta quinta-feira (28), o professor Sergius Gandolfi, doutor em biologia vegetal pela Universidade de São Paulo (USP), afirmou que a população urbana tem de estar mais atenta ao tema, pois "o novo Código Florestal é uma lei que mexe com todos os rios, lagos, cachoeira e florestas existentes no país". Em sua visão, a população mostrou que se interessa pelo tema e quer saber mais a respeito.

Pesquisa do Instituto Datafolha em junho deste ano mostrou que a população brasileira repudia a impunidade e a anistia aos desmatadores e é avessa à possibilidade de áreas de riscos, como topos e encostas de morros, serem usadas para produção agrícola. "Isso conclui que as pessoas têm interesse em saber mais sobre o código florestal e mostra que também estão interessadas em opinar sobre o tema", enfatiza Luís Fernando Guedes Pinto, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

O texto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do texto na Câmara, dá a possibilidade de que se desmate além da atual reserva legal e prevê a redução das exigências de preservação em alguns ecossistemas. Outro ponto de preocupação é a permissão para a consolidação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) que já tenham sido alvo de desmate, inclusive em encostas e em topos de morros. A bancada de representantes do agronegócio tem aproveitado o recesso parlamentar para promover uma nova ofensiva que garanta a aprovação do texto no Senado durante as primeiras semanas do segundo semestre.

Outro alerta feito por Luís Fernando é para que as pessoas procurem saber se os deputados para os quais votaram nas últimas eleições tenham dado seu voto a favor ou contra o novo Código Florestal e à emenda 164 – que concede aos estados o poder de estabelecer atividades que possam justificar a regularização de áreas desmatadas.

Segundo a pesquisa do Datafolha citada pelo professor, 77% acham que a discussão do código deve ser adiada para que a ciência possa se manifestar. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências vêm se manifestando para que o Congresso espere dois anos para que todos os estudos técnicos sejam feitos.

Gandolfi concluiu o debate definindo a manobra de derrubar o atual Código Florestal como um "neoliberalismo tardio", pois defende a desregulamentação no sentido de que o capitalismo rendesse mais se não tiver nenhum tipo de controle. "Nós temos um imenso potencial subutilizado, que é a nossa biodiversidade, no sentido de ter novos produtos e mais renda ao mesmo tempo garantindo a preservação e conservação dos recursos", define Gandolfi.

Por: Virginia Toledo, Rede Brasil Atual

Fonte:http://www.redebrasilatual.com.br/temas/ambiente/2011/07/para-pesquisadores-codigo-florestal-foi-aprovado-na-camara-por-ter-sido-considerado-embate-entre-ambientalistas-e-ruralistas

 

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