Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta quarta-feira (18/05), em Brasília, apontam para um crescimento de cerca de 540% no desmatamento no Mato Grosso no mês de abril, em comparação com março. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, demonstrou grande preocupação com o número. “Trata-se de um fato grave, atípico e contraditório. Em um mês, houve no Mato Grosso quase a quantidade total de desmatamentos ocorridos no ano passado”, comentou.
Por Bruno Taitson
Os números foram apurados pelo sistema Deter do Inpe, que apura focos de desmatamento em grandes áreas em tempo real e tem como principal função alertar o governo para tendências de alta no desmatamento. Em março deste ano, no estado do Mato Grosso, foram detectados 74,7 quilômetros quadrados de desmates. Em abril, o número saltou para impressionantes 405,6 km2. Em toda a Amazônia brasileira o desmatamento passou de 115,6 km2 para 477,4 km2. Portanto, o estado mato-grossense respondeu por 85% dos desmates na região.
Ambientalistas concordam no sentido de apontar uma correlação direta entre o estrondoso aumento dos desmates nas regiões de fronteira do agronegócio mato-grossense e a perspectiva de aprovação do substitutivo que modifica o Código Florestal. O superintendente de conservação do WWF-Brasil, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, salienta a gravidade da questão. “Os números são um reflexo da promessa feita pelos deputados ruralistas de anistia geral do desmatamento provocado pelo agronegócio”, disse.
Também para Nilo d’Ávila, coordenador de políticas públicas do Greenpeace, ruralistas estão apostando que uma eventual anistia aos desmates possa valer até a data em que o novo texto entre em vigor, com a sanção presidencial. “O mais sintomático disso é que o desmatamento em unidades de conservação e terras indígenas, que normalmente acompanha os índices das demais áreas, não cresceu”, salientou.
George Porto Ferreira, coordenador-geral de zoneamento e monitoramento ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), destaca que desmatamentos significativos foram registrados no entorno do município de Sinop, grande produtor de soja. “Surgiram ainda alguns polígonos de desmatamento nunca antes registrados. Houve expansão para áreas vizinhas de propriedades que trabalham com agricultura”, explicou Porto Ferreira.
Números do WWF-Brasil dão conta de que, em média, a soja apresenta uma lucratividade de R$ 300 a R$ 500 por hectare, mas que atualmente o valor já chega aos R$ 1000. “Essa garantiaa de lucros extremamente elevados, associada à perspectiva de impunidade generalizada gerada pelas discussões lideradas pelos ruralistas em torno das mudanças do Código Florestal, contribui imensamente para o desmatamento criminoso a que estamos assistindo no Mato Grosso”, declarou Scaramuzza.
O Ibama ainda revelou a utilização de técnicas rudimentares como o “correntão” para desmatar grandes áreas. Uma longa e espessa corrente é presa a dois tratores que, posicionados a dezenas de metros um do outro, percorrem paralelamente o terreno. “O Mato Grosso acendeu a luz amarela”, avisa a ministra do meio ambiente.
Foram deslocados mais de 500 fiscais do Ibama para o estado, com objetivo de coibir os crimes ambientais. Segundo Izabella Teixeira, os desmates vão ser duramente combatidos. “Quem apostar no desmatamento para pecuária, vai ter o boi confiscado para o programa Fome Zero. O objetivo é sufocar o crime ambiental”, sentenciou a ministra.
O superintendente de conservação do WWF-Brasil entende que as ações anunciadas pela ministra sejam de grande importância, mas avalia que as recentes reduções nas verbas do MMA poderão dificultar o trabalho. Em março, o Governo Federal anunciou corte da ordem de R$ 398 milhões para a pasta, montante equivalente a 37% do orçamento inicialmente previsto para 2011.
Também estiveram presentes à coletiva para divulgação dos números do desmatamento o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, Gilberto Câmara, diretor do Inpe, e Curt Trennepohl, presidente do Ibama. Os dados completos do desmatamento na Amazônia detectados pelo sistema de alerta Deter podem ser acessados no site http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=2545.
A expectativa é que o substitutivo apresentado pelo deputado Aldo Rebelo, com apoio dos ruralistas, seja votado na próxima semana, entre os dias 24 e 25 de maio. Em 12 de maio, organizações da sociedade civil organizada enviaram carta aberta aos líderes dos partidos e do governo na Câmara pedindo a nomeação de um novo relator para a matéria, em virtude da parcialidade e do destempero demonstrados por Aldo durante todo o processo.