Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Com o lema “Juventude em Luta, pela Terra e Soberania Popular!”, a 13ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra se inicia hoje (01/06) com mística, formação, trabalho de base e organização nos territórios. O objetivo deste ano é trazer o debate sobre a crise ambiental, uma das faces da crise estrutural do capitalismo, e o papel da juventude na luta contra o processo de exploração e dominação dos territórios, dos bens comuns e da soberania dos povos.

Juventude Sem Terra em ação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. Foto: Acervo do MST

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Esta é a primeira vez que a Jornada da Juventude Sem Terra acontece fora do mês de agosto, visando incorporar o mote da Semana do Meio Ambiente para aprofundar a denúncia sobre o descaso do governo Bolsonaro sobre a terra e a natureza e as consequências dos crimes ambientais para a sociedade.

Entre hoje até 7 de junho, a Juventude Sem Terra se compromete, então a impulsionar ações em torno do Plano Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis e na defesa de territórios, contra os despejos e o assédio do capital sob a terra e bens comuns e no cuidado da biodiversidade, biomas, combatendo o agro-bio-hidro-negócio. Confira abaixo a entrevista com Jailma Lopes, do Coletivo Nacional de Juventude do MST, sobre as perspectivas desta Jornada:

Jailma Lopes, do Coletivo da Juventude Sem Terra do MST. Foto: Eduardo Mendonça/Arquivo do MST

Esta é a primeira vez que a Jornada da Juventude Sem Terra acontece fora do mês de agosto. Quais os desafios que impuseram esta mudança? Como foi o processo de construção desta jornada?

A Juventude Sem Terra e o conjunto do nosso Movimento tem feito grandes esforços de aprofundar a compreensão e atuar ante a profunda crise ambiental, que é face da crise estrutural do capitalismo em seu atual estágio de desenvolvimento destrutivo. Eles se encontram na financeirização, que tem avançado cada vez com mais violência e acelerada na apropriação, expropriação e dominação dos bens comuns e da força de trabalho, e tem levado a vida como nós conhecemos ao seu esgotamento. 

Nesse contexto, nos últimos dois anos, temos encabeçado vários processos de debate, formação e organização, com centralidade na construção do nosso Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, com nossa Juventude Sem Terra e também em articulação com outras organizações de juventude. 

Mudamos o período da Jornada a partir da avaliação que precisávamos, no marco da Semana do Meio Ambiente, dar mais um passo na perspectiva de ampliar a luta ambiental e denunciar a grave ofensiva do capital sob os bens da natureza, nossos territórios e a vida da classe trabalhadora. Denunciar o governo Bolsonaro que tem atuado no Brasil a serviço dos interesses do capital e das corporações, destruindo e desmontando a legislação ambiental, os órgãos, aprofundando a crise ambiental e a violência no campo.

Essa construção é expressão desse processo de organização que temos construído e da urgência de ampliarmos a luta e denunciar os impactos dessa crise para a classe trabalhadora, que tem sofrido com as queimadas, as enchentes, a pandemia e a fome. E os responsáveis por isso são os que lucram com esse modelo!

A defesa do meio ambiente e da Terra é um dos principais eixos desta Jornada. Quais as ações que a Juventude Sem Terra se dispõe a realizar neste sentido?

Nossa Jornada está se mobilizando com ações que tem como objetivo impulsionar processos de trabalho de base, formação e organização nos nossos territórios; e ações que articulam a denúncia dos crimes ambientais, além de afirmar e agitar a Reforma Agrária Popular, o Plano de Plantio de Árvores e a Agroecologia como alternativas concretas para o povo e a natureza.

Nesse período temos construído acampamentos estaduais da juventude, ações nas escolas, nos nossos territórios, ações de solidariedade com as famílias atingidas pelas consequências da crise ambiental, bem como ações de diálogo com a sociedade acerca do tema.

Como a luta pela soberania popular está atrelada à defesa do meio ambiente?

Os cuidados com os nossos bens comuns, nossa biodiversidade, a terra e a natureza é uma defesa da vida e da soberania.

Esse projeto de destruição, exploração e dominação faz parte da reestruturação econômica pela qual passa o mundo, que historicamente segue aumentando a marcha e sanha dos países do norte global sobre os países periféricos do sul, como o Brasil, buscando privatizar os bens comuns dos povos e produzir uma nova base tecnológica verde do capitalismo.

De um lado, eles seguem reinventando as formas clássicas de exploração, com o agronegócio, a mineração, ampliando o controle da terra, a partir de tecnologias digitais para constituir fundos territoriais a serem explorados; De outro, se apropriam da “agenda do clima” para construir novas formas de acumulação, se colocando como principal sujeito de uma agenda verde, sustentável, transformando-os igualmente em mercadorias e fontes de especulação, como os crédito de carbono, os bônus de preservação ambiental e outras falsas soluções do capitalismo verde.

Portanto, é uma luta que trata por definir o modelo de sociedade, quem controla, e a serviço de quem, a nossa água, terra, energia, biodiversidade, a produção de alimentos. Se sob o controle popular do povo brasileiro, ou se nos conformarmos em ser o quintal do mundo e de um modelo que destrói e explora a vida para acumular riquezas para os poucos ricos do norte do mundo.

A luta pela vida saudável e digna, a partir da agroecologia, é agenda central nesta Jornada. Quais as principais reivindicações da juventude diante da conjuntura e da perspectiva do Fora Bolsonaro?

A nossa Jornada tem como objetivo anunciar o modelo de sociedade que defendemos, que é incompatível com o governo Bolsonaro e o neoliberalismo. Temos debatido como central a necessidade de construir uma política para Juventude do Campo, águas e das florestas, para viver bem, tendo como centralidade o acesso à terra; à educação do campo, com a ampliação do PRONERA; políticas para gerar trabalho, renda, com a construção da agroecologia, agroindustrialização e cooperação. 

Por isso, nossas reivindicações estão diretamente ligadas com a urgência de derrotar o governo Bolsonaro e recolocar a necessidade de construir um projeto de país soberano, radicalizando nas seguintes práticas:

  • Na defesa dos territórios camponeses, indígenas, quilombolas e tradicionais enquanto trincheira contra o capital;
  • Avançando na democratização da terra, na construção da Reforma Agrária Popular, na construção e massificação da Agroecologia enquanto modelo de produção;
  • Na construção de um modelo energético com Justiça Social e Ambiental;
  • No combate à lógica dos bens comuns, enquanto mercadoria e, assim, cuidando intransigentemente da terra, da água e da nossa biodiversidade.

Resumindo, é pela defesa da terra, da vida dos povos e seu direito de existir bem. E a construção das novas relações humanas são pilares fundamentais para construção do projeto de país, se contraponto à ganância, o lucro e à propriedade privada.

Como tem sido esta construção na perspectiva do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis?

Temos atuado para enraizar e ampliar a construção nos nossos territórios e nas cidades do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, que mais do que uma ação interna do MST, é uma ação concreta a ser construída na prática. É a proposta de reconstruir nossos biomas, cuidar da terra e dos nossos bens comuns, e avançar na construção de um modelo de agricultura pautado na agroecologia. Além disso, é também um movimento para combater a fome e construir barreiras contra o avanço das fronteiras agrícolas do agronegócio, e ir acumulando forças na luta frente à crise ambiental.

*Editado por Solange Engelmann

 

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