Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Famílias camponesas mantêm-se em dois acampamentos permanentes contra as obras da Transposição no sertão pernambucano

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Categoria: Grandes projetos
Confira abaixo relato do agente pastoral Denis Vensceslau Bevenuto sobre o caso:


Ainda é bastante claro em nossas mentes a migração de cerca de mil famílias camponesas do Pajeú e Moxotó para a ocupação, realizada no dia 26 de junho de 2007, da área destinada ao início das obras da Transposição do Rio São Francisco, nos arredores da cidade de Cabrobó, Sertão do Estado de Pernambuco. Era uma terça-feira quando o Eixo Norte foi tomado pelas famílias. A ameaça do então Ministro de Integração, Geddel Vieira, de ingressar na Justiça com um pedido de reintegração de posse não desanimou o movimento desses/as atingidos/as que montaram acampamento permanente no local. Três dias depois da ocupação, uma reintegração de posse foi autorizada pelo juiz da 20ª Vara Federal e ocorreu com a presença de Batalhão de Choque do exército e da Polícia Militar. Seis meses depois deste episódio, estas mesmas famílias seguiram rumo a Sobradinho, na Bahia, para ficar ao lado de Dom Luiz Cappio que iniciava o seu segundo jejum contra a Transposição do Rio São Francisco.
 
Ao retornar do Jejum, as famílias continuaram no espírito de luta. A falta de atenção do Governo às famílias atingidas, a tragédia da explosão no lote 12 da obra da transposição que matou três trabalhadores e deixou nove feridos em 21 de dezembro de 2010 no município de Sertânia, além do descaso com a Reforma Agrária, foram alguns dos motivos que levaram as famílias a ocupar novamente o Canal da Transposição do Rio São Francisco, em Floresta e em Sertânia, permanecendo por alguns dias acampados.
 
Em 2011, as famílias atingidas pelas obras do Canal da Transposição do Rio São Francisco se reúnem com outros camponeses atingidos por outras grandes obras em Pernambuco, com o objetivo de discutir a realidade do campo no estado a partir dos impactos destes grandes projetos. Após tudo isso, as famílias permaneceram discutido em suas comunidades de origem sobre toda essa realidade, o que levou, em 15 de abril de 2016, cerca de 120 famílias a ocuparem novamente dois mil hectares de terras na região de Custódia e montarem um acampamento permanente. Seguindo esses mesmos propósitos de luta, cerca de 100 famílias ocuparam também, no dia 10 de abril de 2016, terras que pertencem ao Canal da Transposição do Rio São Francisco à 03 km de Sertânia/PE.
 
O caso é que essas famílias, nesses últimos dias, andam recebendo a visita do Ministério de Integração Nacional em que informa que a área ocupada já pertence a outras famílias de um associação rural e caso não saiam de imediato da área, a associação entrará com o pedido de reintegração de posse. Pelo que os trabalhadores e trabalhadoras informam à CPT, a área ainda pertence à União e que caso o Estado não apresente uma outra terra para todas as famílias, elas permanecerão acampadas em baixo de lona preta.
As famílias sem terras acampadas, apoiadas pela Comissão Pastoral da Terra, reivindicam que o INCRA e o Governo do Estado possam atender a demanda dos acampados e acampadas, pois querem que tudo se resolva e que as famílias tenham acesso à terra e aos direitos que lhes foram usurpados.


Denis Venceslau - agente pastoral da CPT no Sertão do Pajeú

 

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