Com 78% de seu uso voltado para irrigação, a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco sofre com o processo de desmatamento, queimadas, assoreamento, uso inadequado do solo, erosão e exploração de minérios sem qualquer controle.
A reportagem é de Cláudia Lamego e Evandro Éboli e publicada pelo jornal O Globo, 23-07-2009.
Esse diagnóstico foi feito pelo IBGE e publicado no estudo Vetores Estruturantes da Dimensão Socioeconômica da Bacia Hidrográfica do São Francisco, divulgado ontem.
O estudo mostra que a construção de hidrelétricas e canais de irrigação reduziu a vazão do rio, afetando a pesca extrativista na região. A redução da vazão, segundo o IBGE, “alterou a intensidade e a época das cheias, impedindo a inundação das lagoas marginais nas quais se dá a reprodução dos peixes e também a piracema”, diz o estudo.
Ainda de acordo com o instituto, a instalação de projetos agrícolas e industriais sem infraestrutura adequada e o aumento populacional no entorno contribuem para a degradação do meio ambiente na região.
— É preciso combater o desmatamento, acabar com os dejetos de esgoto e de água sem tratamento, fortalecendo o rio. Atualmente, 78% do uso do São Francisco é para irrigação, e isso preocupa, porque antes de pensar na transposição, é preciso trabalhar na revitalização do rio — diz a geógrafa Adma Hamam, coordenadora do estudo.
Obras da transposição estão aceleradas, diz governo
A pesquisa do IBGE faz parte de uma série de trabalhos encomendados pelo Ministério do Meio Ambiente a várias entidades.
Esses relatórios servirão de subsídio para políticas de revitalização da área. Enquanto isso, o governo federal acelera a obra da transposição do São Francisco para que o sistema comece a funcionar no final de 2010, antes do final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O projeto está incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O diretor do Departamento de Projetos Estratégicos do Ministério da Integração Nacional, Francisco Campos Abreu, informou ontem que, até essa data, os dois eixos que compõem o projeto, o Norte e o Leste, estarão praticamente concluídos.
O custo total da obra está orçado em R$ 5 bilhões, mas o governo desembolsou até agora apenas R$ 600 milhões, 12% do total. Para cada um dos 14 lotes da obra foi formado um consórcio de empreiteiras. Segundo Abreu, houve a readequação do projeto, em fevereiro deste ano, após reuniões comandadas pela ministrachefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e novas metas foram estabelecidas.
— A obra está num ritmo muito bom, com jornada dupla de trabalho — disse Abreu.
A estimativa é que a transposição beneficiará cerca de doze milhões de nordestinos e o governo acredita que o empreendimento vai alavancar o desenvolvimento de cadeias produtivas e irrigação de muitas áreas.
A disposição do recurso hídrico incrementará atividades econômicas como produção de frutas até para exportação.
O Ministério da Integração nega que o curso do São Francisco será desviado e que apenas uma pequena parte de seu volume — que representa 1% da água que o rio joga no mar — será captada para garantir o consumo da população e dos animais que vivem no semiárido.
O governo federal diz também que as condições hídricas e o meio ambiente não serão afetados pela megaobra.
Pesquisa mostra degradação do São Francisco.
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