Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

O Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social vem a público manifestar apoio e solidariedade aos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem no semi-árido brasileiro e das populações ribeirinhas da Bacia hidrográfica do Rio São Francisco, atingidas pela deterioração que o rio vem sofrendo ao longo dos anos.

Como uma voz que luta em defesa desta causa, manifestamos nosso apoio a Dom Luiz Flávio Cappio que, desde o dia 27 de novembro, iniciou um jejum cujo objetivo é impedir que as obras de transposição do Rio São Francisco continuem.

Neste momento, é importante refletir sobre a forma como os meios de comunicação vêm conduzindo a cobertura do fato. Somente no dia 11 de dezembro, 14 dias após o início do jejum de dom Cappio, a imprensa nacional passou a dar maior espaço para a questão. Entretanto, as abordagens jornalísticas optaram por não trazer à tona estudos de ordem técnica, financeira e jurídica de especialistas contrários à transposição. As análises sobre o impacto da obra e a quem ela realmente vai beneficiar – empreiteiras, latifundiários do agro e do hidronegócio – não apareceram nas notícias, embora sejam falas recorrentes de lideranças sociais que há anos sofrem com os desmandos de políticos da região. Famílias beneficiadas com os programas de armazenamento de água, entre eles o Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC), que já atingiu cerca de um milhão de pessoas, também não puderam dar seu depoimento sobre a melhoria das condições de vida e da capacidade produtiva adquirida para a agricultura familiar. Ao contrário, reforça-se, na mídia, a imagem de miséria e inviabilidade do sertão, omitindo claramente uma série de iniciativas e técnicas de convivência com o semiárido que têm transformado a realidade de milhões de pessoas, negligenciando as ações e debates dos movimentos sociais que atuam nessas regiões.

O interesse de empreiteiras, latifundiários e setores empresariais na obra tem prevalecido como voz dominante no âmbito do governo federal e encontram em um outro latifúndio, o midiático, um canal de apoio. Enquanto isso, mais uma vez o interesse público está sendo negligenciado em favor de interesses privados. A luta pela terra, a luta pelo rio, a luta pela democracia, a luta pelo direito de falar e ser ouvido estão presentes no gesto de dom Cappio, símbolo da resistência de um povo forte que merece toda a nossa solidariedade e todo nosso apoio.

Brasil, 18 de dezembro de 2007 Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social

 

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