Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Fé e solidariedade foram os sentimentos que fizeram reunir mais de 5 mil pessoas, neste domingo, 9, em torno da Capela do São Francisco e na Barragem de Sobradinho, durante a romaria nacional em apoio ao frei dom Luiz Cappio e contra a transposição.

Caravanas de cerca de 20 municípios dos Estados banhados pela bacia do rio começaram a chegar desde a noite de sábado. Só de Salvador saíram 15 ônibus. O evento contou com ato ecumênico durante a manhã e foi encerrado com outro ato simbólico, no final da tarde, à beira do famoso lago artificial, que tem hoje sua capacidade total reduzida a 13%.

Sob iniciativa das pastorais sociais da Bahia, a romaria foi organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Região Nordeste, e pela rede de atuação social da Igreja Católica, a Cáritas Regional NE3 (BA e SE). Estiveram presentes representantes de 115 entidades de diversos segmentos, como grupos ambientais, movimentos sociais e partidos políticos que exibiram faixas, cartazes e fizeram pronunciamentos. “Viemos trazer nossa solidariedade a dom Luiz e mostrar nossa cultura”, declarou Maria Tumbalalá, integrante do grupo indígena Povo Tumbalalá, que vive à margem do Rio São Francisco.

“A gente quer dom Luiz continuando na luta com a gente por essa causa. O gesto dele questiona não só a transposição, mas todos os projetos que degradam a vida do ser humano. É uma forma de conscientizar as pessoas”, disse a coordenadora da CPT Bahia e Sergipe, Marina da Rocha Braga. Para Rubem Siqueira, articulador da entidade em defesa da Bacia do São Francisco, a romaria é importante porque ela amplia e repercute a discussão. “É uma questão dos rumos do Brasil. O governo faz o que quer, engana o povo com projetos que só interessam ao grande capital. Essa é a discussão que a gente quer fazer”. D. Luiz ouviu atentamente os discursos e, mesmo fragilizado em decorrência da greve de fome (ele só ingere soro caseiro), também discursou. "É a hora de o povo lutar por seus direitos, por suas necessidades", pregou, arrancando aplausos e lágrimas da platéia. "A presença de vocês aqui me faz sentir muito forte", completou.

Pela manhã, logo cedo, embaixo do sol quente, uma fila foi formada pelos inúmeros visitantes que queriam falar com o bispo. Um a um, entravam na sacristia, beijavam a mão dele, conversavam ou levavam presentes, numa representação da fé católica que tem elevado dom Luiz a um patamar entre mártir e santo. “Para agüentar 13 dias sem comer, só pode ser um santo. Eu pensei que ia encontrá-lo muito fraco, mas ele está alegre. É um homem de Deus”, comentou a aposentada Maria Lurdes de Souza, 65 anos, que faz parte da Paróquia Nossa Senhora da Guia, em Ibotirama.

Aos 66 anos, com as pernas inchadas por causa de circulação, a roçadeira Beatriz Pires Carvalho saiu da Vila dos Morrinhos, a 12 quilômetros de Ibotirama, deixando marido, filha e netos, especialmente para ver dom Luiz. “Eu fiz todo esforço para vir e valeu a pena. Ele é um espírito iluminado por Deus”. Emocionada, Beatriz contou que estava com um problema nos olhos e acreditava na força do religioso para interceder junto a Deus e curá-la. “Eu pedi saúde a ele. Botei a mão dele sobre os meus olhos e ele disse que era para Deus me abençoar”, falou.

“Todos esses dias eu tenho estado muito feliz pela grande solidariedade que o povo manifesta. Isso mostra a sensibilidade da população com esses problemas que dizem respeito à vida do povo. Eu não me preocupo tanto comigo, mas para onde nós estamos indicando com esse gesto”, afirmou frei Luiz. Hoje já entrando no 14º dia de jejum, ele não mostra sinais de sequer cogitar a possibilidade de voltar atrás. “Eu me fundamento na fé e tenho certeza de que nós vamos ter um final feliz”.

Segundo ele, a essa altura, o estado mais crítico da fome já passou. “A falta do alimento, a gente sente nos primeiros dias. Agora o organismo já se habituou, porque se adapta muito facilmente a novas situações, e agora começa a se autoconsumir”.

Durante a tarde, uma parte dos manifestantes, carregando potes e latas d'água, foi à Barragem de Sobradinho - que abastece as hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica e Xingó - para oferecer um "gole d’água" ao São Francisco, em alusão à iminente "morte do rio". D. Luiz foi junto. Lá, benzeu a água da barragem. Segundo dados da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), a represa chegou, na quinta-feira, ao menor nível em sete anos: apenas 13% da capacidade.

Por causa da estiagem, espera-se que, na próxima quinta-feira, o nível esteja ainda menor: 12,6%.

Na volta, d. Luiz voltou a dizer que espera um fim positivo para sua manifestação.

"O protesto não tem relação apenas com a minha vida, mas com a dos milhares de nordestinos que têm o rio como meio de vida", afirma o religioso. "Estou esperando uma manifestação do governo."

O bispo aproveitou para declarar que nos próximos dias haverá uma reunião da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – de quem disse estar recebendo todo apoio – com o presidente Lula. Ele afirmou ter convicção de que os problemas serão encaminhados. “Eu só saio daqui quando os trabalhos se paralisarem e o Exército sair do eixo norte e do eixo leste. Quando vocês virem as tropas saindo de lá, eu estarei saindo daqui”, concluiu.

Fonte: atarde.com.br e oestado.com.br

Assista o Noticiário Popular Dom Luiz Cappio

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