É com muita estima e respeito que o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), vem por meio desta prestar incondicional solidariedade ao gesto, antes de tudo profético, de Dom Luiz Flávio Cappio, disposto a entregar a vida em defesa do Rio São Francisco, e ao povo pobre, que luta por soluções verdadeiras para uma vida plena. Reconhecemos no ato de Dom Luiz um profundo gesto que se alimenta no sentimento de amor à vida e na convicção de que a transposição não é necessária nem conveniente ao povo nem ao rio.
Para o MAB, o fato de D. Luiz retomar a greve de fome aos pés da barragem de Sobradinho tem um significado muito grande, pois resgata a história e os fatos acontecidos na região nordeste, que tem experiências catastróficas com a construção de represas. Em 1977, com a conclusão da barragem de Sobradinho, a 50 km de Juazeiro (BA), formou-se o maior lago artificial do mundo, com área de 4.214 km2 e capacidade para 37,5 bilhões de metros cúbicos de água, o coração artificial e doente do Rio São Francisco, como o próprio bispo se referiu. Essa represa submergiu quatro cidades (Casa Nova, Sento Sé, Remanso e Pilão Arcado) e dezenas de vilarejos, onde mais de 70.000 pessoas foram deslocadas. Mais tarde, também no nordeste, a UHE de Itaparica foi palco de muita luta e de mobilização popular.
Sobradinho é operada pela CHESF que em 26 de novembro registrou um volume de acumulação de 9.954 milhões de m3 ,o que corresponde a 29,18% do seu volume máximo de retenção. Estes dados mostram que fazer represamento das águas ou a transposição não significa políticas para melhorar a vida e acabar com a sede do povo que reside nesta região. Sabemos que o projeto da transposição, assim como as barragens de Sobradinho, Itaparica e outras tantas são ofensivas neoliberais para favorecer o acúmulo de capital de grandes investidores, enquanto que o povo do sertão continuará na seca e na miséria. Este projeto, e todo o dinheiro envolvido nele, mais uma vez servirão para transformar água, terra e energia em mercadoria, a exemplo do que acontece com a construção das barragens que só favorecem o acumulo das multinacionais e não o povo brasileiro.
Repudiamos do governo para com o bispo e o povo do nordeste, ao descumprir a promessa feita em 2005 de suspender as obras da transposição e abrir um diálogo amplo e transparente com a sociedade. Ao contrário, o que o governo fez foi continuar as obras incorporando a presença do exército no local como forma de intimidar a organização popular.
Nós, atingidas e atingidas por barragens de todo o Brasil, estamos nos somando aos atos em defesa do Rio São Francisco e em solidariedade ao Dom Luiz Cappio. Exigimos que o projeto de transposição do Rio São Francisco seja imediatamente suspenso para que a vida de D. Luiz e do povo que sobrevive das águas deste rio seja preservada.
Direção Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens
Água e energia não são mercadorias!
Águas para vida não para morte!
Não à transposição! Conviver com o semi-árido é a solução!