Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Crescimento da área destinada ao plantio de cana-de-açúcar põe em risco vida no nascedouro do rio da integração nacional.

Belo Horizonte - O crescimento de 58,31% na área destinada ao plantio de cana-de-açúcar no Centro-Oeste de Minas Gerais, onde estão as nascentes do São Francisco, põe em risco a vida no nascedouro do rio.

Por, Luiz Ribeiro,Do Estado de Minas

Os dados referentes ao avanço são da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg) e mostram o crescimento acelerado dos canaviais, estimulado pelas novas perspectivas de uso do etanol. De julho de 2006 a julho de 2007, a área reservada à cultura na região passou de 22.842 hectares para 33.876 hectares. No mesmo período, a produção aumentou de 1,7 milhão para 2,57 milhões de toneladas por ano, o equivalente a um crescimento de 50,63%.

Entre outras conseqüências para o meio ambiente, especialistas destacam o assoreamento, contaminação do lençol freático, desmatamento e comprometimento das matas ciliares. As empresas de açúcar e álcool se defendem, alegando que trazem desenvolvimento, obedecem à legislação e a atividade não causa danos à natureza. "As pessoas quefalam em ameaças estão desinformadas", afirma Luciano Rogério de Castro, superintendente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais.

A reportagem conferiu essa expansão e ouviu depoimentos sobre os riscos da monocultura canavieira. Foram percorridos centenas de quilômetros em oito municípios do Alto São Francisco: Lagoa da Prata, Iguatama, Bambuí, Medeiros, São Roque de Minas, Piumhi, Delfinópolis e Luz. Também foram constatadas as marcas da degradação na área da "nascente geográfica" do São Francisco, no município de Medeiros - descoberta em 2002 e reconhecida em 2004. São erosões e sinais de queimadas. No entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra, onde fica a "nascente histórica", é visível o passivo ambiental deixado por mineradoras que foram fechadas por determinação do Ministério Público Federal.

A expansão da cana começou a ser estimulada, há anos, por uma grande usina de açúcar e álcool instalada em Lagoa da Prata, hoje controlada por um grupo francês. Atualmente, está sendo construída uma destilaria de álcool em Bambuí. A região vive a expectativa da montagem de uma outra unidade, em Iguatama. Nesses três municípios, o cultivo ocupa áreas cada vez maiores, com os proprietários rurais arrendando suas terras para as usinas. A mesma situação se repete em Luz.

A área de proteção das nascentes do Velho Chico sofre ameaça de redução, representada por um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional. A proposta altera os limites do Parque da Serra da Canastra, retirando dos seus 200 mil hectares (área prevista no decreto que o criou, há 35 anos) perto de 50 mil hectares, onde foram iniciadas atividades de exploração agrícola e de mineração. Para a administração do parque, o projeto abre caminho para que o plantio da cana avance e ocupe mais áreas na região das nascentes.

"O aumento do plantio em direção à cabeceira do São Francisco só vai prejudicar a região e o rio", alerta o presidente do Comitê da Bacia dos Afluentes do Alto São Francisco, Lessandro Gabriel da Costa, que mora em Lagoa da Prata. Segundo ele, o desmatamento é o maior estrago provocado pela monocultura da cana. "Com a retirada da vegetação, o solo fica descoberto. Se não for feito um trabalho preventivo, aumenta o processo de erosão dos pequenos rios", diz.

Arrendamento de terra é normal

Belo Horizonte - O cultivo da cana tem se tornado um grande atrativo para os pequenos e médios agricultores de toda a Região Centro-Oeste mineira. Em Luz, a 188 quilômetros de Belo Horizonte, é cada vez maior o número de arrendamentos de terra para tirar da atividade o sustento da família. "Antes, eu plantava milho, arroz e tirava leite das vacas. Mas a idade chegou e as coisas ficaram difíceis. Esta foi a única alternativa que encontrei", relata Joaquim Murilo da Costa, de 80 anos, que arrendou 280 hectares por cinco anos.

No entanto, para o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Luz, Luiz Antônio Garcia de Carvalho, que também é secretário de Meio Ambiente do município, os ganhos proporcionados pela monocultura não compensam as conseqüências danosas para a natureza. "Além do desmatamento, há o impacto provocado pelo uso de herbicidas", afirma. Segundo ele, atualmente há no município cerca de 7 mil hectares de cana plantados, cuja produção é enviada para a usina de açúcar e álcool instalada na vizinha Lagoa da Prata. Informa também que representantes da usina anunciaram que a meta é aumentar a área plantada no município para 15 mil hectares, por intermédio do arrendamento de terras.

"Estamos vendo aqui a pulverização da cana por avião, passando até por cima de nascentes. Pode-se perceber que não existe respeito com o meio ambiente", diz Ademar Lino de Araújo, presidente do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema) de Luz. "Arrendar terra para a cana não é um bom negócio para o produtor, pois os impactos gerados agora nunca serão recuperados", diz Araújo.

Na contramão dos que criticam a monocultura da cana-de-açúcar, o prefeito de Bambuí, Galeno José Gomes (PT), se diz totalmente favorável à usina de álcool que está sendo instalada no município. A empresa, cuja implantação começou em 2006, deve iniciar sua produção em 2008. "Acredito que a usina vai trazer mais benefícios do que prejuízos", diz Galeno, animado com a possibilidade de geração de cerca de 1,4 mil empregos e aumento de 25% na arrecadação municipal a partir de 2009.

Fonte: Diário de Pernambuco, 25/11/2007.

 

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