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Caravana em defesa do Rio São Francisco, que vai percorrer onze estados, passou esta semana por Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Leia informações sobre a passagem do grupo pelo Rio de Janeiro. Rio de Janeiro recebe Caravana
Prefeito articula apoio ao grupo junto aos parlamentares de seu partido
Fonte: Humberto Santos – Assessoria de Comunicação da Caravana
Rio de Janeiro, 22.08.07
Rio de Janeiro – "O Rio não tem visão da transposição do São Francisco; só percebeu o tema depois da greve de fome do Bispo [Luiz Flávio Cappio]. E foi se esquecendo, já que não está no cotidiano do povo do Rio", disse o prefeito da capital fluminense, César Maia (DEM), ao receber ontem a Caravana em defesa do rio São Francisco e do Semi-Árido – Contra a transposição. O objetivo da visita ao Rio de Janeiro foi justamente trazer os cariocas para o debate de uma proposta que, apesar de ter suas ações concentradas no Nordeste brasileiro, envolve todo o país.
O coordenador da Caravana, Apolo Heringer, pediu ao prefeito que ouvisse os membros da Caravana, suas motivações e solicitou apoio à causa. César Maia ouviu atentamente aos depoimentos de todos os integrantes. O momento de maior emoção foi quando o seu Toinho, representante dos pescadores de Alagoas, relatou que, com 75 anos, criou 12 filhos com a pesca no Velho Chico, mas que hoje não tem peixe a ser pescado. "O que importa se eu morrer hoje? Morto estou, porque o rio está morto. Queria encontrar com o Lula para dizer isso para ele. Queria deixar o rio para meus netos", contou emocionado seu Toinho.
O prefeito César Maia solicitou a revista Transposição: Águas da Ilusão em formato digital para poder enviar para todos os seus contatos. Além disso, ele conversou por telefone com o deputado federal Rodrigo Maia e solicitou apoio à Caravana em sua passagem por Brasília.
ABI
Na parte da tarde, mais de 40 pessoas foram à Associação Brasileira de Imprensa conhecer os argumentos da Caravana. Maurício Azedo, presidente da entidade, abriu a seção se dizendo honrado em poder receber o movimento e dar voz a ele. O pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, João Suassuna, explicou que faltam políticas públicas para distribuir a água existente no Nordeste. "Hoje, a população que é atendida por carro-pipa, vai continuar recebendo água por carro-pipa após a transposição", prevê o pesquisador. João Abner, da Universidade federal do Rio Grande do Norte, também ressaltou a falta de uma política de desenvolvimento do Semi-árido.
Soraya Vanini, da Frente Cearense por uma nova cultura da Água e contra a transposição das águas do Rio São Francisco, disse que o problema de água no Ceará é de gestão e não de falta desse recurso. O Ceará vai receber parte das águas da transposição, mas possui uma grande reserva de água acumulada em açudes. Marcos Sabaru, representante dos povos indígenas questionou: "um governo que se diz popular coloca o exército para fazer a obra antes da licitação, que governo é esse?". Ele também cobrou: "queremos espaço para contar a nossa história".
O promotor Eduardo Lima de Matos, do Ministério Público de Sergipe, chamou atenção para o caminho que as audiências públicas, que deviam discutir a obra com a comunidade, tomaram. Algumas dessas audiências foram marcadas próximas a datas festivas e feriados, como o Carnaval ou o Ano Novo. A professora Yvonildes Medeiros, da Universidade Federal da Bahia, questionou: "o São Francisco passa no semi-árido da Bahia e lá também sofre com a seca. Por quê o Velho Chico não é solução na Bahia e vai ser no semi-árido do Ceará?".
Seu Toinho, de Alagoas, colocou o auditório para cantar músicas sobre a situação do Velho Chico. Muito aplaudido, ele também recitou poesias. Outro que cantou foi o sergipano Sergival Silva, que compôs a música "Anagrama" (que na literatura significa transposição de palavras e sentidos) para falar da transposição do São Francisco. A música foi composta quando ele conheceu toda a margem norte do rio em Sergipe.
Maurício Azedo fechou a reunião explicando por que, na visão dele, a mídia não dá destaque a determinados temas: "há certos aspectos das questões nacionais que não sensibilizam as empresas de comunicação, mas também não sensibilizam os profissionais. Há necessidade dos profissionais refletirem sobre as questões da vida nacional. A vida do povo não está presente nos grandes meios de comunicação".