Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Preocupado com o forte avanço da cana-de-açúcar, o governo de São Paulo promete endurecer as regras para instalação de novas usinas ou ampliação das já existentes. Levantamento das Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura, que vai mapear as regiões com restrições à expansão da atividade, deverá ser concluído até o dia 18, quando entram em vigor as novas regras.
De acordo com o secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano, os canaviais, que no início da década respondiam por menos de 50% do espaço ocupado por lavouras, hoje já se espalham por quase 70% da área plantada — excluindo as pastagens.
Qui, 18 de setembro de 2008 09:48 , AE
Luze Azevedo
Levantamento em fase de conclusão deve servir de base para ações do governo que visam conter expansão de usinas no Estado De São Paulo
 
Considerando o total de 1,2 milhão de hectares previstos nos 31 empreendimentos aprovados ou em fase de aprovação no governo, a área com cana deve passar dos atuais 4,9 milhões de hectares para 6 milhões de hectares em 2010. O Estado tem 19 milhões de hectares de terras agricultáveis, dos quais 9 milhões são ocupados por pastagens, e responde por 60% de toda a cana produzida no País e algumas regiões já se encontram “saturadas” por canaviais.

“Vamos começar a considerar essa variável no licenciamento, para evitar a monocultura da cana em algumas regiões”, disse Graziano. “A diversificação da atividade agrícola tem reflexos não só ambientais, como também socioeconômicos, já que uma eventual crise no setor abalaria toda a economia nas regiões mais dependentes da cana-de-açúcar”, afirmou.

Conforme a unidade de território usada no levantamento do governo paulista, a região onde há maior concentração de cana é a Bacia Hidrográfica do Baixo Pardo/Grande, que inclui os municípios de Barretos, Bebedouro, Orlândia e Terra Roxa, entre outros. Nessa região, os canaviais dominam 59% da área total, que soma 641,7 mil hectares.

Outra faixa onde a predominância da cana preocupa é a da Bacia Hidrográfica do Tietê/Jacaré, que está com 42% da área (1,4 milhão de hectares) ocupada por canaviais. Entre os municípios da região estão Dois Córregos, São Carlos, Jaú, Bocaina, Barra Bonita e Brotas.

A União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) informou, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que só vai se manifestar sobre o assunto depois que as novas diretrizes forem publicadas pelo governo estadual.

Levantamento

O levantamento do governo paulista, que técnicos chamam de zoneamento agroambiental da cana-de-açúcar, vai resultar em um mapa de São Paulo dividido por bacias hidrográficas pintadas nas cores vermelho, amarelo e verde.

A proposta tem como objetivo delimitar os rumos da expansão da cana no Estado. Segundo Graziano, no mesmo dia da entrega do estudo será normatizada a concessão de licenças para a ampliação e construção de novas unidades produtoras de açúcar e álcool, suspensas desde maio.

“Nas áreas mais sensíveis não existem mais unidades industriais, mas pode haver cana plantada para produção de cachaça ou trato de animais”, disse Graziano.

Empregos

A febre do etanol tem sustentado o crescimento do emprego na indústria paulista. Dos 146 mil postos de trabalho abertos entre janeiro e julho deste ano, 99 mil (68%) foram no setor sucroalcooleiro. (Da Agência Estado)

A FRASE

“O plantio não vai recuar, mas nós vamos normatizar a expansão.”

CHICO GRAZIANO
Secretário de Estado do Meio Ambiente

Produtores antecipam fim das queimada para 2017

Acordo assinado por usineiros e governo na semana passada prevê alta na mecanização

Produtores independentes de cana de São Paulo, maior produtor brasileiro, assinaram na semana passada um acordo com o governo do Estado estabelecendo prazos para o fim das queimadas da palha de cana, informou o Ministério da Agricultura.

Pelo acordo, as chamadas áreas mecanizadas, onde as colhedoras de cana podem realizar o trabalho, terão de encerrar a prática da queima até 2014. As áreas montanhosas, onde as máquinas não podem colher, deverão acabar com as queimadas até no ano de 2017.

Assim, os produtores aceitaram a antecipação do fim das queimadas no Estado, antes previsto para 2021 em áreas mecanizadas e para 2031 as não-mecanizadas.

Um acordo semelhante foi assinado no ano passado pelas usinas, que processam a sua própria cana e que compram de produtores independentes. As datas são as mesmas nos dois acordos.

Vinte e três associações, envolvendo 13 mil produtores que colhem 91 milhões de toneladas, assinaram o acordo.

A indústria vê o acordo como uma forma de proteger o setor de eventuais barreiras ambientais impostas por clientes no exterior.

Mais de 50 por cento da cana do Estado na atual temporada deve ser colhida por máquinas, cujo processo não requer a queimada.

Os canaviais são queimados antes da colheita manual para facilitar o corte pelos trabalhadores, mas a prática prejudica a qualidade do ar nas cidades próximas às áreas de produção.

Polêmica

O secretário Chico Graziano afirmou que o governo federal também deve divulgar em breve um novo zoneamento ecológico da cana-de-açúcar em todo o País.

“O que fiquei sabendo é que, ao contrário do que mostra o nosso estudo, o Ministério da Agricultura vai dizer que se pode plantar cana-de-açúcar onde quiser no Estado de São Paulo”, afirmou Graziano.

O secretário disse achar muito estranho que nem ele nem o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, João Sampaio, tenham sido consultados pelo governo federal. “Não sabemos o que é, mas temos a impressão de que o ministério baseou os estudos somente no levantamento de solo e clima, pois, se juntasse os aspectos ambientais, veria que São Paulo não está todo apto para a cana-de-açúcar”, disse.

O recebimento de pedidos de licenças para novas usinas e para expansões das já existentes, que está suspenso desde maio passado, deve ser retomado no dia 18 deste mês, quando as novas regras devem entrar em vigor. (AE)

 

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