Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

São Paulo – Integrante da coordenação nacional do Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile aponta danos ambientais, de saúde pública e de soberania provocadas pelo cultivo de organismos geneticamente modificados. Em palestra na noite desta terça-feira (17), no centro da capital paulista, ele atribuiu aos conglomerados multinacionais a responsabilidade pelos problemas.

Ele afirmou que há indícios de que o aumento do nível de chuva no Sudeste é consequência da substituição de áreas florestais na região da Amazônia Legal por vastas plantações de soja -- praticamente toda transgênica.

Na prática, por se tratar da variedade Roundup, patenteada pela Monsanto por ser alterada geneticamente para resistir a um herbicida desenvolvida pela divisão de agrotóxicos do mesmo conglomerado, todas as outras espécies -- daninhas ou não -- não sobrevivem. A extinção da biodiversidade altera o equilíbrio de chuvas.

"Esse desequilíbrio, nós sentimos em São Paulo e na Serra Fluminense", exemplificou. "Em função do desmatamento de floresta para plantar uma variedade única – de soja ou de pasto – permite que a chuva que cairia apenas lá, passaram a viajar para São Paulo e Rio de Janeiro. É o rio que viaja pela atmosfera", explica.

Em termos de saúde pública, um dos principais indicadores dos riscos advém de um estudo publicado por Vanderlei Pignatti, médico nutricionista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso, acompanhou um grupo de mulheres por dez anos na cidade de Lucas de Rio Verde, a 350 quilômetros da capital.

Em estudo divulgado no início deste ano, ele constatou, pelo menos nos últimos dois anos, traços dos agrotóxicos aplicados na agricultura. "A mulher acumula o material e passa aquilo para o bebê dela, uma dose de veneno por dia", alerta Stédile.

Soberania

Stédile lembra que as sementes geneticamente modificadas de soja e de milho são capazes de contaminar outras plantações. O cultivo das variedades transgênicas implica pagamento de royalties às empresas que detêm a propriedade intelectual sobre os organismos. Ainda que parte dos agricultores tente resistir ao avanço dessa tecnologia, ele corre o risco de precisar pagar royalties por ter plantas contaminadas.

"O grau de contaminação entre áreas é muito grande na soja e no milho, alcançando um raio de oito quilômetros", afirmou Stédile. "O pólen das plantas na fazenda vizinha é levada pelo vento e o agricultor corre o risco de produzir soja transgênica sem querer. Com isso, humanidade corre o risco de só ter variedades não transgênicas em 50 anos."

 

Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Rua Esperanto, 490, Ilha do Leite, CEP: 50070-390 – RECIFE – PE

Fone: (81) 3231-4445 E-mail: cpt@cptne2.org.br