Mulheres denunciam trabalho escravo protagonizado pelas Usinas no estado. Em fevereiro, A Cruangi foi flagrada com mais de 250 trabalhadores rurais, entre eles 27 menores de idade, trabalhando em regime de escravidão
Mulheres da Via Campesina realizaram hoje (09) um protesto em frente à Usina Cruangi, localizada no município de Aliança, Zona da Mata norte de Pernambuco. Portando bandeiras e faixas com dizeres como “Trabalho Escravo, vamos abolir de vez essa vergonha!” e “Em cada grama de açúcar, uma tonelada de injustiça!”, as mulheres protestaram contra o modelo de monocultivo da cana e o trabalho escravo e infantil nas Usinas do estado.
Em fevereiro desse ano o Grupo Móvel de Fiscalização contra o trabalho escravo do Ministério do Trabalho realizou visitas em várias usinas e engenhos da Zona da Mata Norte de Pernambuco e encontrou várias irregularidades. Na Usina Cruangi foram resgatados 252 trabalhadores rurais em regime de escravidão, dentre eles, 27 menores de idade.
Segundo dados da CPT, o setor sucroalcooleiro foi o ramo da economia que mais se utilizou da mão-de-obra escrava no ano de 2008, representando 49% dos trabalhadores encontrados em regime de trabalho escravo no país. Em Pernambuco, foram encontrados 529 trabalhadores em situações de escravidão e super exploração nas usinas do estado, no ano passado.
Apesar da Constituição brasileira prever a desapropriação para fins de Reforma Agrária de áreas que não cumprem sua função social, a Usina Cruangi, como acontece na maioria dos casos em que o Grupo Móvel resgata trabalhadores em regime de escravidão, paga uma multa e segue funcionando normalmente. Por isso, as mulheres da Via Campesina lutam pela aprovação da PEC 438, que prevê a desapropriação de terras onde sejam encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo.
Após sair da Usina as trabalhadoras seguiram para o Centro de Timbaúba, também Zona da Mata norte, e distribuíram materiais educativos da Campanha Nacional pela aprovação da PEC 438. A ação das camponesas em Pernambuco fez parte da jornada Nacional de luta das Mulheres da Via Campesina contra o agronegócio e em defesa da Reforma Agrária e da Soberania Alimentar. Aconteceram ações em diversos outros estados do Brasil e as mobilizações continuarão durante toda a semana. Amanhã acontecerão mobilizações em vários municípios do sertão Pernambucano, como Petrolina e Petrolândia.
As mulheres da Via Campesina também lutam e reivindicam iniciativas que garantam a Soberania Alimentar e Energética do povo brasileiro e defendem a agroecologia como projeto político para o campo. Para as organizações que compõem a Via Campesina, a situação de miséria e escravidão no campo se agrava ainda mais com o aumento dos investimentos estatais e privados destinados ao agronegócio e para impulsionar a produção dos agrocombustíveis.
Policia tenta impedir manifestação e trabalhadoras são agredidas – Quando as trabalhadoras chegaram em marcha em frente à Usina, dezenas de policiais, além dos seguranças privados, já estavam no local. Convocados pela Usina, eles tentaram impedir a passagem das camponesas e fizeram um cordão de isolamento para que as mulheres não entrassem no parque industrial. Apesar da manifestação ter sido pacifica, os policiais seguiram provocando e empurrando as trabalhadoras durante todo o ato, chegando a agredi-las. No confronto um trabalhador que foi defender as mulheres foi detido.
Setor de Comunicação do MST PE e da CPT PE