Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Símbolo da resistência contra a ditadura civil-militar no Brasil [1964-1985] o frei dominicano Tito de Alencar teve sua vida interrompida pelos efeitos das torturas sofridas naquele período. Submetido a sessões de choques elétricos e pancadas, Frei Tito sobreviveu atormentado por suas lembranças durante o exílio na França, até cometer suicídio, em 1974. Se ainda estivesse vivo, o cearense, nascido em Fortaleza, completaria, neste mês de setembro, 70 anos.

(Fonte: Adital)

Com vistas à importância da memória de Tito para a democracia e os direitos humanos no Brasil, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados realiza, nesta segunda-feira, 28 de setembro, às 19h, no Theatro José de Alencar, em Fortaleza [Estado do Ceará], uma sessão solene em comemoração aos 70 anos de Frei Tito. A solenidade contará com apresentação da peça "Frei Tito: vida, paixão e morte”, com o grupo Formosura de Teatro e texto de Ricardo Guilherme. A entrada é gratuita. (Imagem abaixo/Reprodução)

 

O evento, uma iniciativa do mandato da deputada federal Luizianne Lins [Partido dos Trabalhadores – PT – Ceará], com apoio do Instituto Frei Tito de Alencar, da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Direitos Humanos do Governo do Estado do Ceará e da Agência de Informação Frei Tito para a América Latina e Caribe (Adital), tem como objetivo promover a memória e o diálogo sobre a contribuição desse importante lutador social do povo brasileiro.

"Em meio a tantos retrocessos que estamos vivenciando em nosso país, a memória de Frei Tito nos enche de graça, coragem e amor ao próximo. E nos motiva a, como ele, resistir! Celebrar esta data é rememorar um período obscuro da história brasileira, onde a liberdade e a democracia foram suplantadas. É resgatar o fato de que foi através da luta de muitos brasileiros e brasileiras que a esperança foi restaurada em nosso País", afirma a deputada Luizianne. Juntamente com o deputado federal Paulo Pimenta (PT – Rio Grande do Sul), Luizianne apresentou um requerimento à Câmara para a realização do evento. No documento, ela justifica o pedido argumentando que o religioso foi um "cidadão símbolo de orgulho para cearenses e brasileiros, que tanto lutou pela paz e justiça sem perder a dignidade”.

"Mesmo nas horas mais obscuras, mesmo nos momentos mais difíceis, a liberdade é um valor fundamental da existência humana. É algo pelo qual devemos lutar sempre, pelo qual devemos resistir. Tito foi um mártir do sofrimento e do pesadelo de toda uma geração que, ao final, mesmo com tanta dor e tantas mortes, acabou triunfando, acabou reconduzindo o Brasil à democracia e à liberdade”, ressalta ainda Luizianne.

 

O evento contará também com a presença da família de Frei Tito. Em entrevista à Adital, Lucia Alencar, sobrinha do homenageado, fala sobre a importância que a data representa para família. "É uma data cheia de saudades e muito significativa, pois mostra como foi grande o seu legado”. Para o professor Valter Pinheiro, que estudou junto com Frei Tito, no Liceu do Ceará, em Fortaleza, e, hoje, faz parte do Comitê pela Memória Verdade e Justiça do Estado, a homenagem ao Frei Tito é vista como uma forma de manter viva a memória e mostrar que sua luta não morreu. "A memória de Frei Tito busca gerar uma reflexão sobre o passado e incentivar ações em defesa dos direitos humanos”.

"Sempre digo que Frei Tito não pertence à família e sim ao povo brasileiro, pois dedicou sua vida ao seu povo e, hoje, nós da família damos continuidade ao seu legado” comenta Lucia. Para Lucia, esperança e justiça foram a principal mensagem deixada por Frei Tito. "Ele foi o maior exemplo de vida em termos de luta pela democracia neste país”, ressalta Neuda Lima, cunhada de Frei Tito.

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"Defino Frei Tito como símbolo da nossa luta, pois sua principal mensagem foi a construção de uma sociedade justa, voltada para os interesses da maioria da população e para a libertação da classe trabalhista” assinala Valter Pinheiro.

 

Breve histórico

Nascido no dia 14 de setembro de 1945, em Fortaleza, Tito de Alencar foi eleito dirigente regional da JEC [Juventude Estudantil Católica], em 1963, com sede em Recife [Estado de Pernambuco]. Deixou o Ceará quando tinha 18 anos. Três anos depois, entrou no noviciado dos dominicanos, em Belo Horizonte [Minas Gerais].

Foi residir no Convento das Perdizes [São Paulo], em 1967, após fazer uma profissão simples dos votos, e para estudar Filosofia na Universidade de São Paulo (USP).

Em outubro de 1968, Tito foi preso quando participava de um congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna [São Paulo]. Foi fichado pela polícia e tornou-se alvo de perseguição da repressão militar. No dia 04 de novembro de 1969, foi preso acusado de manter contatos com a ALN [Ação Libertadora Nacional], de Carlos Marighella. No início de 1970, o frade foi torturado nos porões da chamada "Operação Bandeirantes”. Na prisão, ele escreveu sobre a tortura sofrida. O documento correu o mundo e se transformou em um dos símbolos da luta pelos direitos humanos.

 

No dia 10 de agosto de 1974, um morador dos arredores de Lyon encontrou o corpo de Frei Tito suspenso por uma corda. Ele foi enterrado no cemitério dominicano do Convento Sainte-Marie de La Tourette, em Éveux. Em 25 de março de 1983, o corpo de Frei Tito chegou ao Brasil.

SAIBA MAIS: Nos passos de frei Tito de Alencar

 

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