Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Começam amanhã (10) e seguem até sábado (13) as comemorações pelos 20 anos da Peregrinação da Nascente à Foz do rio São Francisco, celebração considerada a maior mobilização em defesa do ‘Velho Chico’. Serão realizadas ações nas cidades de Belo Horizonte e São Roque de Minas, em Minas Gerais (Brasil).

 

Em Belo Horizonte, estão previstas diversas atividades, que terão a participação de Dom Luiz Cappio, bispo conhecido pela luta em defesa do Rio São Francisco e que, junto com Adriano Martins, Orlando Araújo e Irmã Conceição Menezes realizou pela primeira vez, entre 1992 e 1993, a peregrinação da nascente à foz do rio.

 

O religioso – que também já realizou greve de fome para se opor à transposição das águas do Velho Chico – apontou que a peregrinação foi realizada com objetivos claros. "À época, quando ainda nem se falava em transposição, a iniciativa foi realizada com três objetivos. O primeiro foi encontrar com as comunidades e falar sobre a importância do Rio, o segundo foi conhecer de perto o projeto de morte instaurado ao São Francisco e o terceiro objetivo foi motivar o povo a lutar”.

 

O bispo acrescentou que após os 365 dias de peregrinação constatou uma verdadeira mudança no modo de conceber o rio e seu valor. "Mas, infelizmente, a oficialidade não assumiu essa postura. A população abraçou o rio. Surgiram lutas que seguem até hoje, adotou uma postura em favor da vida, mas não por parte da oficialidade”, lamentou.

 

A prova de que as autoridades federais não abraçaram a causa do rio foi o projeto de transposição. Iniciativa do Governo Federal sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional (MI), que quer transpor parte das águas do rio.

 

Movimentos como a Articulação Popular São Francisco Vivo são contrários a este projeto, pois acreditam que ele vai impulsionar a ‘indústria da seca’ e transformar a água em uma moeda de troca que, ao invés de ser utilizada por pequenos agricultores, vai beneficiar grandes proprietários de terra nordestinos.

 

 

 

Acredita-se que a obra será bastante benéfica para empresários da construção civil, da irrigação, da exportação de frutas, da carnicicultura (produção de camarão), do pólo siderúrgico-portuário do Pecém, em Fortaleza, no Ceará, e das monoculturas para a produção de biocombustíveis.

 

 

 

Apesar de ter iniciado e parado várias vezes a obra se encontra atualmente parada. Dom Luiz Cappio afirma que o que já foi construído está danificado e precisaria ser refeito para voltar a funcionar. O bispo não acredita que o projeto vá adiante.

 

Programação

 

A programação tem início às 13h, na Igreja São José, com uma coletiva de imprensa com Dom Luiz e integrantes da Articulação Popular São Francisco Vivo. Entre os temas a serem debatidos estão a luta pela revitalização do Rio, o polêmico processo de transposição de suas águas e os principais problemas vividos pelas comunidades próximas ao Rio e pelo ecossistema da região.

 

 

 

A coletiva será seguida por ato público nas escadarias da igreja. Serão realizadas apresentações culturais, exposições fotográficas com imagens lembrando os 20 anos de peregrinação e também falas, depoimentos e denúncias das comunidades ribeirinhas de toda a bacia, que vão mostrar os problemas vivenciados pelo Rio.

 

 

 

À noite, às 19, acontece o seminário O rio São Francisco nestes 20 anos pós-peregrinação, no auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (Av. João Pinheiro, nº 100, 2º Andar).

 

 

 

A programação continua de 11 a 13 com atividades em São Roque de Minas, onde fica localizada a nascente do Rio Francisco. Estão previstas exposições fotográficas, seminários, momentos de mística e celebrações eucarísticas que vão acontecer na Igreja São Roque de Minas (dia 11, às 19h) e na nascente do São Francisco (dia 12, às 5h da manhã). Também está previsto um momento de oração na Casca D’anta (dia 13, às 7h).

 

Peregrinação

A peregrinação da Nascente à Foz do rio São Francisco é considerada a maior mobilização ecológico-religiosa em defesa do Velho Chico. Aconteceu entreoutubro de 1992 e outubro de 93 e mobilizou 350 comunidades nos 2.863 km de percurso.

 

A peregrinação foi realizada para chamar atenção à situação de degradação em que o rio se encontrava e que hoje está bem pior, pois o Rio já perdeu 35% da sua vazão nos últimos 50 anos e sofre com a construção de empreendimentos que o tem maltratado ainda mais. Pesquisas da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) revelaram que a situação é ainda pior. A extinção da caatinga e do próprio rio podem se tornar realidade se a degradação continuar neste ritmo.

 

 

 

Depois desta surgiram muitas outras iniciativa, entre as quais plantio de árvores, preservação de nascentes e matas em propriedades particulares e comunitárias, mutirões de limpeza da margem do Rio, programas de educação ambiental, semanas ecológicas nas escolas e mutirões de arborização nas cidades.

 

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